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Empresa de 70 anos aproveita caminhões em alta para faturar R$ 3 bilhões

Facchini é uma dos maiores fabricantes de implementos rodoviários e manteve crescimento mesmo na pandemia

Facchini: aposta pelo crescimento do setor de grãos (Facchini/Divulgação)

Facchini: aposta pelo crescimento do setor de grãos (Facchini/Divulgação)

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Gabriel Aguiar

Publicado em 13 de abril de 2021 às 08h00.

Última atualização em 20 de abril de 2021 às 11h49.

Mercado em alta: aposta pelo crescimento do setor de grãos (Facchini/Divulgação)

Parece não haver pandemia para o setor de caminhões, que, entre janeiro e março, cresceu 29,5% em relação ao mesmo período de 2020. E, é claro, que o segmento de implementos rodoviários (ou seja, caçambas e carretas, por exemplo) acompanhou o aumento. Prova é que a Facchini, uma das maiores empresas do ramo, espera crescimento de até 35% somente neste ano.

Fundado em Votuporanga (SP), em 1950, por Euclides Facchini – ex-carpinteiro da EFA, Estrada de Ferro Araraquara –, o negócio que carrega o sobrenome da família começou produzindo charretes. Apenas no ano seguinte, em 1951, foi construída a primeira caçamba de madeira. E, ainda hoje, o comando segue nas mãos de filhos e netos, já que não há nenhum investimento externo.

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“Eu trabalho na empresa desde meus 16 anos. Comecei a faculdade e, junto, comecei a trabalhar. O que aprendia em administração, colocava em prática. Só que o melhor foi passar muito tempo com meu pai, aprendendo negociação. Ele sempre compartilhou o que dava certo e também o que dava errado”, diz Marcelo Facchini, diretor executivo que é da terceira geração na empresa.

Marcello Facchini: terceira geração na empresa familiar (Facchini/Divulgação)

Em 70 anos de história, o pequeno galpão de 120 m² cresceu para um conglomerado de dez fábricas e 29 distribuidores pelo Brasil. Além disso, a Facchini exporta a nove países da América Latina e da África. “Temos quase 25% do mercado. Até brinco que, a cada cinco implementos, um é nosso. Toda produção está garantida até agosto. Para comprar, só com cancelamento de pedido”.

Só que, apesar de a demanda em alta, as linhas de montagem estão operando abaixo da capacidade por falta de matéria prima. “Meu principal receio é de não termos aço ou plástico no segundo semestre. Já temos esse problema. Não existem pneus no mercado e estamos importando. E o cliente está aceitando porque não existe produto nacional disponível”, afirma o diretor executivo.

De acordo com Facchini, o aço – principal componente dos implementos produzidos – teve aumentos de 140% nos últimos meses. “É uma situação complicada, porque até o papelão ficou mais caro. E não tem como negociar: se não quer, tem quem queira. Mas eu acho que a tendência é melhorar, com aumento de produção das siderúrgicas. Só que isso acaba sendo repassado no preço”.

Independentemente do cenário de escassez de insumos, o neto do fundador garante que todos os anos são investidos em torno de 200 milhões de reais para instalações e maquinário. Para os próximos meses, haverá novos equipamentos de corte a laser e investimentos em robotização para a automatização dos processos de produção, além de uma fundição para até 3 toneladas diárias.

Desde 1950: empresa foi fundada há mais de 70 anos (Facchini/Divulgação)

Por conta desse processo, a companhia diz investir na capacitação dos 6.500 colaboradores – Marcelo Facchini explica que 95% dos cargos de liderança, como supervisão e gerência, vêm da base e fizeram carreira ao longo dos anos – para se adaptarem às mudanças na linha de montagem, com treinamento e também incentivos para as áreas de programação e de controle de qualidade.

Também será levantada uma fábrica para construir carretas basculantes focadas no transporte de grãos. “Esse setor representava 30% do mercado e, hoje, é de 50% ou mais. E não tem jeito, porque cada ano tem recordes de safras e o caminhão é o principal meio de transporte até os silos e portos. Nós estamos apostando cada mais nesse segmento, que estourou no fim de maio de 2020”.

Só que as empresas de e-commerce também marcaram o ano passado, com três vezes mais participação nos pedidos (antes, eram 5%, afirma o fabricante). E, segundo o diretor executivo, antes das medidas de isolamento social, no primeiro trimestre de 2020, as projeções indicavam crescimento de 15%. “Tivemos medo do prejuízo, com dois meses parados, mas, no fim, o aumento foi de 3%”.

Fábricas: são dez unidades espalhadas pelo país (Facchini/Divulgação)

Essa foi só uma das transformações do perfil de clientes nos últimos anos, já que as transportadoras têm conquistado cada vez mais espaço – de acordo com Marcelo Facchini, essas empresas são responsáveis por 30% dos pedidos. E outro negócio começa a surgir aqui: locação de veículos pesados, prática comum em outros mercados, e que, hoje, corresponde a 20% da clientela do fabricante.

Muito além de implementos, a companhia também estuda uma plataforma de gerenciamento de frotas, capaz de transmitir pelo celular informações como eficiência, localização, frenagem, perfil de pilotagem e até mesmo temperatura de pneus. “Já implementamos nos veículos da nossa frota interna e vemos que esse será o futuro do segmento: gerar informações”, afirma o diretor executivo.

Pós-venda: componentes de reposição são feitos pela própria Facchini (Facchini/Divulgação)

“Sempre investimos muito para criar recursos ideais para os clientes. Temos uma equipe de engenharia muito forte só para analisar o peso das cargas. Damos suporte para descobrir como transportar os itens com mais eficiência, dentro do que a legislação permite”, diz. Com carretas mais leves e mais modernas, dá para aumentar em até 3 toneladas a quantidade de produtos por carregamento.

Marcelo Facchini explica que a empresa é autossuficiente graças à estrutura verticalizada de produção – é o próprio fabricante que produz eixos, plásticos, fundição e fornecimento de autopeças). “Somos bem capitalizados, temos bom fluxo de caixa e não precisamos de dinheiro externo. Não há banco por trás. É tudo próprio. Não fazemos loucuras e, mesmo na crise, não tivemos problemas”.

Com receita de 2 bilhões de reais em 2020 – e previsão para 3 bilhões de reais neste ano –, o neto do fundador não nega a possibilidade de abrir o capital e ofertar as ações na bolsa. “Não é para agora. Pode ser algo para o futuro. Digo que tenho Facchini no nome e, principalmente, no coração. Acho que nunca vamos sair desse negócio. Nossa ideia [da família] é continuar gerenciando”, diz.

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