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COP30: Plano Clima é um guia para as ações de enfrentamento à mudança do clima no Brasil (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 17h25.
BELÉM — PARÁ — A falta de consenso entre setores do agronegócio brasileiro é o que deve adiar o anúncio do Plano Clima na 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30). Segundo fontes que acompanham as negociações, o impasse está relacionado às questões sobre as emissões provenientes do uso da terra e ao desmatamento ilegal.
Um interlocutor que acompanha os desdobramentos disse à EXAME que o eixo do Plano Clima relacionado à adaptação está finalizado e aguarda apenas a validação do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). No entanto, o mesmo não pode ser dito sobre a parte referente à Mitigação.
Anunciado neste ano, o Plano Clima é um guia para as ações de enfrentamento à mudança do clima no Brasil até 2035, e a proposta se baseia em dois pilares. O primeiro é voltado à mitigação, ou seja, à redução das emissões de gases de efeito estufa, cuja alta concentração na atmosfera contribui para o aquecimento global. O segundo trata da adaptação dos sistemas naturais e humanos aos impactos da mudança do clima.
“Na parte de Mitigação, estão finalizados cinco planos setoriais, mas os relacionados ao uso da terra ainda estão pendentes. Em função desses dois fatores, não está previsto nenhum lançamento oficial na COP”, afirmou a fonte.
O objetivo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era que esse conjunto fosse uma das principais entregas do Brasil na COP30. No entanto, faltando poucas horas para o evento terminar, o impasse torna esse objetivo quase inviável, sem previsão de quando a conferência será encerrada.
O documento precisa ser, primeiro, aprovado em uma reunião do subcomitê técnico, para depois ser submetido ao CIM. O plano é composto por mais de 20 documentos com diretrizes para a redução das emissões de carbono, organizados por diferentes áreas.
A expectativa de ambientalistas e até mesmo de membros do governo era de que o Plano Clima fosse anunciado ao final da COP30. Contudo, diante da falta de acordo entre as partes, a agenda não avançou.
Ao longo desta semana, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, defendeu o adiamento do anúncio do Plano Clima na COP30. Segundo ele, o setor produtivo e o governo estão próximos de um entendimento sobre a medida e não faz sentido pressionar por uma "resposta abrupta".
Para Roberto Rodrigues, enviado especial da COP para a Agricultura, a proposta não precisa ser apresentada durante a conferência climática. Na opinião dele, não faz sentido anunciar um plano antes de ele estar totalmente alinhado entre os setores.
“Se ele não for anunciado hoje ou amanhã, isso não tem a menor importância. O que realmente importa é que todos os setores sejam tratados de igual para igual e que se chegue a um consenso”, afirma.
Segundo o enviado especial, ainda há vários pontos a serem discutidos, incluindo a questão do desmatamento ilegal. Na avaliação de Rodrigues, o desmatamento não pode ser atribuído exclusivamente ao produtor rural.
“São temas financeiros e políticos que precisam de uma solução. Onde está o financiamento para pararmos o desmatamento? Como será feito o pagamento por serviços ambientais? Como funcionará o mercado de carbono? Todos esses temas interferem diretamente no plano clima”, diz.
Além do Plano Clima, a ausência de um roteiro para o fim do uso de combustíveis fósseis no rascunho do documento final da COP30 preocupa os cientistas. Na avaliação de Carlos Nobre, líder do Pavilhão Científico, falta adesão dos principais países produtores de petróleo para que a agenda avance.
“Não foi uma surpresa, porque isso já vinha sendo muito negociado e muitos países produtores de petróleo não estavam dispostos a assumir um compromisso de acelerar ou zerar o uso de combustíveis fósseis. Esse debate acontece desde o primeiro dia aqui”, afirmou Nobre em entrevista exclusiva à EXAME.
Segundo o cientista, ao deixar o tema de fora do Mapa do Caminho — o conjunto de ações que define etapas, prazos e metas concretas para atingir um objetivo comum — o documento se mostra incoerente com as discussões e evidências apresentadas durante a conferência.
As críticas de Nobre somam-se às manifestações de diversos ambientalistas. A nova versão do rascunho do documento final, divulgada na madrugada desta sexta-feira, 21, foi duramente criticada por cientistas, que a classificaram como “o maior risco que o planeta já viveu” e uma “traição à ciência e às pessoas”.