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(CNA/Senar/Divulgação)
Repórter freelancer de Agro
Publicado em 11 de agosto de 2023 às 09h08.
Última atualização em 11 de agosto de 2023 às 11h42.
A área plantada de feijão no país chegou ao menor tamanho dos últimos 10 anos, segundo o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Para a safra 2022/23, considerando as variedades preto, caupi e carioca, serão 2.711,9 hectares. Na temporada de 2012/13, eram 3.075,3 hectares.
Se avaliado só o feijão carioca, consumido majoritariamente nas regiões Sudeste e Sul do país, a área sofreu redução considerável em poucos anos. Atualmente, são apenas 695.000 hectares em todo o país, visto que em 2017 o tamanho de espaço para plantio chegou a 908.000 hectares.
Embora a redução de área seja expressiva, a produção atende ao mercado internado. Questionado sobre uma possível falta de feijão no mercado, decorrente de menos lavouras, Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, afirma que “o pior momento do ano já passou — no primeiro semestre — e não irá faltar o produto”.
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Para além da diminuição de área, outro fator que tem preocupado o setor, desde o produtor até a indústria, é a queda no consumo diário da população.
O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo de feijão mostra que, em 15 anos, a quantidade média anual consumida per capita caiu 52%.
Embora defasada, a Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) aponta que o consumo variou de 12,394 kg, na edição 2002/2003 da pesquisa, para 5,908 kg em 2017/2018.
Segundo estudo publicado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), até 2025 o alimento deixará de ser consumido regularmente, entre cinco e sete dias na semana.
Mesmo com a redução de área, a produção nacional de feijão na safra 2022/2023 deverá ser mantida em torno de 3 milhões de toneladas, conforme previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com isso, não é a baixa produtividade que espanta os produtores da atividade, mas sim fatores climáticos, condições de produção e preço pago ao feijicultor.
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Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, atribuiu à insegurança para comercialização o principal motivo de os produtores diminuírem as áreas de plantio. Para se ter ideia, o levantamento anual de intenção de plantio da Datagro Grãos aponta que pelo 17º ano consecutivo, a soja teve aumento na área de plantio.
“Commodities como soja e milho são precificadas antes do plantio e acabam por trazer maior segurança ao produtor”, afirma Lüders.
De acordo com dados do Ibrafe, o preço pago pela saca de 60 quilos de feijão carioca está atualmente entre 210 e 220 reais, valor bem menor em relação ao de abril, que chegou a R$ 399,00. Já para o consumidor final, o quilo oscila entre R$ 5 e R$ 10 nas gôndolas dos supermercados.
Os custos de produção de feijões irrigados variam muito de acordo com diferentes fatores, como o tipo de financiamento para a safra, o preço dos insumos, a estrutura de pessoal da propriedade e a produtividade. Nesse cenário, entre R$ 200 e R$ 220, de acordo com o Ibrafe, alguns produtores conseguem ter margens positivas, enquanto outros sofrem prejuízos.
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Embora a queda no preço pago tenha impactado o setor, Marcelo Lüders considera os preços estáveis “momentaneamente”. O mercado voltou a manter a estabilidade de preços pagos aos produtores nas fontes de Goiás e Minas Gerais, com indicações de maior procura, tanto lá como no estado de São Paulo, por parte dos empacotadores.
Isso ocorre porque se de um lado há quem precise vender por ter vencimentos inadiáveis para o mês de agosto, há também um grande contingente de produtores que estão dispostos a esperar.
Ainda assim, diz o presidente do Ibrafe, no segundo semestre será colhido um volume bastante concentrado de feijão carioca, aumentando a oferta no mercado. Segundo ele, os meses de agosto e setembro terão os "preços mais baixos no ano, seguramente”.
De acordo com o Ibrafe, com o passar do tempo, a indústria que beneficia e empacota o feijão está cada vez mais pressionada. Tanto pelos produtores mais organizados, que demandam previsibilidade de consumo, quanto pelo varejo menos flexível quanto à qualidade do que vem do campo.
Prova disso, afirma Lüders, é a quantidade de marcas que desapareceram nos últimos três anos, “um dos mais difíceis para o elo da cadeia produtiva”.
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Segundo ele, de maneira geral, é preciso olhar para outras cadeias produtivas como a do café, arroz e vinho, em que produtos de consumo popular conseguiram criar alternativas "gourmetizadas" ou com rastreabilidade para atender parte da população brasileira que demanda por produtos diferenciados. “É nesta direção que está a próxima evolução da cadeia produtiva do feijão”, diz.