Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia: o etanol de milho ganha protagonismo com crescimento da oferta (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 06h30.
O etanol tem um "papel central" na transição energética do Brasil, e o avanço deste combustível deve seguir em várias frentes, inclusive como fonte para combustível de aviação, afirma Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia.
"Dentro desse contexto, o etanol de milho tem ganhado protagonismo com o crescimento da sua oferta (20% ao ano) e é, sem dúvida, um vetor complementar à produção a partir da cana-de-açúcar, ampliando a oferta de biocombustível ao longo de todo o ano, contribuindo para a estabilidade de preços e para a segurança no abastecimento.
A edição mais recente da revista EXAME conta a história da Inpasa, empresa que atingiu faturamento de R$ 15 bilhões anuais ao investir em etanol de milho. Na entrevista, Silveira fala ainda sobre os impactos dos novos combustíveis para diversos setores da economia e a possibilidade de o Brasil se tornar um grande exportador.
Qual será o papel do etanol, e especialmente do etanol de milho, na transição energética e no avanço da agroindústria no Brasil?
O etanol desempenha um papel central na transição energética brasileira ao oferecer uma alternativa renovável e de baixa intensidade de carbono aos combustíveis fósseis para veículos leves, que hoje ainda respondem por parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa. Dentro desse contexto, o etanol de milho tem ganhado protagonismo com o crescimento da sua oferta (20% ao ano) e é, sem dúvida, um vetor complementar à produção a partir da cana-de-açúcar, ampliando a oferta de biocombustível ao longo de todo o ano, contribuindo para a estabilidade de preços e para a segurança no abastecimento.
Recentemente, nosso etanol de milho foi destaque mundial, sendo reconhecido pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) como fonte para produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), o que pode inserir o nosso país com mais força no mercado global de soluções de baixo carbono. Na nossa matriz energética brasileira, o etanol de milho é protagonista, sendo responsável por cerca de 20% da produção total de etanol, com expectativa de atingir 23% em 2025.
E todo esse aproveitamento é realizado integrando a produção de combustíveis e de alimentos, fortalecendo a nossa agroindústria e viabilizando o aproveitamento de subprodutos de alto valor agregado. Com investimentos crescentes no Centro-Oeste e em outras regiões agrícolas, o fortalecimento dessa cadeia representa mais diversificação econômica, geração de empregos qualificados, atração de tecnologia e desenvolvimento regional sustentável, posicionando o Brasil como uma liderança global na bioeconomia e na transição energética baseada em soluções compatíveis com sua vocação agroindustrial, em inclusão social e melhoria de vida para a população.
Como o avanço da mistura de etanol e biodiesel na gasolina e diesel, respectivamente, poderão ajudar essas indústrias a avançarem?
Costumo dizer que os benefícios dos novos percentuais de etanol na gasolina e biodiesel no diesel ultrapassam o setor. Ganha a população com gasolina e diesel mais baratos, ganha o país, com a nossa soberania energética, autossuficiência em gasolina pela primeira vez em 15 anos, reduzindo a necessidade de importarmos diesel.
Ganha o agronegócio e a agricultura familiar, que serão fortalecidos com mais produção no campo, especialmente em áreas degradadas ou ociosas. Só com o B15, estimamos mais cinco mil famílias da agricultura familiar integradas ao Programa Selo Biocombustível Social, com impacto previsto de R$ 600 milhões na renda dessas famílias. Sem contar os mais de quatro mil novos empregos diretos e indiretos gerados, principalmente nas etapas de esmagamento e refino de óleo de soja.
A adoção do E30 impulsiona diretamente o setor produtor de etanol, em especial as usinas dedicadas ao etanol de milho, que têm ganhado relevância no Centro-Oeste brasileiro. Ao aumentar de forma permanente e previsível a demanda por etanol anidro, o E30 proporciona um sinal claro ao mercado, estimulando novos investimentos, expansão de capacidade e verticalização produtiva nas usinas, além de gerar emprego, renda e desenvolvimento regional com maior aproveitamento de resíduos agrícolas, como o DDG e a cogeração de energia a partir de biomassa.
Não podemos esquecer dos avanços ambientais – com a redução das emissões de gases de efeito estufa e fortalecimento da descarbonização do transporte pesado – e também regulatórios. No caso do biodiesel, a elevação da mistura obrigatória de 14% para 15% (B15), aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), representa um impulso decisivo para a retomada da trajetória legal estabelecida pela Lei do Combustível do Futuro. Essa medida fortalece a previsibilidade regulatória e contribui diretamente para a expansão da indústria, ao criar um ambiente mais seguro para novos investimentos e geração de empregos.
Biorrefinaria da Inpasa: novas oportunidades na exportação de etanol (Leandro Fonseca /Exame)
O Brasil poderá ser um grande exportador de etanol e biodiesel no futuro? Ou o foco nos próximos anos será atender prioritariamente o mercado nacional?
O Brasil sempre exportou volumes significativos de etanol. Temos um mercado competitivo e uma grande atuação na cooperação internacional para abrir novos mercados para o etanol, como ocorre com a Índia, que está promovendo o uso do etanol em teores de mistura elevados. Também fazemos parte da Global Biofuels Alliance, iniciativa que multilateral que reúne 32 países e 14 organizações internacionais, que tem fortalecido essa cooperação internacional, harmonizando padrões de sustentabilidade e acelerando o uso de biocombustíveis como solução para a descarbonização do setor de transportes.
Neste esforço global, lideramos pelo exemplo, com políticas públicas consolidadas na área de biocombustíveis, como o RenovaBio e o etanol de cana-de-açúcar com baixa intensidade de carbono, e contribuindo tecnicamente para a disseminação de modelos sustentáveis e replicáveis de produção e uso de bioenergia, especialmente entre os países em desenvolvimento. Aliado a isso, temos uma capacidade instalada de produção de biodiesel superior à demanda atual, o que significa que há capacidade ociosa nas usinas. Esse cenário abre espaço para que uma parte da produção possa, sim, ser destinada ao mercado externo, especialmente considerando o crescente interesse internacional por combustíveis sustentáveis de baixo carbono.
No entanto, o nosso foco tem sido atender prioritariamente o mercado nacional, especialmente diante da retomada do cronograma legal de aumento da mistura obrigatória do biodiesel no diesel, conforme estabelece a Lei do Combustível do Futuro. Até março de 2030, chegaremos até o B20, o que exigirá aumento gradual da oferta interna de biodiesel para garantir previsibilidade e segurança no abastecimento. Portanto, embora haja espaço técnico para exportações pontuais, a prioridade da política energética nacional é garantir o abastecimento interno, estimular investimentos, gerar empregos e fortalecer a inclusão da agricultura familiar por meio do Selo Biocombustível Social. A consolidação desse mercado doméstico será fundamental para, no futuro, ampliar com segurança a presença do biodiesel brasileiro no mercado internacional.
Além da Lei do Combustível do Futuro, quais são as outras estratégias do governo federal para avançar a produção dos biocombustíveis no Brasil?
Além dos avanços na regulamentação da Lei do Combustível do Futuro, resgatamos e temos trabalhado para modernizar o Renovabio, o maior programa de descarbonização do setor de transportes do mundo. O nosso trabalho é para que esta importante inciativa estimule cada vez mais a produção eficiente de biocombustíveis por meio dos créditos de descarbonização (CBIOs), se fortalecendo, cada vez mais, com um instrumento estratégico para a transição energética brasileira. Essas medidas, combinadas, dão confiança ao setor para expandir a produção e investir cada vez mais.