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Boa Safra: desde o IPO, as ações da empresa sobem 70% (Foto: Axial-Flow/Divulgação) (Axial-Flow/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 26 de janeiro de 2025 às 06h01.
Por José Evaldo Gonçalo
O esvaziamento do campo é um fenômeno que preocupa nações ao redor do mundo, desde regiões agrícolas da Europa e nos Estados Unidos até vastas áreas rurais na África e Ásia.
No Japão, por exemplo, os jovens estão deixando pequenas comunidades rurais e indo para cidades mais movimentadas, o que pode gerar o desaparecimento de mais de 800 cidades japonesas até 2040.
Na Espanha, o termo “Espanha vazia” denomina o fenômeno causado pelo declínio de 28% da população rural do país nas últimas cinco décadas. No Brasil, a situação é ainda mais preocupante: dados do Banco Mundial comprovam que a população rural caiu 33,8% de 2000 a 2022 por aqui. A redução global foi de 19,2%.
O agronegócio é, por tradição, uma atividade familiar. Na União Europeia, mais de 90% das propriedades agrícolas são geridas por famílias.
Nos Estados Unidos, fazendas familiares representam 98% do total de propriedades agrícolas. Por aqui, as fazendas familiares correspondem a cerca de 90% das propriedades produtivas rurais, mas, apesar disso, a sucessão familiar enfrenta desafios significativos.
Segundo o IBGE, apenas 30% das empresas familiares brasileiras conseguem chegar à segunda geração, e somente 5% à terceira geração. Nos EUA e Europa, a situação é semelhante.
Esse é um desafio que afeta não apenas a manutenção das populações rurais, mas também a sustentabilidade do agronegócio, um dos pilares da economia global.
Entre os fatores que contribuem para esse cenário estão a dificuldade de sucessão familiar e a percepção de oportunidades limitadas no campo, especialmente entre os jovens.
De acordo com o estudo “Sucessão dos Negócios na Agricultura: Experiências Internacionais e Políticas Públicas (Ipea, 2019)”, os principais obstáculos para a continuidade dos negócios em família incluem: a falta de interesse das novas gerações, que enxergam o campo como um ambiente de poucas oportunidades, sem as comodidades e o dinamismo das áreas urbanas; a dificuldade da gestão operacional e financeira, porque herdar uma propriedade rural envolve lidar com regulações complexas, altos custos de manutenção e investimento inicial significativo; e conflitos familiares, que geram questões emocionais e de divisão de patrimônio.
Contudo, a digitalização rural emerge como uma poderosa ferramenta para reverter esse quadro e transformar os desafios em oportunidades.
Ferramentas digitais têm o potencial de modernizar o agronegócio, tornando-o mais atrativo para os jovens e, ao mesmo tempo, mais eficiente e rentável.
A digitalização do agro não apenas aumenta a eficiência do setor, mas também contribui para melhorar a percepção do campo como um ambiente de inovação e crescimento, sem comprometer a qualidade de vida.
Já há evidências de que jovens são mais propensos a permanecer no campo quando veem oportunidades de trabalho que combinam tecnologia e atividade agrícola ou pecuária.
E as possibilidades são muitas, como a agricultura de precisão, que utiliza sensores, drones e sistemas de análise de dados para otimizar a produção, reduzindo custos e melhorando a produtividade; o aumento da conectividade no campo, com internet de alta qualidade, que permite otimizar a maneira como produtores acessam informações, fazem negócios e se conectam ao mercado; automatização e robótica, com uso de tratores autônomos e sistemas de irrigação inteligentes; e aplicativos e softwares que integram a administração financeira, o controle de estoques e o planejamento de safras, tornando a gestão mais profissional e menos desgastante.
O esvaziamento do campo e os desafios da sucessão familiar no agronegócio global são problemas interligados que exigem soluções integradas.
A digitalização rural não apenas moderniza a atividade, mas também renova o campo como um lugar de oportunidades, criatividade e crescimento. Ao adotar essas tecnologias, é possível criar um futuro mais promissor para as gerações presentes e futuras, garantindo que o campo continue sendo um pilar essencial da economia global.
Em suma, a tecnologia facilita o planejamento sucessório, ao promover a transição geracional com uso de soluções digitais que tornam o dia a dia no campo mais atrativo para os jovens, incentivando-as a dar continuidade ao legado familiar.
*José Evaldo Gonçalo é CEO do Broto S.A., empresa do Banco do Brasil e da BB Seguros. Possui vasta experiência na gestão pública: dentre outros cargos, foi Secretário Executivo do Ministério da Pesca e Aquicultura. Autor de livros como “Modelo de Gestão para Automação de Centros Integrados de Mobilidade: cidades inteligentes e gerenciamento por processo de negócio” (2017) e “Reforma Agrária como Política Social Redistributiva” (2001). É Doutor em Ciências (Automação e Engenharia Elétrica) pela Escola Politécnica da USP, além de ser Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).