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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 17 de junho de 2024 às 13h30.
Última atualização em 17 de junho de 2024 às 14h06.
A chegada do La Niña em julho no Brasil deve impactar as lavouras do Rio Grande do Sul a partir de outubro, prevê Jossana Cera, meteorologista, doutora em engenharia agrícola e consultora do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). O estado, responsável por cerca de 70% da produção nacional de arroz, foi afetado pelo fenômeno climático três vezes nos últimos quatro anos.
Na safra 2020/2021, o La Niña impulsionou a produtividade do Rio Grande do Sul, alcançando o recorde de 9.010 kg/hectare, segundo levantamento do Irga. No entanto, ainda é cedo para determinar se o retorno do fenômeno trará impactos positivos ou negativos desta vez.
"A gente costuma dizer que a cultura do arroz gosta de água no pé e sol na cabeça. É uma cultura extremamente dependente de um suprimento constante e abundante de água, e a diminuição das chuvas pode prejudicar a produtividade. Contudo, ainda não temos eventuais desdobramentos de forma tão prenunciada", diz Cera.
Durante os episódios de La Niña, o Rio Grande do Sul tende a experimentar uma redução nas precipitações, especialmente durante o verão, que coincide com a fase crítica de desenvolvimento do arroz. Com o início da semeadura previsto para setembro, os reservatórios de água atualmente estão com volume cheio.
Na última sexta-feira, 14, o Irga anunciou que a colheita de arroz no estado está praticamente encerrada, com um rendimento de 8.410,21 kg/hectare. Esse volume representa uma queda de 4,3% em comparação ao ciclo 2022/23.
Além disso, as enchentes recentes no estado resultaram na perda de 46.990,59 hectares, o que equivale a 5,22% da área plantada – as perdas ocorreram principalmente na região central do Rio Grande do Sul, segundo o Irga.
“Os dados trazidos no relatório superam inclusive, com pequena margem, as estimativas que tínhamos antes das enchentes", destacou em nota o secretário interino da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Márcio Madalena, na última sexta-feira, 14.
Em resposta às recentes enchentes no Rio Grande do Sul, o governo federal decidiu importar arroz para tentar conter possíveis aumentos de preços. A medida, no entanto, gerou insatisfação em diversos setores, incluindo o próprio Irga, que criticou a ação do Executivo.
“Os dados dessa safra comprovam o que Irga já vem manifestando, desde o início de maio, que a safra gaúcha de arroz, dentro da sua fatia de produção no mercado brasileiro, garante o abastecimento do país e não há, tecnicamente, justificativa para a importação de arroz no Brasil”, disse também na sexta-feira, 14, Rodrigo Machado, presidente do órgão.
Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) cancelou o leilão para a compra de arroz importado. Além do cancelamento, o então secretário de Agricultura, Neri Geller, deixou o cargo em meio à polêmica em torno do certame.