Silo da Kepler Weber: otimismo com a economia da Argentina (Kepler Weber/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 21 de junho de 2025 às 06h05.
Em meio a ciclos econômicos desafiadores, como a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, a alta da Selic no Brasil e a volatilidade do mercado de commodities, a Kepler Weber, especializada em silos e armazenagem, decidiu direcionar seu foco para a Argentina.
A estratégia, explica Bernardo Nogueira, CEO da empresa, é aproveitar o "bom momento econômico" vivido pelo país vizinho, que tem mostrado sinais de recuperação após o "choque" de gestão implementado pelo presidente Javier Milei.
“Estamos vendo um retorno da Argentina, um país fundamental no agro mundial, especialmente em milho e soja. Eles estão voltando à mesa”, afirma Nogueira.
O movimento da Kepler segue a tendência de outras empresas brasileiras que também estão apostando no país vizinho. Neste ano, por exemplo, a CVC, do setor de turismo, e a Marcopolo, fabricante de carrocerias para ônibus, tomaram iniciativas semelhantes.
Ao lado do Brasil, a Argentina é um dos principais players do agronegócio global, destacando-se especialmente na produção de soja, farelo de soja, milho e trigo. O país é, inclusive, um dos maiores produtores de farelo de soja, com uma produção estimada em 25 milhões de toneladas.
Desde que assumiu a presidência, em dezembro de 2023, Milei tem implementado uma série de reformas econômicas. Uma das mais aguardadas e solicitadas durante sua campanha foi a redução ou eliminação das "retenciones", o imposto sobre exportações agrícolas.
O imposto sobre a soja em grão foi reduzido de 33% para 26%, enquanto as taxas sobre farelo e óleo de soja caíram de 31% para 24,5%. As retenciones sobre trigo e milho também sofreram redução, passando de 12% para 9,5%. Contudo, em abril, o presidente argentino anunciou que essas taxas retornariam aos níveis anteriores até o final de junho.
Outro fator favorável à Argentina é o clima da safra 2024/25. Após duas safras prejudicadas por problemas climáticos, que reduziram a produção de soja e milho, a temporada atual promete ser mais favorável, graças a condições climáticas benéficas para as lavouras.
A expectativa é de que a Argentina colha 50,3 milhões de toneladas de soja e 49 milhões de toneladas de milho, segundo projeções da Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA). É nesse crescimento que a Kepler aposta.
Nogueira afirma que a Kepler tem investido na diversificação de seus negócios para reduzir riscos e expandir seu portfólio. Em 2024, o segmento internacional da empresa cresceu 78%, com forte presença na América Latina, especialmente no Uruguai e Paraguai.
Para o CEO, o crescimento da Argentina é impulsionado pelas melhorias no ambiente econômico, maior controle da inflação, retomada do acesso a crédito e pela necessidade urgente de renovação da infraestrutura agrícola e de armazenagem.
“A estrutura de armazenagem por lá está sucateada, então haverá uma renovação do parque instalado, mesmo que a produção de grãos não cresça”, afirma.
A expectativa é de que a Argentina represente 15% dos negócios internacionais da Kepler em 2025, contra menos de 5% atualmente.
Com a fábrica principal da Kepler localizada em Panambi (RS), na fronteira com a Argentina, a empresa se posiciona como um player natural para atender à crescente demanda do país vizinho.
A inflação na Argentina foi de 1,5% em maio, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Esse é o menor índice mensal desde maio de 2020, quando a inflação também foi de 1,5%.
O resultado representa uma desaceleração em relação aos 2,8% registrados em abril. A inflação acumulada em 12 meses até março foi de 43,5%, abaixo dos 47,3% registrados no mês anterior.
Apesar de focar na Argentina, a Kepler afirma que continua avaliando o cenário macroeconômico, especialmente a guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China e outros países.
Ainda assim, a empresa acredita não sofrer impacto direto, pois não exporta para os EUA. Eventuais efeitos indiretos, como uma possível redução no preço do aço no Brasil, podem ser até benéficos, já que a empresa utiliza essa matéria-prima na construção de seus silos.
“Enquanto houver produção agrícola, a Kepler Weber terá mercado para atuar”, diz o CEO. A receita líquida da empresa em 2024 foi de R$ 1,6 bilhão.