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Com preços em alta, 'café fake' e solúvel entram na rota do consumidor brasileiro como alternativas

Opções surgem diante do avanço dos valores do café tradicional, mas especialistas alertam sobre fraudes e qualidade duvidosa

 (Gerado por IA/Freepik)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 26 de fevereiro de 2025 às 15h15.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2025 às 15h53.

O aumento nos preços do café, que já chega a quase R$ 50 o quilo nos supermercados, chamou a atenção do consumidor brasileiro para outras opções. Entre elas estão o café fake — um produto que imita o café tradicional, mas não contém grãos de Coffea em sua composição — e o café solúvel.

Os preços do café podem subir até 25% nos próximos meses, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) em 2024, o café tradicional fechou a R$ 48,90, alta de 39% ante 2023. A escalada dos preços desde 2020 é impulsionada por problemas climáticos, aumento da demanda global e fatores geopolíticos.

Apesar de atraentes pelo preço mais baixo, os cafés fake são considerados ilegais. Segundo a Abic, esses produtos contêm impurezas e misturas de vegetais como cevada e milho, sem passar por certificação de pureza — a legislação brasileira determina que apenas bebidas feitas exclusivamente com grãos de café podem ser vendidas como tal.

"É um produto fraudulento que não passou por nenhuma certificação de pureza e qualidade e que não respeita a legislação do Ministério da Agricultura. Não há garantia sobre a sua composição, não é um alimento seguro. É uma enganação ao bolso e até mesmo um perigo à saúde do consumidor", diz Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic.

Segundo o executivo, a maneira como esses produtos são vendidos e embalados já indicam a intenção de enganar o consumidor. "São visualmente semelhantes às de café. Ficam nas prateleiras ao lado das embalagens de café, mas são fraudes", diz ele.

Na semana passada, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) iniciou uma investigação sobre irregularidades na venda do chamado "café fake". O órgão recebeu denúncias que questionam a legalidade de produtos denominados “pó para preparo de bebida sabor café” e realizou ações de fiscalização em São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

A apreensão foi motivada pela presença de cascas e grãos defeituosos de café, aromatizantes e a alegação de uso de polpa do produto sem comprovação nos estabelecimentos.

Segundo a Abic, para evitar fraudes, o consumidor deve verificar se a embalagem possui o Selo da Abic e comparar os preços. Diferenças muito grandes podem indicar problemas, alerta Inácio.

“Outro ponto fundamental é ler o rótulo e analisar a composição do produto. A embalagem deve informar a espécie do café, o ponto de torra e o grau de moagem. O consumidor não deve se guiar apenas por aspectos visuais, mas verificar os ingredientes”, afirma Inácio.

Café solúvel

Outra alternativa que tem ganhado espaço é o café solúvel, impulsionado pelo preço mais acessível. Enquanto o café torrado e moído subiu 52% nos últimos 12 meses, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o solúvel registrou alta de apenas 17% no período.

Além do custo menor, o café solúvel rende mais. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), preparar uma xícara custa entre R$ 0,18 e R$ 0,29, enquanto o café coado varia de R$ 0,30 a R$ 0,43 — isso ocorre porque o café coado exige 5g de pó por xícara, enquanto o solúvel precisa de apenas 1g.

Segundo Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Abics, para garantir uma experiência satisfatória com o solúvel, é fundamental prestar atenção na procedência dos cafés, no processo de fabricação e na data de validade.

“Optar por marcas reconhecidas e com selos de qualidade é uma boa estratégia para assegurar que sabor e aroma estarão preservados. Além disso, é importante armazenar o café solúvel em local fresco e seco, em recipiente hermético”, diz ele.

O consumo de café solúvel cresceu em 2024 e atingiu 1,1 milhão de sacas no Brasil, representando 5% do consumo total da bebida no país, segundo a Abic. De 2016 a 2024, o crescimento médio anual foi de 3,9%, mas, no ano passado, a taxa de evolução ficou em apenas 0,6%.

Para o diretor, o café solúvel, além de ser uma opção mais acessível, não compromete a qualidade. “Isso permite que os consumidores continuem a desfrutar seu café diário sem sacrificar o sabor e o orçamento”, afirma.

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