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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 22 de junho de 2024 às 06h09.
Última atualização em 24 de junho de 2024 às 11h43.
HOLAMBRA* — A 130 quilômetros de São Paulo, desabrolha Holambra, a "Cidade das Flores". O município é o maior exportador de flores da América Latina e responde por 80% da exportação e por 40% da produção do setor florícola brasileiro.
A beleza dos campos floridos de Holambra se entrelaça com aromas e sabores florais. Entre os quitutes que encantam os visitantes, um destaque especial vai para o cachorro-quente de flor, um prato que combina a tradição holandesa com a criatividade brasileira.
Imagine um pão brioche, macio por dentro e dourado por fora, com uma salsicha cozida com temperos e molhos secretos. Mas o que torna esse cachorro-quente tão especial é a adição de um ingrediente inusitado: flores comestíveis.
Idealizado pelo casal Marcio Serafim Godinho e Juliana Exel, comerciante e designer gráfica, respectivamente, o sanduíche é oferecido na lanchonete Kok Holambra, trailer tradicional na cidade. A ideia, segundo eles, veio logo após a criação de um "wrap de flores", chamado WrapBuquê – marca já registrada pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
O lanche em forma de buquê e oferecido em um vaso de flor foi testado várias vezes pelo dono. "É um ornamento que dá identidade à comida. Além das flores, a iguaria tem alface, repolho roxo, cenoura ralada, pepino agridoce e o cliente escolhe o recheio que pode ser catupiry, cream cheese, carne louca, pernil ou peito de frango desfiado e um molho", diz Godinho. Em períodos de alta temporada, que vai de maio a dezembro, os empreendedores chegam a faturar mais de R$ 3.500 por dia, entre lanches e bebidas.
A ideia de criar lanches com flores comestíveis surgiu como uma homenagem à cidade, que é referência nacional em flores. Em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor totalizou R$ 19,9 bilhões, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). Nos últimos sete anos, o setor vem registrando crescimentos anuais que variam de 7% a 15%, ou seja, desempenho muito superior ao da economia brasileira.
A designer gráfica, responsável pela identidade visual do negócio, teve a ideia de usar um vaso para servir o lanche durante uma visita a lojas. "Estávamos em dúvida sobre o que utilizar e, quando vimos o vaso, a decisão foi instantânea", relata.
A receita deste peculiar cachorro-quente reflete a influência da herança holandesa da cidade, onde a criatividade culinária se encontra com a riqueza floral da região. Os visitantes podem desfrutar desta especialidade enquanto exploram os jardins da cidade ou durante os eventos anuais que celebram a cultura das flores.
Segundo a Juliana Exel, a proposta é atrair turistas que desejam ir além dos passeios tradicionais em Holambra, como o Deck do Amor e o Moinho Povos Unidos. "A foto é exatamente o que a pessoa vai receber. Aqui na Kok não tem essa de imagem meramente ilustrativa. O lanche é grande e compensa", diz o casal.
Amor-perfeito, cravina, cosmos, viola, borboletinha e calêndula são apenas algumas das espécies de flores presentes nos lanches.
O tipo de flor comestível utilizado varia conforme a estação e a disponibilidade do fornecedor, trazendo uma surpresa a cada dia. O design colorido e a curiosidade despertam o interesse de turistas de diversas regiões, atraídos pelos produtos florais oferecidos em Holambra. Além dos lanches e wraps, há também sucos e sodas italianas, que são servidos com aroma de flores.
"É importante que as flores estejam frescas e bonitas, para que o lanche ofereça uma experiência completa aos nossos clientes", ressalta a empreendedora.
Um estudo do programa de Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) revelou um crescente interesse dos consumidores brasileiros por flores comestíveis.
A engenheira agrônoma Lais Rossetto, responsável pela pesquisa, destaca na pesquisa que o uso de flores comestíveis remonta a 3.000 a.C. Ela explica que o consumo de algumas dessas plantas, como a alcachofra e a couve-flor, tornou-se comum devido ao seu alto valor nutritivo.
Segundo a profissional, faltam oportunidades para o consumo dessas plantas. Ela destaca que esses produtos são considerados de “alta gastronomia” e apresentam limitações na cadeia produtiva, o que dificulta o seu acesso.
Nos últimos anos, o setor florícola, que reúne 8.300 produtores e gera 272 mil empregos diretos, tem incorporado cada vez mais tecnologia em sua cadeia produtiva. Os maiores investimentos e ganhos de produtividade são observados nas cooperativas, como o Veiling Holambra, com mais de 450 cooperados, e a Cooperflora, com cerca de 90 associados.
*O repórter viajou a convite da Santa Clara Agrociência