Soja: China comprou 2 milhões de toneladas do grão americano desde o acordo com os EUA (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 14h31.
O aumento das compras de soja dos Estados Unidos pela China não deve alterar o cenário de curto prazo para o Brasil. Segundo analistas ouvidos pela EXAME, o movimento do país asiático está ligado ao acordo firmado entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o governo chinês, além do período de entressafra no Brasil — atualmente em fase de plantio.
“Estamos nos aproximando de um momento em que a exportação de soja brasileira naturalmente diminui devido à sazonalidade da produção. O escoamento é concentrado nos segundos e terceiros trimestres. A maior parte da safra 2024/25 já foi vendida. Agora, o foco se desloca para o ciclo 2025/26”, afirma a Datagro, consultoria agrícola.
Trump afirmou que, nas negociações com a China, ficou acertada a compra de 12 milhões de toneladas de soja neste ano. Para os próximos anos, o volume subiria para 25 milhões de toneladas — patamar alinhado à média recente. O volume projetado para os próximos anos segue a tendência histórica de importações chinesas.
Dados oficiais do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) indicam que desde o anúncio do acordo, a China comprou cerca de 2 milhões de toneladas de soja americana até agora. O número pode ser maior, já que o USDA só é obrigado a divulgar transações acima de 100 mil toneladas.
Com 35 dias restantes até o fim do ano, a China teria de adquirir cerca de 294 mil toneladas de soja americana por dia para atingir a meta dos 12 milhões de toneladas.
“A janela de compra do grão americano é curta. Os contratos fechados agora só se converteriam em embarques a partir de dezembro, com chegada entre o fim de janeiro e meados de fevereiro. Depois disso, o Brasil aumenta a vantagem de custo sobre os EUA, inclusive com possibilidade de volumes maiores de forma antecipada em 2026, com o plantio mais avançado”, afirma o Itaú BBA em relatório divulgado nesta quinta-feira, 27.
A entressafra brasileira, somada ao acordo sino-americano, abre uma janela temporária favorável aos EUA, mas as compras da soja brasileira devem ser retomadas a partir de fevereiro, quando começa a colheita por aqui.
Segundo a Reuters, a China comprou pelo menos dez cargas de soja dos EUA, avaliadas em cerca de US$ 300 milhões, em contratos firmados desde terça-feira, 25. Todas estão previstas para embarque em janeiro.
O volume é 'pequeno' perto do que o Brasil já enviou à China neste ano. De janeiro a outubro, o país exportou 94 milhões de toneladas de soja, sendo 73 milhões destinadas ao mercado chinês. No mesmo período de 2024, os embarques somaram 89,5 milhões de toneladas, com 65,5 milhões para a China.
“Mesmo que os 12 milhões de toneladas prometidos no acordo sejam embarcados, o total exportado pelos EUA para a China neste ano ficará muito abaixo do volume enviado pelo Brasil em 2024, que alcançou quase 27 milhões de toneladas”, afirma Joana Colussi, professora da Universidade de Purdue.
Historicamente, Brasil e Estados Unidos são os dois maiores fornecedores de soja para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas do grão: 71% vieram do Brasil e 21% dos EUA, segundo dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Na quarta-feira, 26, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pediu ao presidente chinês, Xi Jinping, que aumentasse a velocidade e o volume das compras agrícolas. Segundo ele, Pequim teria “mais ou menos concordado” em atender ao pedido.
“Eu pedi a ele: ‘Gostaria que vocês comprassem um pouco mais rápido, gostaria que comprassem um pouco mais’. E ele mais ou menos concordou com isso”, disse Trump a jornalistas.
O presidente dos EUA classificou as relações com a China como “extremamente fortes”, após uma ligação com o presidente Xi Jinping. A conversa ocorreu poucas semanas após o encontro entre os dois líderes na Coreia do Sul, ocasião em que concordaram em desenhar um acordo comercial que ainda está em fase de negociação.
Na terça-feira, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, declarou que as compras chinesas de soja dos EUA estão 'dentro do cronograma'. Em entrevista à rede CNBC, Bessent destacou que Estados Unidos e China sempre serão rivais naturais, mas que o relacionamento entre os dois países vive um bom momento.