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Brasil quer estreitar laço agrícola com China em viagem de Lula

O Brasil já é o principal fornecedor de produtos agrícolas para a China, respondendo por 60% de suas importações de soja e 40% de suas compras de carne bovina

 (Kevin Frayer/Getty Images/Ricardo Stucker/Flickr)

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Bloomberg
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Agência de notícias

Publicado em 26 de março de 2023 às 11h25.

Última atualização em 26 de março de 2023 às 11h25.

Centenas de líderes do agronegócio do Brasil inundaram Pequim esta semana antes mesmo da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aposta que uma viagem de alto nível à China abrirá ainda mais o maior importador de commodities do mundo para os produtos de seu país, ajudando-o a fazer as pazes com um setor que apoiou de forma esmagadora seu antecessor nas eleições do ano passado.

O ministro brasileiro da Agricultura, Carlos Fávaro, que desembarcou na quarta-feira ao lado da atipicamente imensa delegação empresarial, vem preparando terreno para vários acordos em potencial entre os dois países. Em entrevista na sexta-feira, ele disse que sua missão é restabelecer laços calorosos entre os países e se absteve de dar metas explícitas para o comércio bilateral.

O comércio e o investimento são os principais motores para qualquer aprofundamento das relações entre os dois países. Lula quer aumentar as vendas para a China, que já é o maior destino das exportações brasileiras, e atrair investimentos para modernizar a infraestrutura do país.

O Brasil já é o principal fornecedor de produtos agrícolas para a China, respondendo por 60% de suas importações de soja e 40% de suas compras de carne bovina. Agora, quer aumentar ainda mais esses números, ao mesmo tempo em que trabalha com Pequim em estratégias para evitar que a expansão agrícola prejudique o meio ambiente.

É um equilíbrio delicado que Lula tentará atingir assim que chegar na segunda-feira, um dia depois do planejado originalmente devido a um caso leve de pneumonia que seu gabinete anunciou na sexta-feira.

Uma viagem bem-sucedida pode dar um impulso a Lula em seu país, onde passou sua campanha e os primeiros dias de sua presidência em conflito com o agronegócio, setor que apoiou Bolsonaro - e que responde por quase metade das exportações do Brasil e um quarto de sua economia em desaceleração. A visita de alto escalão provavelmente também chamará a atenção dos Estados Unidos, que são simultaneamente um importante parceiro comercial e rival de ambos os países, especialmente porque o Brasil busca ganhos em áreas onde os EUA são seu maior concorrente.

Carne bovina, suína e vaca louca

Embora a agenda de Lula para a viagem esteja lotada, a indústria brasileira de carne bovina provavelmente ocupará o centro das atenções pelo menos em termos de comércio e negociações relacionadas ao agronegócio. A China está avaliando se deve permitir exportações brasileiras adicionais de alguns produtos suínos, incluindo miúdos e carne com osso, uma medida que pode resultar em uma receita adicional de US$ 100 milhões para a indústria no Brasil, de acordo com Ricardo Santin, que dirige o grupo de exportadores ABPA e faz parte da delegação.

“Embora a China seja um mercado bastante importante para os produtos de carne brasileiros, há espaço para aumentar porque a participação brasileira no mercado chinês não é muito grande”, disse o ministro da Agricultura.

Favaro já obteve diversas vitórias iniciais. O Brasil tem uma lista de 50 unidades de processamento de carne que deseja que a China aprove para exportação, e a China deu luz verde a seis delas na quinta-feira, incluindo uma unidade da JBS. Mais duas estão pendentes e o Brasil continuará pressionando pelas plantas restantes “passo a passo”, disse Favaro.

Na quinta-feira, a China também concordou em suspender uma proibição de exportação de carne bovina brasileira desencadeada em fevereiro por um único caso suspeito de vaca louca. Os protocolos sanitários atuais foram negociados em 2015 e Favaro disse que o Brasil acredita que provou ser um fornecedor confiável o suficiente para torná-los menos rígidos. Mas agora não é o momento certo para renegociar os protocolos devido ao caso recente, disse ele, acrescentando que espera que a questão seja debatida em reuniões bilaterais em agosto.

Soja, Milho e Algodão

Os esmagadores de soja também querem ver avanços durante a viagem de Lula. No ano passado, a China autorizou que o Brasil começasse a exportar o farelo de soja, mas ainda falta a habilitação das plantas que poderão vender aos chinses. Os dois países também alcançaram um acordo no ano passado para retomar os embarques de milho, o que já proporcionou grandes volumes de compras chinesas, que devem continuar crescendo este ano.

Isso ameaça deslocar os agricultores americanos de um de seus principais mercados, enquanto os laços fortalecidos com a China também podem aproximar o Brasil de sua meta de ultrapassar os EUA como o maior exportador mundial de algodão, disse Alexandre Schenkel, chefe da Abrapa, uma associação brasileira de produtores de algodão. O Brasil lançará nesta semana uma nova certificação de qualidade do algodão com o objetivo de ajudar a conquistar a confiança da China.

Infraestrutura, Meio Ambiente

O Brasil quer novos investimentos de empresas chinesas em portos, navios, ferrovias e outras infraestruturas necessárias para transportar a produção de um vasto país por rotas de exportação. Como os produtos agrícolas são de baixo valor, as operações precisam ser eficientes para tornar o comércio lucrativo.

“Considerando a capacidade da China de fazer grandes investimentos em infraestrutura ao redor do mundo, há um benefício mútuo onde eles investem para tornar o Brasil mais competitivo e também abre oportunidades para a China”, disse Fávaro.

O enorme escopo do comércio agrícola entre o Brasil e a China já atraiu o escrutínio de ambientalistas, que temem que a expansão da produção de soja e pecuária tenha acelerado o desmatamento na Floresta Amazônica e em outras regiões. Mais crescimento pode atrair ainda mais críticas, especialmente em meio aos esforços de Lula para colocar o clima e a proteção florestal no centro de seus esforços de diplomacia internacional.

Fávaro, no entanto, argumentou que o Brasil pode dobrar sua produção agrícola sem gerar mais desmatamento ao recuperar vastas extensões de terra degradada. Ele se reuniu com o presidente da Cofco na sexta-feira para apresentar à gigante trading chinesa um programa piloto que forneceria empréstimos a juros baixos a agricultores que concordassem em reabilitar terras de maneira socialmente responsável e com baixo teor de carbono.

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