Apoio:
Eduardo Leão, novo presidente da CropLife
Repórter de Agro
Publicado em 27 de setembro de 2023 às 18h09.
Última atualização em 27 de setembro de 2023 às 19h35.
Nesta quarta-feira, 27, a discussão sobre o projeto de lei 1.459/2022 – conhecido como PL dos Agrotóxicos – foi postergada na Comissão do Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal. A senadora Leila Barros, presidente da CMA, pediu por “responsabilidade coletiva” no momento de discutir as modificações nas regras de aprovação e comercialização dos pesticidas. De um lado ruralistas, de outro ambientalistas. É neste contexto que Eduardo Leão assume a presidência da CropLife, entidade que congrega a indústria de defensivos químicos e biológicos.
Os senadores ruralistas defendem modernização dos produtos em utilização no mercado e maior agilidade na aprovação de novas moléculas. Já os ambientalistas questionam a possível flexibilização dos agrotóxicos a partir da liberação mais rápida de novos produtos. Outro ponto que divide opiniões é sobre a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em caráter consultivo e a aprovação automática do produto, caso a análise ultrapasse o período de dois anos.
Leia também: Para 2024, Conab projeta recorde na produção de carnes e segunda maior safra de grãos da história
Nem ao céu, nem à terra. Entre tantos desafios setoriais, da agenda climática à resistência de pragas na agricultura, Eduardo Leão acredita que seu papel na CropLife seja contribuir com as relações governamentais para chegar a um consenso entre setores – respaldado, inclusive, pela expansão dos produtos biológicos.
Engenheiro agronômico formado pela Esalq-USP, ele acumula experiências na Federação de Agricultura de São Paulo, em políticas agrícolas no Ministério da Fazenda, no Banco Mundial e nos últimos 15 anos esteve como diretor executivo na União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). “Experiências distintas para ajudar na dinâmica da cadeia produtiva”, ele resume.
Você assume a CropLife com qual leitura sobre o mercado de defensivos?
Hoje a gente tem desafios muito importantes. Estamos num momento de discussão dentro do Congresso da regulação de dois setores. Por um lado, a modernização dos sistemas de registro de tudo que envolve defensivos, por outro, o PL que fala da regulamentação dos bioinsumos. E devemos ainda retomar a lei de proteção de cultivares, então temos desafios que envolvem o futuro do setor.
Leia também: Custo alto e falta de crédito travam investimento em armazenagem no Brasil, revela pesquisa
Assim como o remédio, que tende a ser mais assertivo e seletivo, funciona também o setor de defensivos. A condição para avançar nas novas moléculas é que sejam mais sustentáveis, tenham menos impacto sobre os inimigos naturais. Então, se aprovando a nova regulamentação para mais agilidade vai implicar num novo ciclo positivo para indústria, meio ambiente e agricultura.
Uma das principais discussões é sobre o tempo de aprovação dos produtos químicos, que, muitas vezes pela demora, não acompanham a necessidade da agricultura aqui.
O Brasil está levando de 7 a 8 anos para aprovar uma nova molécula, em outros países o tempo médio é de 2 a 4 anos. Argentina aprova em um ano, EUA em média dois anos e a Europa aprova em três anos. Quer dizer, a maior parte dos países produtores e exportadores agrícolas levam menos da metade do tempo médio do Brasil e isso tem um impacto importante.
Há uma preocupação geral da sociedade, se isso vai afrouxar a análise desses produtos, seja do ponto de vista de eficiência agronômica, impactos ambientais ou saúde pública. Não há em nenhum momento qualquer afrouxamento sob essa ótica, ou seja, continuam três órgãos envolvidos, Mapa, Ibama e Anvisa.
Leia também: Exclusivo: Cláudio Zattar, CEO do Grupo Unidas, quer dobrar com terceirização de frotas no campo
Enquanto isso, os produtos biológicos levam em média dois anos aqui, correto? Essa é uma das razões do crescimento do setor?
O setor de biológicos está crescendo bastante, faturou R$ 3,3 bilhões no ano passado, com expectativa de crescimento até o fim da década de R$ 17 bilhões. De 2018 a 2022, houve crescimento de mais de 60%, bem a frente do que o mundo está crescendo. Essa, seguramente, é uma demanda fortíssima, mas boa parte do marco regulatório dos biológicos ainda está sob a égide dos defensivos e também precisamos avançar nessa discussão.
É uma demanda de quem, da própria indústria química que está sob a CropLife? Hoje vocês representam quantas empresas?
O custo para desenvolver uma molécula é de 250 a 300 milhões de dólares, uma única molécula. O avanço da nova regulamentação ajuda a nortear investimentos. Temos um processo importante de discussão sobre o ambiente institucional no qual as empresas estão inseridas. Nossos competidores acabam tendo acesso mais rápido a produtos mais novos, eficientes, ambientalmente sustentáveis.
Hoje, a CropLife tem 55 empresas associadas, desde grandes até startups. Estamos nos equiparando ao que o resto do mundo faz. Conjunto de tecnologias, defensivos, biotecnologia, sementes melhoradas, ou seja, um conjunto de tecnologias que ficam à disposição do produtor cada vez mais. A questão é criar processos mais claros, eficientes e que deem mais previsibilidade para o investidor que investe em tecnologia eficientes, mas que requer previsibilidade para que garanta o mínimo de retorno.
Leia também: Em busca do primeiro unicórnio do agro, Basf investe em ecossistema de inovação
Você fica em Brasília e tem essa circulação entre vários setores do agro. Acredita que a sua bagagem profissional vá contribuir para a articulação de tantos temas simultâneos?
Acho que experiência em entidade de classe foi uma questão relevante, de entender como funcionam os processos decisórios dentro de uma entidade como a CropLife. Saí de uma experiencia na Única de 15 anos, resolvi encarar esse desafio, porque eu acredito que é uma agenda positiva. Traz produtividade, renda para os produtores e o país, e é uma agenda de meio ambiente, que promove a sustentabilidade, evita a abertura de novas áreas e contribui para a redução do preço de alimentos.