Cocoa of Excellence: prêmio vai eleger, no próximo dia 16, os melhores cacaus do planeta (AIPC/Divulgação)
Do seu pedaço de terra em Tuerê, um assentamento rural em Novo Repartimento (PA), o pequeno agricultor João Evangelista não podia imaginar a trajetória que o plantio de cacau iria lhe proporcionar. O fruto que ele produz está entre os finalistas do prêmio Cocoa of Excellence, que vai eleger no próximo dia 16 os melhores cacaus do planeta, nas categorias ouro, prata e bronze.
Para chegar até aí, sua amêndoa – semente da fruta após fermentada, seca e torrada – passou por uma rígida seletiva no International Cocoa Awards (ICA), a mais renomada premiação global do segmento, que reconhece o top 50 do cacau mundial.
“Ver minhas amêndoas entre as 50 melhores foi uma alegria muito grande, por ter feito um trabalho que foi enxergado lá fora. O nosso mundo é grande, o Brasil é grande, então é muita satisfação, uma coisa que marca a vida da gente”, comenta o produtor rural.
Com divisões por área geográfica, o objetivo do ICA é reverenciar a excelência do cacau de origem, de alta qualidade. Para a edição deste ano, foram enviadas 235 amostras de 53 origens, de todos os continentes, e os 50 ganhadores foram apresentados no Salon du Chocolat, em outubro, em Paris.
Ao lado de outros dois cacauicultores brasileiros também selecionados – Angélica Maria Tavares e João Tavares, ambos de Uruçuca (BA) –, Evangelista esteve lá, exibindo orgulhosamente o cacau que cultiva em seu sítio na Amazônia, nesse que é o mais prestigiado evento mundial do universo do chocolate.
Nas palavras dele, foi uma experiência única e inesquecível. “Vi coisas muito diferentes do nosso dia a dia. Um mercado que existe na área do cacau e do chocolate muito importante, que mais gente precisava ver para trabalhar mais a qualidade. Porque só vive uma experiência daquela quem faz bons produtos e se preocupa com a qualidade. Um aprendizado mesmo”, conta.
Para a premiação do dia 16, que este ano terá uma cerimônia virtual, as 50 melhores amostras de 2021 foram processadas em um chocolate amargo e agora passam por uma avaliação às cegas pelo Comitê Técnico do Cocoa of Excellence e por fabricantes de chocolate e especialistas em análise sensorial.
Mais do que uma conquista pessoal e para a comunidade do Tuerê, o reconhecimento do cacau de João Evangelista é uma demonstração de que, com incentivo e capacitação, é possível promover o desenvolvimento unindo produtividade, geração de renda e preservação ambiental.
Ele faz parte do projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia, da Fundação Solidaridad, organização internacional da sociedade civil com mais de 50 anos de experiência na construção de cadeias agropecuárias sustentáveis, em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
A iniciativa visa oferecer assistência técnica de qualidade e inclusão socioeconômica a pequenos produtores rurais localizados no entorno da rodovia Transamazônica, que concentra grande parte do desmatamento e das pastagens degradadas do Pará.
Para isso, o programa atua na implantação de boas práticas agropecuárias de baixo carbono, implantação de sistemas agroflorestais (SAFs) em áreas desmatadas e capacitação por meio de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) personalizada.
“O João Evangelista é motivo de orgulho e inspiração para a toda a comunidade e para a Solidaridad. Sair de Novo Repartimento e chegar em Paris é um feito gigante desse agricultor familiar”, comenta Rodrigo Castro, Diretor de País da Fundação Solidaridad.
“Ele é um exemplo de perseverança, e por isso não é de se espantar que sua amêndoa tenha ficado entre as 50 melhores do mundo. Sua história com o cacau nos ensina que quando unimos dedicação e compromisso do pequeno produtor ao conhecimento oferecido pela Solidaridad, o céu é o limite”, acrescenta.
A atuação do programa deve ganhar escala nos próximos anos com o projeto RestaurAmazônia, que tem o financiamento do Fundo JBS pela Amazônia, instituição que apoia iniciativas com foco no desenvolvimento sustentável do Bioma Amazônico.
O RestaurAmazônia foi um dos seis projetos selecionados pelo Fundo em 2021 para receber, em conjunto, 50 milhões de reais, com o aporte de 250 milhões de reais da JBS nos primeiros cinco anos. A empresa se comprometeu ainda a igualar sua contribuição às doações recebidas de terceiros até que o valor chegue a 500 milhões de reais. O objetivo é que, em 2030, os recursos atinjam 1 bilhão.
A primeira parceria externa foi com a Elanco Foundation, que doará 450 mil dólares à iniciativa ao longo de três anos. “Seguindo o compromisso anunciado, a JBS dobrará o aporte”, garante Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia. “Isso certamente ajudará o programa a ganhar um alcance ainda maior na região”.
Com esse novo impulso, o modelo testado pela Solidaridad em Novo Repartimento será expandido para três outros municípios (Pacajá, Anapu e Altamira). A projeção é beneficiar 1.500 famílias rurais com aumento de 30% da renda, alcançar uma área de 75.000 hectares, preservar mais de 30 mil hectares de floresta, reduzir 53% das emissões de gases de efeito estufa e ampliar a produtividade da pecuária de cria em 22% e do cacau em 40%.
“O resultado do RestaurAmazônia demonstra que é sim possível aliar a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico. O trabalho do senhor João Evangelista é o exemplo prático de recuperação de áreas desmatadas em sistemas agroflorestais, contribuindo para o crescimento do pequeno produtor e recuperando áreas da Floresta Amazônica”, diz Joanita.
Evangelista faz questão de lembrar que ter apoio técnico foi fundamental para o seu progresso e que projetos como esse podem transformar realidades assim como tem acontecido icom a sua família.
“O trabalho do programa RestaurAmazonia, que dá esse suporte aqui para a gente, foi muito importante. Só tenho a agradecer. Foi com esse grupo que criei o meu jeito de trabalhar e consegui chegar a altura que estou hoje”, avalia.
E ele não é o único a crescer e ganhar estímulo diante dos resultados alcançados. Com treinamento para o plantio e manejo adequados, outros cacauicultores do Tuerê também têm sido reconhecidos em concursos nacionais e internacionais de cacau fino, de alta qualidade.
E esse é exatamente o maior legado do programa: disseminar o conhecimento, replicar as boas práticas e, dessa forma, multiplicar também as oportunidades de desenvolvimento sustentável na agricultura familiar, que responde por 70% da produção de cacau no país.