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'Ficou pior para nós', diz setor de café brasileiro sobre isenção de Trump

Na sexta-feira, 14, Trump divulgou uma ordem executiva retirando as tarifas recíprocas implementadas em abril deste ano

Café nos EUA: A média do preço de varejo para o café moído atingiu US$ 8,41 por libra (R$ 45,50) (Freepik)

Café nos EUA: A média do preço de varejo para o café moído atingiu US$ 8,41 por libra (R$ 45,50) (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 12h32.

Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 12h34.

O setor de café brasileiro afirma que a retirada das tarifas recíprocas, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sexta-feira, 14, agravou a situação do segmento. Isso porque países concorrentes do Brasil, como Colômbia e Honduras, ficaram isentos ou passaram a pagar taxas menores. A expectativa é que isso aumente a participação do café desses países no blend das bebidas consumidas nos EUA.

Segundo Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a manutenção da tarifa de 40% sobre o café brasileiro pode ser irreversível para a indústria.

“Não importa só o valor da tarifa, mas sim a diferença entre as taxas aplicadas aos nossos concorrentes. É esse diferencial que determina a competitividade. E essa distância aumentou, o que piorou nossa situação. O norte-americano não deixou de tomar café — apenas passará a consumir mais dos países que ficaram relativamente mais competitivos”, disse Matos.

Na sexta-feira, 14, Trump divulgou uma ordem executiva retirando as tarifas recíprocas implementadas em abril deste ano. A expectativa do republicano é de que a retirada das taxas diminua a inflação de alimentos nos EUA. O decreto, porém, não removeu a sobretaxa de 40% anunciada em julho.

Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share no mercado americano, segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA. O país é o principal fornecedor do grão — especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café importado pelos EUA era arábica.

No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, o que correspondeu a cerca de US$ 2 bilhões em receita.

De acordo com Matos, o Brasil já vinha perdendo espaço no blend das principais marcas. “Agora vai perder ainda mais, porque se aprofundou o problema da competitividade. Piorou — e muito”, afirmou.

“Nossos importadores estão fechando contratos com os nossos concorrentes, e contratos de longo prazo. O consumidor dos EUA vai se adaptando a outros parâmetros sensoriais e, depois, pode ser difícil recuperar esses espaços. Cada dia que passa é um drama — e esse drama pode se tornar um prejuízo irrecuperável”, disse.

O setor de café brasileiro

De agosto a outubro deste ano, as exportações de café do Brasil para os EUA caíram 51,5% em comparação ao mesmo período de 2024, para 984 mil sacas de café.

Apesar do recuo nos últimos três meses, os EUA permanecem como o maior importador de café brasileiro no acumulado dos 10 primeiros meses de 2025, com 4,711 milhões de sacas. O volume representa uma queda de 28,1% em relação ao mesmo período de 2024, e corresponde a 14% dos embarques totais deste ano, mostram dados do Cecafé.

Para Luiz Fernando dos Reis, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, a ordem executiva de Trump não deve reduzir a inflação nos Estados Unidos e ainda dificulta a realização de novos negócios entre os países.

"O Brasil continua com o problema. Também não há grande redução de custos para as indústrias americanas. O problema pode ser muito sério a médio e longo prazo, e a conta pode ficar muito pesada", diz.

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