EXAME Agro

Apoio:

LOGO TIM 500X313

Essa fintech pretende destravar o crédito entre pecuaristas e laticínios no Brasil

RúmiCash quer facilitar negociação entre produtores e indústria de leite, oferecendo crédito diretamente para custeio e investimentos relacionados ao rebanho

Pecuária de leite: RúmiCash pretende emprestar R$ 200 milhões em 2023 para pecuaristas  (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Pecuária de leite: RúmiCash pretende emprestar R$ 200 milhões em 2023 para pecuaristas (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 06h18.

Última atualização em 24 de agosto de 2023 às 13h42.

O preço médio do leite cru ao produtor registrou a segunda queda consecutiva do ano em junho — último dado disponível —, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Na 'Média Brasil' — que considera as principais regiões leiteiras do país para o cálculo —, o litro do produto chegou a R$ 2,556. Os números compõem um cenário crítico. Nesta época, de entressafra, o esperado é que os valores subissem. Ao contrário, a queda em junho representa recuo de 22,38% na comparação com mesmo mês no ano passado.

Leia também: Elanco quer fomentar debate de ILPF e rastreabilidade na pecuária

Isso significa que, mesmo com a queda do preço dos insumos para pastagem ou do avanço da colheita de milho para silagem, o produtor está com margens apertadas, o que tende a aquecer a contratação de mais crédito para garantir uma dieta adequada e nível de produção do leite. Neste sentido, surge uma oportunidade de mercado para atender a este segmento específico. A fintech RúmiCash tem surfado esta onda.

"As fazendas de leite cru, pela natureza do negócio, apresentam margens apertadas, o produtor vende a matéria-prima e o principal custo é a alimentação, como o farelo de soja", afirma Gabriela Borlido, CEO da RumiCash. "Então, ele fica refém das flutuações do mercado. Acho que isso até hoje é o que mais impacta o dia a dia financeiro dos produtores."

A startup foi criada há menos de dois anos pela Rúmina, grupo com outras soluções para pecuária leiteira, como softwares de gestão do rebanho, incluindo a área de saúde e bem-estar animal. Controlada pela gestora 10b, a empresa levantou R$ 25 milhões com os fundos de venture capital Barn e Indicator Capital para ampliar o ecossistema de tecnologias voltadas à pecuária leiteira.

Agora, além de outros serviços voltados à inteligência artificial e sensores para dentro da fazenda, a Rúmina aposta na facilitação do crédito.

Leia também: Por que o governo quer comprar leite em pó do produtor rural?

A atuação da RúmiCash

A carteira da fintech atualmente está em cerca de 9.000 produtores rurais, com perfis diferenciados. O crédito concedido varia desde um micro produtor que necessita de 800 reais em 10 parcelas até um crédito de 1 milhão de reais para os maiores pecuaristas de leite do Brasil. Para este ano, Borlido estima que o ticket médio fique em torno de 80.000 reais.

A partir destes números, a CEO da fintech acredita que os empréstimos somarão 200 milhões de reais em 2023, entre pequenos e grandes empreendimentos rurais. O produtor que produz 500 litros por dia se enquadra na atividade de pequeno porte, enquanto mil litros por dia já é considerada uma grande produção.

Ela diz que o que mais fomenta a busca por crédito são custeio e investimento. Custeio é o recurso voltado para as atividades de rotina que mantêm o negócio. "O campeão para crédito é plantio de milho para fazer silagem, um dos componentes da alimentação animal", afirma a executiva.

Já na parte de investimento, o crédito é destinado desde a compra de vacas até a modernização da gestão, como o gado confinado em sistema intensivo e maior controle preventivo de doenças.

Leia também: Qual a diferença entre pecuária intensiva e extensiva?

Um clube entre pecuaristas, crédito e laticínios

Ao compreender a dinâmica do crédito no mercado da pecuária de leite, Gabriela Borlido se deparou com um cenário mais tradicional, cuja fonte são bancos comerciais e cooperativas. E também viu como alternativa o crédito via indústria.

No caso da pecuária de leite, a indústria é o próprio laticínio, que é quem compra. Para garantir o fornecimento de leite, muitas vezes é ele que provê o crédito para financiar a matéria-prima para produção, "mas o core business dele não é gerir carteira de crédito, é comprar leite", diz Borlido. Nesta equação, portanto, entra o segmento dos insumos.

Assim, nasceu o Clube R, modelo de negócios entre a RúmiCash, indústria de insumos, fornecedores de leite e 14 laticínios parceiros, entre Vigor, Quatar, Scala e outros. O clube possibilita que os pecuaristas parcelem as compras dos insumos e garantam o fornecimento aos laticínios, enquanto a indústria recebe à vista da RúmiCash.  Os valores das parcelas do crédito contratado são descontados diretamente da folha do leite do produtor pelo laticínio e repassadas à fintech.

O Clube R está aberto para fornecedores que comercializem produtos ou serviços voltados para o produtor de leite, como tanques de resfriamento, insumos agrícolas, saúde e nutrição animal. Para definir as taxas do empréstimo ao produtor, é utilizado o algoritmo desenvolvido pela RúmiCash, o qual considera fatores como a infraestrutura da fazenda, qualidade do leite, volume por animal, alimentação do rebanho e outras variáveis. 

"Pelo algoritmo, eu consigo oferecer taxas de juros mais baixas para produtores mais eficientes, tecnológicos e que cuidam melhor do rebanho. Com a permissão do pecuarista, compartilhamos essas informações com a indústria. Por exemplo, se houver um nível de células somáticas muito alto [indicando risco de doença da vaca louca], o produtor pode ser um cliente arriscado e aplico as taxas de juros mais caras", afirma Borlido.

Leia também: Gripe aviária: Japão retira suspensão ao Brasil e volta a comprar frango e ovos

Neste modelo, há possibilidade de parcelar o crédito em até 12 vezes, com taxas que variam de 2,1% a 2,9% ao mês – o adiatamento tem taxa fixa de 1,99% ao mês. "O que vai determinar é o risco dele e o prazo que ele desejar", diz a CEO. O propósito é ganhar escala e fomentar uma base de dados ara a realização de operações de crédito, em que haja transparência desde a fazenda até a compra pelo laticínio.

"A gente resolve a dor do laticínio por não precisar colocar capital, e facilito ao produtor por dar crédito. Se ele não honrar com o compromisso, a cobrança parte de nós e a indústria não é afetada", afirma Gabriela Borlido.

Acompanhe tudo sobre:pecuáriaAgropecuáriaAgronegócioExame-Agro

Mais de EXAME Agro

Carrefour da França e carne do Mercosul: entenda o que está por trás do boicote

A 'rainha das sementes' do Nordeste: a história por trás de 2 milhões de campos de futebol plantados

Opinião: O crescimento do agronegócio e a demanda por profissionais

'Guerra dos tomates': como o Ceará pode se tornar o maior produtor do fruto do Nordeste