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Opinião: Cadeia de abastecimento do agronegócio precisa se aprimorar e digitalizar

Empresas que movimentam o produto agrícola têm dificuldade de visualizar de forma holística o que acontece na execução de operações do campo ao abastecimento

Fábrica de bioinsumos 
da Lavoro em Itápolis, 
São Paulo (Divulgação/Divulgação)

Fábrica de bioinsumos da Lavoro em Itápolis, São Paulo (Divulgação/Divulgação)

Luis Otávio Fonseca
Luis Otávio Fonseca

Sócio-líder para a Indústria de Consumer e líder para o setor de Agronegócio da Deloitte

Publicado em 26 de julho de 2023 às 16h21.

Última atualização em 26 de julho de 2023 às 16h54.

Em minha primeira coluna na EXAME falei sobre alguns itens principais que têm guiado meu trabalho de desenvolvimento do agronegócio brasileiro, e prometi voltar mais detalhadamente em cada um deles.

Nesta coluna, quero falar mais detalhadamente sobre a cadeia de abastecimento do agro, em especial sobre o que tenho visto e vivido no que se refere ao Planejamento e Execução de Operações (S&OP e S&OE para os habituados a estes processos).

Observamos que, apesar de as operações agrícolas estarem cada vez mais digitais, este não é o caso dos fluxos da cadeia de suprimentos do agro, tampouco da colaboração entre as empresas nela atuantes. Há uma grande dificuldade das empresas que movimentam o produto agrícola em visualizar o que está acontecendo de forma holística e poder não somente reagir em situações imprevistas, mas também cumprir com demandas de clientes e até mesmo regulatórias que requerem visibilidade e colaboração.

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Quem trabalha junto a mim nestes assuntos é Marcio Silva, sócio líder de supply chain agro na Deloitte, que fez o exercício de responder comigo a algumas perguntas que frequentemente vemos em fóruns de discussão e contextos de empresas do agro.

Como aprimorar o processo de previsão de demanda, a fim de melhorar o plano de produção?

O primeiro passo é o conhecimento sobre o comportamento da demanda, considerando sazonalidades, tendências de movimentos e quais variáveis influenciam. Além disso é importante saber o comportamento e a estratégia dos concorrentes.

A construção do plano passa por uma combinação entre colaboração entre os times Comercial, Marketing e Trade com base em suas perspectivas e necessidades e pela construção de modelos analíticos que podem ser tão simples quanto regras em planilhas eletrônicas ou modelos que usam de inteligência artificial.

Para uma evolução da acurácia, é fundamental entender e acompanhar continuamente onde se erra mais, quais são as respectivas variáveis de impacto e como elas se correlacionam permitindo evoluir nas reuniões de colaboração entre os times e na evolução dos modelos analíticos.

Como atingir o balanço correto entre eficiência e flexibilidade nos resultados de S&OP e S&OE?

Definir o nível de flexibilidade aceitável significa definir o percentual de variação (da demanda ou da oferta), acima ou abaixo, que a cadeia estará preparada para absorver.

Os elementos que podem ser trabalhados para gerenciar a flexibilidade são: capacidade produtiva, nível de inventário ou lead times, sendo que ambos devem buscar um equilíbrio entre o nível de serviço (que queremos oferecer) e o custo de servir. Aqui é importante ressaltar que muitas das empresas do Agro não pensam em segmentar a sua cadeia logística para servir a qualidade e o valor esperado do seu produto. Por exemplo: um produto certificado e de alta qualidade para um cliente exigente terá certamente um custo mais alto que um produto commodity.

Hoje se fala de custo de transporte de maneira genérica – e é importante pensar em como servir de maneira adequada ao produto e à expectativa do cliente. Isso tem valor. Atingir este equilíbrio e permitir a adequada segmentação da cadeia operacional está diretamente relacionado à acurácia da demanda e a confiabilidade que se tem das operações.

No horizonte do S&OP, onde as principais decisões de preparação da cadeia são tomadas, e depois no curto prazo, em que o S&OE gerencia os desvios e oportunidades, este equilíbrio deve ser o principal direcionador para as decisões.

Quais as estratégias para desenvolver um processo robusto de seleção e desenvolvimento de fornecedores?

