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Metade dos alimentos vai para o lixo durante o transporte das lavouras até as cidades (Andrea Pistolesi/Getty Images)
Repórter de Agro
Publicado em 11 de novembro de 2023 às 06h58.
"Há dois lados na história dos sistemas agroalimentares. Ambas são verdadeiras." É assim que a Organização Mundial para Alimentação e Agricultura (FAO) começa o novo estudo 'O Estado da Alimentação e da Agricultura' sobre o custo real dos sistemas agroalimentares. Segundo a publicação da ONU, esse custo oculto é de 12,7 trilhões de dólares.
Como adianta o enunciado, ao mesmo tempo que produzir alimentos gera benefícios à sociedade, os sistemas atuais se mostram insustentáveis do ponto de vista climático. Por isso, o documento se dedicou a analisar a complexidade e as interdependências dos sistemas agroalimentares e como afetam o ambiente, a sociedade, a saúde e a economia através do que os autores chamam de verdadeira contabilidade de custos (TCA).
Uma análise sobre custos 'invisíveis' nos sistemas agroalimentares, do campo à indústria, avaliou a contabilidade real de 154 países, investigando valores associados a critérios ambientais, sociais e de saúde. Em 2020, foram aproximadamente 12,7 trilhões de dólares em paridade de poder de compra (PPC), o equivalente a quase 10% do PIB mundial em termos de PPC. "Isso inclui custos ambientais ocultos decorrentes de emissões de gases de efeito estufa e nitrogênio, uso de água e mudança no uso da terra; custos ocultos para a saúde devido a perdas de produtividade devido a padrões alimentares não saudáveis; e custos sociais ocultos relacionados à pobreza e perdas de produtividade associadas à desnutrição", escrevem os autores do relatório.
"O valor dos sistemas agroalimentares para a sociedade é provavelmente muito superior ao que é medido em produto interno bruto (PIB). O outro lado é que, devido a falhas de mercado, políticas e institucionais, os sistemas agroalimentares são frágeis e insustentáveis, contribuindo para as alterações climáticas e a degradação dos recursos naturais, ao mesmo tempo que não fornecem dietas saudáveis a todos", cita o estudo.
De acordo com a FAO, o valor revela a necessidade de considerar este montante na tomada de decisões para transformar os sistemas agroalimentares. Globalmente, 73% dos custos ocultos estavam associados a padrões alimentares que levaram à obesidade e doenças, a exemplo de alimentos ultraprocessados e com alto nível de açúcar. Os custos ocultos ambientais quantificados da agricultura representam mais de 20% dos 12,7 trilhões de dólares.
Do lado social, estima-se que a renda das pessoas enquadradas como 'moderadamente pobres' que trabalham em sistemas agroalimentares precisa aumentar. A alta sugerida pela FAO é, em média, de 57% nos países de baixa renda e 27% nos países de renda média-baixa, para garantir que estejam acima da linha de pobreza, reduzindo assim a insegurança alimentar e a subnutrição.
"Os custos ocultos quantificados representam um fardo maior em relação à renda nacional em países de baixa renda, onde equivalem, em média, a 27% do PIB (em grande parte devido à pobreza e à subnutrição), em comparação com 11% em países de renda média e 8% em países de alta renda", indica o estudo.
Segundo o documento da FAO, há uma variação considerável de país para país na importância relativa dos custos ocultos ambientais, sociais e de saúde, "sublinhando a necessidade de produzir estimativas específicas de cada país, como um caminho para criação e implementação de políticas".
Embora o estudo não apresente soluções específicas para reverter o montante alocados nos sistemas agroalimentares atuais, a FAO preparou 5 pontos para que os países passem a compreender os sistemas agroalimentares. São eles: