Colheita de soja: no total, o Fator e a Ponto Rural pretendem captar R$ 500 milhões. Segundo Bertomeu, aproximadamente metade do fundo será levantada junto aos fornecedores, em cotas mezanino — um tipo de cota que representa um equilíbrio entre risco e retorno (Alexis Prappas/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 12 de setembro de 2025 às 11h39.
Última atualização em 12 de setembro de 2025 às 13h44.
A Ponto Rural, revendedora de insumos, e o Fator, gestora do banco de mesmo nome, anunciaram nesta sexta-feira, 12, a segunda rodada de captação de um Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro), no formato de Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). A meta é alcançar R$ 20 milhões nesta nova tranche.
O FIDC é uma modalidade de investimento coletivo baseada na securitização de recebíveis — ou seja, direitos de crédito que uma empresa possui, como duplicatas, cheques e contratos de financiamento.
Na primeira tranche, a revendedora e a gestora captaram R$ 90 milhões, com zero inadimplência e a adesão de mais de 1.200 produtores rurais.
Na proposta da Ponto Rural, os fornecedores atuam como investidores no fundo. Além de contribuírem para a operação financeira da empresa, oferecem melhores condições de financiamento aos agricultores. Essa estrutura permite que toda a cadeia agroindustrial se beneficie.
Normalmente, o produtor rural, sem capital disponível, adquire insumos como sementes e fertilizantes por meio de acordos com revendas, oferecendo parte da produção futura como pagamento.
Com o FIDC, a Ponto Rural busca resolver dois problemas: oferecer crédito às revendas e, ao mesmo tempo, facilitar o financiamento para o agricultor. Isso reduz o risco da operação e amplia o acesso a crédito na ponta, avalia o Fator, responsável pela estruturação do Fiagro.
“Esse resultado se deve principalmente ao perfil da nossa carteira de clientes, à governança da empresa e à qualidade do processo de seleção de crédito”, diz Marcos Bertomeu, gestor de fundos do agronegócio do Fator.
Ele acrescenta que, mesmo com juros altos e margens apertadas, a operação manteve liquidez positiva. “O histórico da Ponto Rural e a fidelidade dos produtores foram determinantes para o sucesso.”
No total, o Fator e a Ponto Rural pretendem captar R$ 500 milhões. Segundo Bertomeu, aproximadamente metade do fundo será levantada junto aos fornecedores, em cotas mezanino — um tipo de cota que representa um equilíbrio entre risco e retorno.
Na primeira rodada, o fundo contou com a participação de grandes fornecedores da Ponto Rural, como Corteva, Ourofino Agrociência, Lagoa Bonita Sementes e Cibra Fertilizantes.
Com a Selic em 15% ao ano e a guerra tarifária em curso, a safra 2025/26, iniciada em 1º de julho, traz novos desafios para o agro, avalia Gustavo Watarai, diretor financeiro da Ponto Rural. Ainda assim, diz o executivo, o cenário abre oportunidades.
“Os fornecedores têm priorizado vender e receber, escolhendo clientes de forma mais criteriosa. Isso nos favorece porque estamos bem estruturados, com governança sólida e credibilidade de mercado”, afirma.
A expectativa é que, após levantar R$ 20 milhões na segunda tranche, uma nova rodada esteja a caminho, com prioridade para fertilizantes, um dos principais custos do produtor.
“Esse é o segmento que mais demanda crédito pelo descasamento de caixa. Já temos conversas avançadas com novos fornecedores, inclusive multinacionais, mas ainda não podemos revelar nomes”, diz Watarai.
O case da Ponto Rural, acredita o executivo, deve pavimentar um caminho para que outras distribuidoras também utilizem o FIAGRO como alternativa de crédito.