Quando olhamos Supply Chain Management, observamos que as cadeias de valor estão cada vez mais complexas, seja por variáveis que se desdobram de Planos Estratégicos, como o aumento de portfólio de produtos, seja por variáveis externas, a exemplo de pandemia ou alterações regulatórias.

Nesse contexto, além dos tradicionais atributos utilizados, como qualidade, confiabilidade e custos, considerar a capacidade de resiliência e de planejamento colaborativo passa a ser fundamental. Cada vez mais, a visão do planejamento deverá “pular os muros” das empresas que tradicionalmente só percebem o que acontece no elo imediatamente anterior ou posterior a suas operações.

Hoje, já se implementa o conceito de cadeias digitais e amplamente integradas através do que chamamos de Torres de Controle do Supply Chain. Isso não somente permite maior visibilidade que se traduz em maior eficiência – especialmente na gestão do curto e curtíssimo prazo mas também na capacidade das empresas evoluírem seus processos e sistemas de Planejamento Integrado e Colaborativo.

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Quais ferramentas são eficazes na gestão operacional, de riscos e no monitoramento dos produtos agrícolas?

Quando falamos em movimentação de produtos agrícolas, dois atributos têm de sempre estar combinados: eficiência logística e resiliência. Dado que o volume e amplitude de desvios que temos no curto prazo, as decisões envolvem um alto número de variáveis e pouco tempo para a decisão.

Nesse contexto, ferramentas que constituam o que chamamos de Centro de Operações e Inteligência Agrícola e Torres de Controle de Supply Chain, onde é possível consolidar todas as informações disponíveis com atualizações em tempo real — somados a modelos de simulação, otimização ou mesmo predição —, têm se mostrado bem eficazes no monitoramento e riscos na movimentação.

Não é raro ver Centros de Operações e Inteligência Agrícola no mercado e os projetos de Torre de Controle começam a ganhar a atenção dos gestores. Entretanto o maior valor vem da junção dos dois conceitos no objetivo de reduzir o custo logístico das operações.

Como endereçar potenciais gargalos durante as épocas de safra e impactos oriundos de grandes imprevistos?

No agro é importante trazer as informações de manejo agrícola, estimativas de produção, clima e disponibilidade de estoque e logística para o planejamento e fazer com que este seja realmente integrado e suportado pelas ferramentas certas que permitirão a adequada simulação de cenários dando tempo hábil para a tomada de decisão.

O que ocorre hoje é que muito tempo se gasta com a compilação destes dados e pouco tempo com a real atividade de valor que é a modelagem e análise de cenários de factibilidade e lucratividade. Fazendo isso as empresas podem transformar a gestão de gargalos e imprevistos em vantagem competitiva.

Qual é a diferença entre trabalhar com planejamento integrado para o agro e outras indústrias?

A grande diferença no comportamento de uma cadeia de valor onde o agro está inserido está no comportamento e na dinâmica da disponibilidade da principal matéria-prima. Em cadeias, onde não se tem um componente agro, é possível gerenciar a cadência de entrada de matéria-prima, via negociação com fornecedores.

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Em cadeias onde o agro é envolvido, a originação possui uma dinâmica própria, em que em algum momento a decisão de abate, captação ou colheita tem de ser tomada, independentemente do comportamento da demanda. Neste momento será necessária uma decisão sobre a destinação e qual será o produto acabado cuja matéria-prima irá se transformar.

Essa característica influencia no desenho da pegada fabril e logística, no balanço entre nível de serviço e custo de servir — capacidades, inventário e lead times —, além dos modelos de tomada de decisão no S&OP e S&OE.

Quando falamos em planejamento integrado, é fundamental um olhar amplo da operação, com visão de início ao fim da cadeia, um entendimento sobre o comportamento e correlação entre as principais variáveis que impactam, ter claro as regras de negócio que devem ser consideradas, e principalmente o momento em que as decisões devem ser tomadas. E são nestes dois últimos itens onde as empresas normalmente falham.

Com esses elementos, conseguimos estruturar modelos de decisão que tragam valor às tomadas de decisão. E, também, compreender que a evolução do Planejamento Integrado é uma jornada, e não apenas um projeto.

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