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China aumenta meta de produção de grãos em meio à guerra comercial com os EUA

País asiático destinará cerca de US$ 18 bilhões para estocar grãos, óleos comestíveis e outros insumos

 (Freepik)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 5 de março de 2025 às 15h26.

A China anunciou nesta quarta-feira, 5, um plano de investimentos para o setor agrícola em 2025. A meta para este ano é produzir 700 milhões de toneladas de grãos, ligeiramente abaixo das 706 milhões de toneladas de 2024. No entanto, a meta para 2025 ultrapassa os 650 milhões de toneladas dos anos anteriores.

Além disso, o país asiático destinará cerca de US$ 18 bilhões para estocar grãos, óleos comestíveis e outros insumos, como parte de sua estratégia para reforçar a segurança alimentar em meio à guerra comercial com os Estados Unidos.

No ano passado, a China importou 105,03 milhões de toneladas de soja, um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior. O Brasil, principal fornecedor da oleaginosa para o país asiático, foi responsável por 65,7% dessa quantidade, com 69 milhões de toneladas de soja.

O anúncio chinês foi feito durante a abertura do Congresso Nacional do Povo, em meio a tensões comerciais crescentes com os EUA, um dos principais fornecedores de grãos para a China.

Em resposta às tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, o governo chinês já anunciou tarifas adicionais de 10% a 15% sobre soja, milho e trigo dos EUA. Além disso, a China suspendeu a importação de soja de três empresas norte-americanas e bloqueou as compras de madeira dos EUA.

A estratégia do governo chinês também inclui a expansão do plantio de soja e a diversificação para outras oleaginosas, como parte de um esforço para reduzir a dependência de insumos agrícolas dos EUA, intensificada pela guerra comercial iniciada durante a gestão Trump.

Carne bovina e armazenamento

Além da produção de grãos, a China anunciou que fortalecerá sua produção suína, aumentará as reservas de carne de porco e impulsionará sua pecuária bovina. As medidas ocorrem em um momento em que o país adota políticas protecionistas para fortalecer o setor local.

Em dezembro do ano passado, a China iniciou uma investigação para avaliar as importações de carne bovina, em resposta a um pedido da Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA), que representa o setor local. A CAAA alegou que o aumento das importações tem impactado negativamente a indústria nacional, destacando uma relação direta entre o crescimento das compras externas e os prejuízos enfrentados pelo setor.

Na segunda-feira, 3, o país asiático suspendeu temporariamente a importação de carne bovina de três unidades de frigoríficos brasileiros, alegando “não conformidades” em relação aos requisitos chineses para o registro de estabelecimentos estrangeiros o órgão chinês não especificou quais foram as irregularidades identificadas.

Sem detalhar valores e planos específicos sobre o armazenamento e infraestrutura, a China anunciou que se concentrará na construção de estoques estratégicos de grãos, algodão, açúcar, carne e fertilizantes. A expectativa do país é que essas medidas, aliadas ao aumento da produção nacional, contribuam para manter o abastecimento interno e proteger os produtores locais dos impactos das importações.

Com o cenário de preços baixos e oferta elevada no mercado interno, a China busca reduzir as importações para garantir a rentabilidade de seus agricultores, uma medida estratégica para equilibrar as finanças do setor agrícola diante da fraca demanda.

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