Carne bovina: exportações do Brasil devem crescer 12% em 2025 (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 11h18.
Última atualização em 26 de novembro de 2025 às 11h21.
A crise que afeta o setor de carne bovina nos Estados Unidos não deve provocar impactos relevantes no Brasil. Com expectativa de recorde de abates em 2025, o país não corre risco de desabastecimento, segundo analistas ouvidos pela EXAME Agro.
“O Brasil tem condições de atender a demanda do mercado interno e também de abastecer o mercado global. Temos produtividade por aqui”, afirma a Datagro, consultoria agrícola.
A projeção da Datagro é de que o abate de bovinos no Brasil cresça 4,4% neste ano, alcançando 41 milhões de cabeças. Do lado externo, as exportações brasileiras devem avançar 12% e chegar a 4 milhões de toneladas, renovando o recorde obtido em 2024, segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
A entidade também prevê que o Brasil deve bater, em novembro, um novo recorde anual de exportações. Em 2024, os embarques somaram 2,89 milhões de toneladas.
Entre janeiro e outubro de 2025, o país já exportou 2,79 milhões de toneladas, alta de 16,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em valor, as vendas externas acumuladas atingiram US$ 14,31 bilhões, avanço de 36% frente aos dez primeiros meses de 2024.
“Estamos com uma exportação muito aquecida e também o mercado interno é muito aquecido, então isso deixou que o Brasil abatessse perto desses quase 41 milhões de cabeças nesse ano”, diz a Datagro.
Nos Estados Unidos, o cenário para a carne bovina segue na direção oposta ao brasileiro. Na semana passada, a Tyson Foods anunciou o fechamento da unidade de Lexington, em Nebraska, e a redução das atividades da planta de Amarillo, no Texas, que passará a operar com apenas um turno.
A empresa afirmou que vai ampliar a produção em outras unidades para ajustar volumes e atender à demanda, mas a decisão escancara a escassez de gado para abate no país.
A indústria americana enfrenta uma fase de contração do ciclo pecuário, com redução do rebanho e menor disponibilidade de animais nos confinamentos.
O efeito direto tem sido o encarecimento da proteína: a carne moída — principal insumo para hambúrgueres — acumula alta de 14% no ano, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS). Nos EUA, cerca de 80% da carne moída consumida é destinada à produção de hambúrgueres.
O rebanho bovino americano está no menor nível em 75 anos, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A produção deve cair 4% em 2025 e mais 2% em 2026.
Desde 2019, o número de cabeças de gado de corte recuou para 27,9 milhões, queda de 13%, enquanto o inventário total de bovinos está no patamar mais baixo desde 1952. A retração também se intensificou na década: o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças em 2021, volume que caiu para 86,6 milhões.
A pressão sobre os preços resulta de uma combinação de fatores. Além da menor oferta de animais, a seca no oeste do país elevou custos com ração e reduziu pastagens, levando muitos pecuaristas a diminuir seus rebanhos ao vender parte do gado. Soma-se a isso a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, que encareceu as importações e elevou os preços por lá.
Mesmo com sinais recentes de recomposição do rebanho, a recuperação leva um tempo.“Esse é um processo lento, pois leva de dois a três anos para criar um bezerro até o abate”, afirma Fernando Iglesias, analista de pecuária da Safras & Mercado.
Ou seja, a oferta restrita ainda deve persistir por mais tempo, mantendo o mercado americano pressionado.
Outro fator que restringe ainda mais a disponibilidade de animais nos EUA é a suspensão, em maio, das importações de gado mexicano pelos EUA, para evitar a disseminação da doença New World Screwworm (NWS), conhecida como “bicheira do Novo Mundo”.
Trata-se de uma praga altamente devastadora, cujas larvas podem matar o animal e, em casos raros, atingir aves e seres humanos. O gado mexicano era tradicionalmente enviado aos EUA para engorda em confinamentos e posterior abate em frigoríficos americanos — fluxo que agora segue interrompido.
Na tentativa de conter os preços, Trump anunciou na semana passada o fim da sobretaxa sobre a carne brasileira. Além disso, elevou de 80 mil para 200 mil toneladas o volume importado de carne bovina da Argentina, um dos principais concorrentes do Brasil no mercado de proteína.