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Cacau brasileiro: a iniciativa do setor produtivo para promover um negócio de US$ 2,3 bilhões

Medida pretende promover a imagem do produto em mercados estratégicos, como os EUA e Europa, e tem como meta colocar o Brasil entre os maiores exportadores de cacau sustentável e seus derivados, até 2030

Objetivo é posicionar o Brasil entre os maiores exportadores de cacau sustentável e seus derivados até 2030. (Freepik)

Objetivo é posicionar o Brasil entre os maiores exportadores de cacau sustentável e seus derivados até 2030. (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 26 de março de 2025 às 13h30.

A crise na oferta mundial de cacau levou à criação da Cacau Brasileiro, uma iniciativa da indústria brasileira para promover a imagem do produto em mercados estratégicos, como Estados Unidos e Europa. O objetivo é divulgar e apresentar o cacau brasileiro no cenário internacional e destacar suas potencialidades.

A estratégia se torna ainda mais relevante em um momento crítico para o setor. Desde 2023, os principais produtores globais de cacau, Gana e Costa do Marfim, que juntos respondem por 75% da produção mundial, enfrentam desafios sérios.

A produção nessas regiões sofre com mudanças climáticas e o aumento de doenças, como a "podridão parda" e o broto inchado, esta última presente nas lavouras africanas desde 1936.

"O cacau gera emprego e renda. Valorizar o cacau é também preservar a identidade cultural das comunidades. Não existe cacau sem pessoas. O cacau brasileiro é coletivo", afirma Ricardo Gomes, gerente de Desenvolvimento Territorial do Instituto Arapyaú, uma das entidades líderes da iniciativa.

Segundo um relatório do Instituto AYA, que colaborou com o Plano de Transformação Ecológica do Governo Federal, até 2030, o Brasil tem o potencial de representar 13% do mercado global de cacau. Isso colocaria o país entre os três maiores produtores do mundo, gerando US$ 2,3 bilhões em receita.

Atualmente, o Brasil não figura entre os principais produtores mundiais de cacau, ocupando a sexta posição no ranking e sendo um dos maiores importadores da commodity. Contudo, no século XX, o Brasil chegou a responder por 25% da oferta global de cacau.

A produção de cacau no Brasil começou no sul da Bahia, onde o cacaueiro se adaptou bem ao clima. As primeiras sementes chegaram a Canavieiras em 1746 e a Ilhéus em 1752. Hoje, Bahia e Pará são responsáveis por 90% da produção nacional. No ano passado, a produção brasileira de cacau registrou uma queda de 18,5%, com 179.431 toneladas de amêndoas.

Produção de cacau no Brasil

Na visão de Pedro Ronca, diretor da CocoaAction Brasil, qualquer iniciativa que promova o cacau brasileiro é bem-vinda, especialmente em meio à crise na produção mundial da commodity. Segundo ele, além das ações de promoção, é crucial aumentar a produção brasileira, que enfrenta desafios relacionados à produtividade.

"Desenvolvemos, em parceria com o Ministério da Agricultura e a CEPLAC, órgão oficial de pesquisa e difusão de tecnologia do cacau no Brasil, um planejamento estratégico visando melhorar a produtividade nacional. A principal meta é dobrar a produtividade de cacau, passando de 350 quilos por hectare para 700 quilos por hectare", diz Ronca.

O objetivo, segundo ele, é aumentar a produção nacional de cacau, passando de 200 mil para 400 mil toneladas, o que permitiria ao Brasil retomar a posição de exportador de cacau.

"Atualmente, o Brasil é importador de cacau, o que é um paradoxo, considerando nossa posição como potência agrícola. Para atender à demanda da indústria nacional, somos obrigados a importar cacau", afirma.

Em outubro de 2024, o governo federal lançou o Plano Inova Cacau, um planejamento estratégico para aumentar a produção de cacau no Brasil para 400 mil toneladas até 2030. O plano reúne práticas e experiências da iniciativa público-privada CocoaAction Brasil, apoiada por gigantes do setor como Nestlé, Barry Callebaut, Cargill e Mondelēz International, entre outras.

"Se alcançarmos a meta do Plano Inova, o Brasil voltará a ser exportador de cacau", afirma Ronca.

Além da ação do governo, os estados também estão se mobilizando para ampliar a produção. Na Bahia, destaca-se o plantio de cacau a Pleno Sol, enquanto em São Paulo surge o projeto Cacau SP, com plantações em São José do Rio Preto e no Vale do Ribeiro.

Como a amêndoa de cacau leva de quatro a cinco anos para começar a produzir frutos, o governo, por meio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Jaime Recena, que lançará, ainda neste semestre, duas linhas de crédito: uma para custeio (manejo da terra), com resultados mais imediatos, e outra para investimento (compra de máquinas e equipamentos), com impacto a longo prazo.

"Estamos trabalhando de forma colaborativa para melhorar a produtividade das áreas já produtivas. Muitas das áreas produtivas já possuem lavouras envelhecidas, e a renovação dessas áreas exige mais tempo. Além disso, existem investimentos em novas áreas, especialmente em regiões não tradicionais", afirma Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

Os projetos, segundo ela, focam, na maioria, na recuperação de áreas degradadas, utilizando o cacau como produto de larga escala. O objetivo de muitos produtores é cultivar entre mil e cinco mil hectares de cacau em novas áreas, integrando tecnologia, inovação e alta produtividade. Essas áreas têm o potencial de produzir entre 3.000 e 3.500 quilos por hectare.

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