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A última década viu a ascensão da agricultura digital e a consolidação da promessa de aumento de produtividade e redução de custos como fator fundamental de valor para o produtor, escreve Luis Otávio Fonseca, da Deloitte (Pexels/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 11h57.
Última atualização em 11 de dezembro de 2024 às 15h50.
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro deve crescer 5% em 2025, enquanto a safra de grãos do país deve alcançar um novo recorde de 322,53 milhões de toneladas, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). As projeções foram divulgadas nesta quarta-feira, 11, durante coletiva de imprensa da entidade.
A recuperação econômica do setor, um dos principais pilares da economia brasileira, acompanha a expectativa de uma temporada mais promissora na produção de grãos, impulsionada pelo aumento de 1,9% na área plantada e pela recuperação da produtividade média.
A CNA também revisou a estimativa do PIB do agronegócio para 2024. Antes, era prevista uma queda de até 3%, mas agora aponta para um crescimento de até 2%.
Apesar das boas perspectivas, o setor ainda enfrentará desafios internos e externos em 2025, como a política fiscal, o câmbio, a inflação e a taxa Selic, segundo a CNA. Um dos principais pontos de atenção é a valorização do dólar, que pode impactar os custos de produção.
“O câmbio elevado pode beneficiar as exportações. No caso dos grãos, ajuda a minimizar os impactos de preços mais baixos ou estáveis ao longo do ano”, explica Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA.
Ainda que a moeda forte favoreça as negociações antecipadas de commodities agrícolas, ela também eleva os custos de insumos, como fertilizantes e pacotes tecnológicos, que são amplamente importados.
Além disso, pode pressionar os preços de alimentos comercializados internamente, como frutas e hortaliças, aumentando os desafios para os produtores e consumidores.
O Valor Bruto da Produção (VBP) deste ano está estimado em R$ 1,34 trilhão, representando um leve aumento de 0,3% em comparação ao ano passado.
O desempenho deve ser impulsionado pela receita agrícola, que deverá alcançar R$ 886,55 bilhões, apesar de uma redução projetada de 2,5%. Em contrapartida, a receita da pecuária deve registrar um crescimento de 6,2%, totalizando R$ 453,3 bilhões.
Para 2025, a expectativa é de um aumento de 7,4% em relação a 2024, com o VBP projetado em R$ 1,43 trilhão. A receita agrícola deve atingir R$ 937,55 bilhões, refletindo a recuperação da produção após a quebra de safra deste ano.
Por outro lado, o VBP da pecuária deve crescer 9,2%, alcançando R$ 495,13 bilhões, com destaque para a bovinocultura de corte, que deve registrar um aumento expressivo de 20,9%, impulsionado pela valorização dos preços.
O cenário macroeconômico traçado pela CNA indica que a inflação de alimentos deve recuar de 8,49% em 2024 para 5,75% em 2025, impulsionada pela recuperação da safra agrícola.
Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, deve desacelerar para 4,59% ao ano, mas ainda permanecerá ligeiramente acima do teto da meta de inflação, fixado em 4,50% para 2025.
Segundo a CNA, a manutenção da taxa Selic em níveis elevados deve tornar o acesso ao crédito ainda mais difícil para os produtores.
A projeção da entidade aponta que a Selic deve permanecer em 13,5% ao final de 2025, impactando negativamente as concessões de crédito ao setor agropecuário. Com os juros altos, o financiamento se tornará mais oneroso, representando um obstáculo adicional para os produtores.
De acordo com a entidade, a política monetária seguirá como um ponto de atenção, especialmente diante das dificuldades fiscais e das expectativas inflacionárias.
No cenário internacional, os desafios persistem, mesmo após o anúncio da conclusão das negociações do acordo Mercosul-União Europeia. Tensões entre as principais economias globais, em especial as sanções da União Europeia aos produtos agropecuários brasileiros — com destaque para a Lei Antidesmatamento (EUDR, na sigla em inglês) —, devem dificultar a expansão das exportações brasileiras.
Segundo a CNA, esse contexto pode afetar negativamente a competitividade do setor no mercado internacional, representando um obstáculo adicional para o crescimento das exportações do agronegócio brasileiro. Ainda assim, acredita Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais, da entidade, está otimista com a assinatura do acordo.
"Mesmo com a França liderando os protestos, a Alemanha, a principal economia da União Europeia, tem vocalizado junto de Portugal e Espanha que o acordo será ratificado", diz Mori.