Repórter
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 12h30.
As tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem encarecer o café, um produto que já está custando caro por lá. Em julho deste ano, o preço do café subiu 14,5% em comparação com o mesmo mês de 2024, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS).
A média do preço de varejo para o café moído atingiu US$ 8,41 por libra (R$ 45,50). Os números, coletados antes da imposição das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, indicam que o cenário pode piorar nos próximos meses, já que o Brasil é o principal fornecedor de café para os EUA.
Em 2024, os EUA importaram aproximadamente 8,1 milhões de sacas de 60 kg de café do Brasil, o que representa cerca de 33% das importações totais de café dos EUA, segundo dados da UN Comtrade. O valor dessas importações foi de aproximadamente US$ 2,01 bilhões.
Mesmo antes da aplicação das tarifas, os preços do café nos EUA já estavam em alta. Em 2024, o preço do café verde (não torrado) aumentou 38,8% em comparação com o ano anterior, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
O aumento foi impulsionado pela escassez de café, resultado de secas em grandes regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo, além das dificuldades de produção em outros países, como Indonésia e Vietnã, que também enfrentaram condições climáticas desfavoráveis.
As tarifas de 50% sobre as importações de café brasileiro começaram a ter efeito a partir de 6 de agosto, com um período de carência até 6 de outubro. A expectativa do setor cafeeiro do Brasil era de que a commodity ficasse de fora do 'tarifaço' de Trump, como sinalizou o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
Durante esse intervalo, os embarques que já haviam sido carregados antes da aplicação da tarifa poderão ser desembarcados nos Estados Unidos sem a cobrança do novo imposto. Após esse prazo, a sobretaxa será integralmente aplicada.
Segundo analistas da Tridge, consultoria especializada em commodities, espera-se uma redução significativa nas importações de café do Brasil, que pode variar de 40% a 50% após o fim do período de carência. A queda se deve ao adiamento das compras pelos importadores e à tentativa de redirecionar as aquisições para outros países produtores, como Colômbia, Vietnã e Honduras.
Para Danilo Gargiulo, analista da Bernstein Research, o impacto das tarifas será ainda mais profundo. Ele estima que o preço do café moído no varejo poderá subir de 15% a 20%, impulsionado pela redução das importações e pela busca por alternativas que não conseguem compensar a perda do café brasileiro.
Guilherme Morya, da Rabobank, por sua vez, enxerga que outros países produtores de café devem se beneficiar do novo arranjo, principalmente por terem tarifas mais baixas do que às brasileiras.
"Com a nova tarifa, o café brasileiro perde competitividade no mercado dos EUA, já que o aumento de custos para os importadores tende a favorecer outros produtores", disse.
Judith Ganes, consultora independente de soft commodities, alerta que o mercado de café enfrentará grande volatilidade devido às tarifas, especialmente com a exclusão do café brasileiro das isenções de tarifas.
Ela destaca que, mesmo com o transbordo do café por países terceiros, os custos logísticos adicionais ainda impactarão o preço final do café nos EUA. Com a combinação de escassez de oferta e custos logísticos elevados, os preços elevados deverão se manter no médio prazo, criando um cenário de incerteza no mercado de café americano.
Já analistas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam que a produção global de café para 2025/26 deve atingir um novo recorde de 178,7 milhões de sacas, impulsionada pela recuperação contínua em países como Vietnã e Indonésia, além de uma produção recorde na Etiópia.
No entanto, o Brasil, principal fornecedor de café para os EUA, enfrentará desafios em sua produção de café Arábica, principal tipo consumido nos Estados Unidos, que deverá cair para 40,9 milhões de sacas em função de seca e altas temperatura.
Em contrapartida, a produção de café Robusta no Brasil deverá atingir um recorde de 24,1 milhões de sacas, impulsionada pelas boas condições climáticas nos estados de Espírito Santo e Bahia.
Para o USDA, a produção reduzida de café Arábica no Brasil e a queda na produção colombiana de cerca de 700 mil sacas por razões climáticas devem restringir ainda mais a oferta de café de qualidade para os EUA, o que deverá resultar em uma pressão contínua sobre os preços, especialmente no mercado de café verde.