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Exclusivo: Cláudio Zattar, CEO do Grupo Unidas, quer dobrar com terceirização de frotas no campo

Segundo ele, enquanto o mercado de locação na Europa e Estados Unidos representa mais de 20% das frotas, no Brasil é menos de 1%

Cláudio Zattar, CEO do Grupo Unidas

Cláudio Zattar, CEO do Grupo Unidas

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 14 de setembro de 2023 às 08h00.

Os anos 70 marcaram o início da pujança brasileira no plantio de grãos e no fomento à cana-de-açúcar. Na área logística, então, passaram a ser necessárias operações de transporte entre fazendas, indústrias e usinas. Foi nesta época que surgiu a Ouro Verde, fundida ao Grupo Unidas, em 2019. Quem conta a história é Cláudio Zattar, CEO da companhia, após assumir a empresa que já tinha atuação no campo.  

Encantado pelo setor de caminhões e com uma carreira consolidada em locação — após sete anos como executivo da concorrente Localiza —, Zattar enxerga que o modelo de negócio de terceirização, da frota às operações, tende a ganhar escala no agronegócio, por isso aposta na vertical da Unidas Frotas. Segundo ele, enquanto o mercado de locação na Europa e Estados Unidos representa mais de 20% das frotas, no Brasil é menos de 1% — tanto em veículos leves quanto pesados, como caminhões, tratores e linha amarela para construção.   

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Zattar quer mudar esta realidade. Para isso, se aproxima para entender diferentes cadeias produtivas do setor e as respectivas particularidades dentro e fora da porteira. Desde então, a Unidas investiu em caminhões, ampliou a atuação na cana-de-açúcar e entrou para as fazendas de eucalipto. Além de empresas como Suzano e Raízen, a Unidas já tem frotas de picapes na Amaggi e atua no transporte de frutas da Agrícola Famosa, entre o Vale do Rio São Francisco e o Espírito Santo.

Até o segmento de irrigação está nos planos do CEO, cuja entrevista completa está a seguir. 

De onde surgiu a relação entre Unidas e agronegócio? 

Naquela época dos anos 70, os grãos eram chamados de ouro verde, por causa do alto valor de exportação. Em 1973, no Paraná, nascia a Ouro Verde, dedicada à locação de carros no estado. Ali na região, foram percebendo que os grãos que chegavam no Porto de Paranaguá saíam da Bahia. Apareceu a oportunidade de fazer esse transporte de cargas na região de Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães até o Paraná. Além da soja, a empresa viveu o momento do Proálcool, programa de incentivo do governo para a cana-de-açúcar, lá em 1975. Com tudo isso, a maior movimentação de caminhões para transbordo e logística dentro das fazendas acendeu a oportunidade de a Ouro Verde operacionalizar este transporte interno. A empresa começou a se especializar em fazer o transporte de transbordo da cana e os reboques entre plantação, colheita, usina. Nesta época, vieram alguns grandes players, como o Júlio Simões, que hoje é a JSL. A Ouro Verde foi ampliando, virou de locadora de leves para uma transportadora de pesados, dominante no mercado de cana-de-açúcar. Com o fim do subsídio do Proálcool, houve uma retirada de dinheiro de caixa dos produtores e muitos não honraram os compromissos, deixando uma conta pesada para a Ouro Verde. Em 2014/15, ela tentou buscar sócios para se capitalizar e, depois de algumas tentativas, a Unidas assumiu em julho de 2019. O faturamento da Ouro Verde era 65% em veículos pesados e 35% leves. Então, a ideia é continuar crescendo nos dois segmentos. 

Da cana-de-açúcar, vocês passaram a atuar com o segmento de florestas no ano passado. O que despertou esse interesse? 

A BPBunge, Raízen, e outros players desse setor sucroenergético sempre tiveram locação bem significativa, sendo um setor com empresas que concentram grandes áreas. Começamos a perceber a dinâmica de outros ramos dentro do agronegócio e, em 2020, o plano foi entrar em outros segmentos, para diversificar. Iniciamos em florestal e mineração rodoviária.  

Quando acaba a safra da cana, de dois ou três meses em que eu coloco todos os nossos equipamentos para fazer manutenção, e os motoristas fazem curso de reciclagem e aperfeiçoamento segurança. Quando você contrata uma operação de cinco anos, o cliente paga em época de safra ou não, ou seja, durante o período de entressafra ele tem ainda um custo fixo. No segmento florestal, a frota precisa estar pronta 365 dias por ano, não existe safra. É uma novidade para a gente, que entrou no ramo no ano passado. Estamos com uma operação grande com a Suzano, em Imperatriz, no Maranhão, e agora em setembro inauguramos atividade com eles em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Temos hoje seis operações entre cana a florestal espalhadas entre São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Maranhão. São três de usinas da Atvos e uma da BPBunge, e duas operações de Suzano.

