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Brasil possui mais de 10 variedades de feijão, incluindo carioca, preto, fradinho, rajado e outros (Wenderson Araujo/Trilux/Sistema Senar-CNA/Reprodução)
Repórter de Agro
Publicado em 6 de janeiro de 2024 às 06h06.
Embora seja um item essencial na cesta básica, o feijão vive anos consecutivos de redução de área plantada e queda na produtividade. Em 2024, a situação deve se agravar ainda mais por causa do clima. Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), estima que 25% da produção da primeira safra seja perdida no primeiro trimestre.
A primeira safra considera o plantio entre agosto e novembro e a colheita entre dezembro e março. O excesso de chuvas no Sul e a seca em regiões produtoras de Minas Gerais e Goiás nos meses de desenvolvimento da planta acenderam o sinal de alerta sobre a disponibilidade do alimento.
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“Devemos colher 750 mil toneladas, sendo que a demanda é de 875 mil. Não há feijão suficiente para atender a demanda normal”, afirma Lüders. Em 2022/2023, o Brasil colheu 805 mil toneladas de feijão, ou seja, o país que já vem de um histórico de baixo estoque do alimento. Diante da quebra de safra terá redução no volume colhido e isso deve comprometer o montante oferecido à população. A consequência é a alta nos preços.
“Esta deve ser a menor colheita de feijão de todos os tempos, na primeira safra. Em fevereiro, março e abril devemos ter impacto nos preços, talvez numa proporção que a gente nunca viu. A estimativa é que passe de R$ 10 o quilo e em algumas regiões possa a chegar a R$ 15”, afirma.
De acordo com a Conab, a primeira safra de feijão foi plantada em 858 mil hectares, mesma área que a safra passada, considerando todas as variedades. O tamanho é 19% inferior ao registrado há cinco anos.
A estimativa é que o Brasil consuma entre 170 e 175 mil toneladas por mês, o que representaria algo em torno de 13 quilos per capita ao ano. Destes 13 quilos, Lüders pondera que está calculado o estoque para abastecer o varejo, a quantidade armazenada nos lares e há um percentual de perda do grão.
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“Estamos oferecendo menos de 12 kg por habitante. Estamos produzindo menos e não tem sobrado feijão”, afirma o presidente do Ibrafe.
Nesta semana, a saca de feijão-carioca chegou a US$ 70, o que significa uma alta de 80% desde agosto. Mesmo que este seja um incentivo para a venda de quem tem estoque, Lüders conta que os produtores prefeririam colher em maior volume e preços mais modestos.
“A alta nos preços não é especulação do produtor que espera para vender depois, mas sim produção menor. É importante que indústria e consumidor entendam”, diz.
A baixa produção não compromete apenas o mercado interno, mas também desperdiça oportunidades de comércio internacional. Marcelo Lüders conta que a China pediu para o Brasil estabelecer um acordo fitossanitário para receber o feijão, mas no momento não há como avançar nas negociações.
Ele recorda que, em 2016, houve uma crise por causa do El Niño e o Brasil importou feijão da China. Anos depois, o país asiático decidiu interromper o plantio para se dedicar à soja. “Agora, tanto querem importar, que bateram na porta do Ministério da Agricultura pedindo feijão”, diz.
O México é outro exemplo. Anteriormente atendido apenas pelos Estados Unidos, o aumento do interesse da população pelo alimento fez com que o governo mexicano retirasse as restrições de comércio ao Brasil. Lüders conta que Cuba e Índia também demonstraram aptidão à compra do feijão brasileiro.
“Então, a gente pode investir em produzir mais e gerar excedentes para ser exportado”, afirma. A oportunidade de mercado está em variedades como rajado, fradinho e vermelho, pois o carioca só é produzido no Brasil e por questões culturais não tem receptividade pelo mercado internacional.