Apoio:
(Paulo Whitaker/Reuters)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 25 de novembro de 2024 às 11h51.
Última atualização em 25 de novembro de 2024 às 12h25.
Cerne da crise entre o Brasil e o acordo União Europeia-Mercosul, a França respondeu por apenas 0,00476% das exportações de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro deste ano, com um volume total de 165 toneladas em equivalente carcaça (TEC), medida utilizada para padronizar a pesagem da carne bovina.
No mesmo período, o Brasil exportou 3,47 milhões de toneladas de carne, sendo a União Europeia responsável por 92,41 mil toneladas. Em valor FOB, o montante alcançou US$ 445.886,57 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela consultoria SAFRAS & Mercados.
Para efeito de comparação, a China, principal importador da proteína brasileira, adquiriu 1,6 milhão de toneladas, o equivalente a 46% do total exportado, com um valor FOB de US$ 4.836.556,72.
Mesmo com o volume pequeno, entidades do setor agropecuário francês e gigantes da indústria vêm, desde a semana passada, se posicionando contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que enfrenta crescente resistência e parece cada vez mais distante de ser concretizado.
Na avaliação de Fernando Iglesias, coordenador de Pecuária e Setor Carnes da SAFRAS & Mercado, os movimentos dos produtores franceses refletem uma estratégia de proteção ao mercado interno.
O bloco europeu, que enfrenta um período de redução nos rebanhos de bovinos, suínos e aves, não é autossuficiente na produção de carne. Para 2025, estima-se que o Brasil alcance um rebanho de 235,70 milhões de cabeças, enquanto a União Europeia deve registrar 72,30 milhões de cabeças. A Índia, líder global, deve contar com um rebanho de 307,49 milhões de cabeças.
Essa realidade, afirma Iglesias, pode levar a União Europeia a retomar as compras em volumes expressivos no mercado sul-americano, com destaque para o Brasil, nos próximos anos.
“Mesmo com exigências ambientais rigorosas, o Brasil é o único país com condições de atender às demandas europeias sem comprometer florestas. Contamos com 158 milhões de hectares de pastagens, o que nos permite expandir a produção de carne e grãos sem derrubar uma única árvore”, afirma o especialista.
Na quarta-feira, 20, o CEO global do Carrefour na França, Alexandre Bompard, anunciou que a empresa suspenderia a compra de carne de países do Mercosul.
Em carta enviada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA), Bompard afirmou que a decisão se fundamenta na “solidariedade com o mundo agrícola” e reafirmou o compromisso do Carrefour de não comercializar proteínas animais provenientes de países membros do bloco.
A declaração gerou repercussões no Brasil. Em resposta, frigoríficos brasileiros suspenderam as vendas de carne para toda a rede Carrefour, incluindo também o Sam's Club e o Atacadão, que integram o conglomerado francês.