Crescer no segmento de grãos é mais desafiador? 

Os produtores de grãos têm um apego pela propriedade, querem ser donos das máquinas, de toda a infraestrutura. Há uma certa falta de confiança não apenas na locação, mas em deixar algumas operações, como o transporte, na mão de alguém de fora. Hoje, o empresário de grãos ainda prefere renovar o equipamento com o plano que governo sempre lança [Moderfrota, do Plano Safra]. Mas, de qualquer maneira, o que nos empolga é ver a penetração da locação aumentando muito no setor florestal e na cana, porque cada vez mais a gente vê o mercado mais concentrado nas mãos de empresas sólidas com capacidade de pagamento. 

Temos algumas áreas com a Amaggi, com locação de picapes 4x4, carros para o dia a dia, mas ainda há como crescer. Adoraríamos ter a Amaggi como uma grande cliente, inclusive tratores e outros equipamentos, por que não? 

Operação de caminhões da Unidas Frotas em usina sucroenergética (Unidas/Divulgação)

Não estamos falando apenas de locação, então, mas de terceirizar a operação. Qual o modelo de atuação da Unidas Frotas? 

Nós temos três modalidades. Atuamos com a locação em que o cliente se encarrega da mão de obra e da manutenção do equipamento, e no final do contrato ele nos devolve ou renovamos. Nós temos locação com manutenção, ou seja, tem a nossa mão de obra, a gente mobiliza uma pessoa para cuidar de toda a manutenção do equipamento dentro das propriedades. E temos a operação full, a gente loca, cuida da manutenção e faz a operação direta dos caminhões ou máquinas conforme for cada contrato. Hoje temos bons exemplos, tanto locação com manutenção quanto operação.  

A gente loca leves e pesados, por assinatura, semanal, mensal, anual e terceiriza frotas por dois, três, quatro anos, longo prazo. Dentro do grupo, eu tenho uma empresa que compra os caminhões também, porque esse é um dos pontos mais críticos desse business. Se você não souber vender bem esse ativo, vai ter uma depreciação gigante e você não capta bem, então a gente também compra e vende o ativo para tentar facilitar a decisão do cliente.  

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Estamos falando de um crescimento da Unidas Frotas de 75% em receita no primeiro trimestre desse ano em relação a 2022, e lucro de 42 milhões de reais no mesmo período. É sinal de que há espaço para crescer?

A penetração do mercado de locação de carros, equipamentos, caminhões, linha amarela, nos Estados Unidos, é de cerca de 23%. Na Europa, parece que é 28% do total de frota de carros. Aqui é menos de 1%, então a gente vê que no Brasil ainda há uma mentalidade diferente, é uma barreira cultural. Nós estamos crescendo e isso vai dobrar, porque estamos acelerando com florestal, além da cana. A frota de veículos pesados é de 10.867 ativos. A maior dificuldade é a falta de mão-de-obra para contratar motorista. Em Três Lagoas (MS), ficamos 60 dias buscando gente nas vizinhanças, mudando inclusive o perfil salarial para atrair motoristas qualificados. Nessa região de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Centro-Oeste em geral, os profissionais estão trabalhando com os grãos, são atraídos para outras operações. 

Quanto a locação representa de economia para o produtor? Por que pode ser mais vantajoso em relação à compra? 

É complicado generalizar, porque depende da situação de cada empresário rural, mas fala-se de a locação ser 22% mais barato neste segmento dos pesados. Virou um custo controlado, uma prestação que se paga ao longo de cinco ou seis anos, e não tem correção como banco. O produtor fica aliviado, porque não tem que buscar crédito para  uma atividade que não é o seu business. Na realidade, ele vai transportar de ponto A para ponto B, e muitas vezes transformar em passivo algo que pouco usou.

Esse gelo começa a se quebrar entre os produtores, quando eles começam a ver as grandes empresas usando a terceirização, quando começam a ver isso em uma escala razoável. É lógico que temos cuidado, porque o caixa do pequeno e médio é diferente, então fazemos uma análise de crédito, para garantir o fôlego no decorrer das safras.  

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O que mais passa na mente do senhor quando mira as oportunidades de mercado? 

Não posso falar tudo, há informações estratégicas, mas a gente enxerga muita oportunidade nos equipamentos ligados ao campo, em todas as atividades, até irrigação. Outra opção é olhar as diferentes cadeias, entender a oportunidade de entrada. Temos uma operação de locação de tratores John Deere na Agrícola Famosa, os maiores produtores de melão no mundo, desde o Vale do São Francisco até o Espírito Santo. É mais um exemplo de onde podemos atuar, seja com a frota de leves para resolver tarefas simples da fazenda, até tratores e operações complexas.

 

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