EXAME Agro

BB minimiza inadimplência agro — e aposta em retornos melhores em 2026

Tarciana Medeiros, presidente do banco, diz que 2025 é o ano dos ajustes

Tarciana Medeiros: "Há um compromisso de longo prazo dessa gestão com resultados sólidos", disse (Nilton Fukuda/Divulgação)

Tarciana Medeiros: "Há um compromisso de longo prazo dessa gestão com resultados sólidos", disse (Nilton Fukuda/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 13h07.

Última atualização em 13 de novembro de 2025 às 13h09.

Depois de o agro pesar — e muito — no balanço do 3º trimestre do Banco do Brasil, divulgado nesta quarta-feira, 12, o BB está mais otimista. Na coletiva de imprensa desta quinta-feira, 13, Tarciana Medeiros, presidente do banco, afirmou que a instituição será "conservadora" na concessão de crédito para o agro, mas acredita em uma recuperação para 2026.

"O fato de estarmos afirmando que seremos mais conservadores no crescimento da carteira de micro e pequenas empresas e do agro não quer dizer que não vamos fazer crédito. Nós vamos e precisamos fazer bastante crédito. Há um compromisso de longo prazo dessa gestão com resultados sólidos", disse.

No resultado do segundo trimestre, apresentado em agosto, a presidente chegou a sinalizar que antes de melhorar, a situação poderia piorar. No balanço do terceiro tri, isso se confirmou. Na carteira do agronegócio, os atrasos superiores a 90 dias aumentaram de 3,49% em junho para 5,34% em outubro.

No Banco do Brasil, 30% da carteira de clientes é composta por produtores do setor agro, e o banco é o principal financiador do Plano Safra. No total, o BB detém 48,7% de participação nos financiamentos destinados ao agro, com esse market share subindo para 55,7% no crédito direto ao produtor rural.

No terceiro tri, o desempenho do BB foi impactado por um aumento significativo nas provisões para perdas com crédito, que totalizaram R$ 17,9 bilhões, 6% acima das previsões.

O setor de agronegócio, em particular, foi um dos principais responsáveis por esse aumento, com as provisões para esse segmento subindo 11% no trimestre, refletindo as dificuldades enfrentadas por produtores rurais em um cenário econômico desafiador.

"Foram casos específicos em que entendemos que a possibilidade de recuperação era muito baixa. Por isso, optamos por provisionar integralmente esses créditos. Trata-se de uma questão pontual, que não está relacionada a nenhuma crise ou interferência no mercado de capitais, ou de crédito", afirmou Felipe Prince, diretor de riscos (CRO) do BB.

Além disso, os pedidos de recuperação judicial (RJ) no setor agro pesaram sobre o balanço do BB. No acumulado até setembro, o banco registrou 968 solicitações de RJ por parte de clientes do agro, o que representa um aumento de 15% em relação a junho. No total, o saldo das dívidas em RJ soma R$ 6,6 bilhões, ante R$ 5,4 bilhões em junho.

Em setembro, a carteira agro do banco somou R$ 398 bilhões, um aumento de 1,5% em relação a junho, reflexo da decisão do banco de ser mais criterioso na oferta de crédito.

Novo guidance

Diante do resultado, o Banco do Brasil ajustou suas projeções financeiras para 2025, reduzindo sua estimativa de lucro líquido ajustado em 15%, para uma faixa entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões. O banco projeta um ROE de 10,6% para o próximo ano.

Segundo o relatório do BTG, divulgado nesta quinta-feira, o agro, que sempre foi um dos pilares do BB, continua sendo uma fonte de preocupação.

A carteira de agronegócio registrou um aumento de 11% nas provisões para perdas com crédito, totalizando R$ 8,75 bilhões. A inadimplência no segmento subiu para 5,3%, refletindo o impacto da alta concentração de vencimentos de dívidas do ciclo agrícola anterior.

Para aliviar a pressão, o governo lançou a Medida Provisória (MP) 1314, criando um programa de renegociação de dívidas para o agronegócio.

Contudo, a resposta do setor tem sido morosa, com muitos produtores optando por não aderir ao programa de reestruturação de dívidas, gerando incerteza sobre o efeito positivo esperado nas finanças do banco.

Para o BTG, o BB deverá se recuperar, mas o processo "será mais lento do que o mercado parece estar precificando."

"O ponto de partida também é desafiador, já que o BB entra neste próximo ciclo com um ROE baixo, um buffer de capital mais estreito e um saldo de provisões muito menor em comparação com alguns anos atrás. Em um contexto de desalavancagem, melhorar os resultados se torna naturalmente muito mais difícil", diz o relatório.

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