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COP28: Ray Dalio, bilionário fundador da Bridgewater Associates, afirmou que o dinheiro é a chave para salvar o planeta (Leandro Fonseca/Exame)
Diretor da The Yield Lab Latam
Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 18h08.
Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19h11.
No mundo das ações climáticas, o velho ditado “o dinheiro faz o mundo girar” assume um novo significado. Ray Dalio, o bilionário fundador da Bridgewater Associates, afirmou corajosamente na recente COP28 em Dubai que o dinheiro é a chave para salvar o planeta. Segundo Dalio, a viabilidade financeira dos fundos de impacto e climáticos é crucial. Sem rentabilidade para seus gestores, os fundos correm o risco de perder o apoio dos investidores, colocando em risco metas ambiciosas de carbono neutro até 2030.
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O cenário mudou drasticamente desde a excitante COP26 em Glasgow, onde foram anunciados mais de US$ 130 bilhões para financiar soluções inteligentes em termos climáticos. Contudo, os retornos dos fundos de impacto têm sido modestos, levando a um declínio notável no entusiasmo dos investidores. Dalio sublinha a necessidade urgente de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões anuais para combater o aquecimento global e ressalta que apenas investimentos inteligentes e bons retornos podem garantir este financiamento.
A prova está nos números, com o índice S&P Global de energia limpa registrando queda de 30% neste ano, enquanto o índice geral S&P500 registrou aumento de 20%. Essa discrepância reforça a urgência da inovação financeira para atrair mais investidores privados, exemplificada por iniciativas como o novo projeto “debt-for-nature” do Goldman Sachs.
Enquanto os especialistas financeiros exploram formas inovadoras de financiar iniciativas climáticas, as startups aventuram-se no cerne da questão, procurando revolucionar a agricultura através da tecnologia e de modelos de negócios criativos. O desafio reside em convencer os pequenos e médios agricultores a adotar práticas climaticamente inteligentes.
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Os agricultores que operam em modo de sobrevivência, lutando com margens apertadas e condições de mercado voláteis, muitas vezes dão prioridade às preocupações imediatas em detrimento das considerações ambientais. A abordagem convencional, com base em esquemas de créditos de carbono, não conseguiu motivar mudanças reais.
Entram em cena, nesse contexto, as startups Agtech, pioneiras em modelos de negócios criativos para incentivar os agricultores. A história da Kilimo, uma startup argentina de gestão de recursos hídricos, fornece um exemplo convincente. Vendendo inicialmente plataformas de gestão de sistemas de irrigação a pequenos agricultores, a Kilimo, que faz parte do portfólio de startups investidas pela The Yield Lab Latam, enfrentou desafios na atração de capital de risco devido a preocupações de escalabilidade, mas conseguiu reverter isso incrivelmente.
Há aproximadamente 18 meses, a Kilimo passou por uma mudança transformadora no seu modelo de negócios, ganhando o reconhecimento do Fórum Econômico Mundial. Percebendo que os benefícios da economia de energia e água iam além dos agricultores individuais, a Kilimo abordou grandes corporações, especialmente usuários intensivos de água, como provedores de serviços de nuvem e empresas de bebidas.
O resultado? Um esquema inovador de compensação de água onde as empresas pagam aos agricultores para usarem a tecnologia da Kilimo. Isto gera compensações de água que as empresas podem utilizar para cumprir seus ambiciosos objetivos de impato. Os agricultores beneficiam de uma maior eficiência, de poupanças financeiras através da redução dos custos de água e de energia e de receitas adicionais – uma tábua de salvação durante as crises do mercado. As empresas, por sua vez, encontram uma forma tangível de compensar o seu uso intenso de água, contribuindo significativamente para a luta contra as alterações climáticas.
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O caso da Kilimo exemplifica o papel fundamental da agtech no combate às alterações climáticas. Embora a tecnologia possa gerir a utilização dos recursos naturais, são necessários modelos de negócios inovadores para garantir a adoção pelos agricultores. As agtechs e os gestores de fundos de impacto devem continuar a sua busca por soluções criativas que atraiam clientes e capital.
Concluindo, o casamento entre dinheiro, inovação e agtech oferece um caminho promissor para um futuro sustentável. Ao reconhecer a interdependência entre o sucesso financeiro e a responsabilidade ambiental, podemos inaugurar uma era em que o lucro e a preservação do planeta andem de mãos dadas, garantindo que o verde se torne o novo padrão para o nosso mundo.