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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 24 de julho de 2025 às 16h48.
O Brasil está em negociações com a China, Coreia do Sul e Arábia Saudita para exportar suco de laranja para esses mercados, afirmaram interlocutores do governo à EXAME.
A estratégia do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é intensificar os diálogos com esses países, especialmente diante do anúncio de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entra em vigor em 1º de agosto.
Segundo auxiliares da pasta, cerca de 40 adidos agrícolas do Brasil (servidores públicos designados para missões no exterior) foram mobilizados para reforçar as negociações com diversos países, para expandir os mercados para produtos brasileiros, principalmente os mais afetados pela tarifa de Trump, como suco de laranja, café e carne bovina.
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Na safra 2024/25, as exportações de suco de laranja para a China recuaram 63,2%, para 30 mil toneladas, enquanto a receita recuou 27%, atingindo US$ 103,5 milhões.
"Qualquer ajuda do governo é bem-vinda, mas o mercado norte-americano é insubstituível", afirma Ibiapaba Netto, presidente da CitrusBR.
Na avaliação de analistas consultados pela EXAME, a estratégia do Mapa enfrenta obstáculos como a falta de infraestrutura e questões culturais específicas.
No caso da Arábia Saudita, por exemplo, a preferência histórica do consumidor árabe por bebidas quentes pode dificultar a aceitação do suco de laranja.
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode zerar a exportação de suco de laranja do Brasil para os Estados Unidos, segundo uma nota técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
A entidade projeta uma queda de 48% nas exportações brasileiras para os EUA em função da sobretaxa, o que resultaria em uma redução de US$ 5,8 bilhões nas vendas de produtos agropecuários ao mercado norte-americano.
A estimativa se baseia no desempenho de 2024, quando o Brasil exportou US$ 12,1 bilhões.
O Brasil é o maior produtor de suco de laranja do mundo, sendo responsável por três de cada cinco copos consumidos globalmente — a América do Norte é um dos principais mercados para o produto.
Além do suco de laranja, outra commodity que o governo brasileiro busca expandir no mercado internacional é a carne bovina. Japão e Coreia do Sul são os países com maior avanço nas negociações.
No início deste ano, Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), afirmou à EXAME que o Brasil estava em negociação com esses dois países, além da Turquia e Vietnã, para abrir novos mercados.
Juntos, esses quatro países representam cerca de 30% da demanda global por carne bovina.
Até o momento, o Vietnã foi o único a anunciar a abertura para a carne brasileira. Desde 2023, 19 novos mercados foram conquistados para a proteína.
O café brasileiro também está entre as prioridades do Mapa. O Brasil está em conversas com a China e a Austrália para ampliar as importações desses países.
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No primeiro semestre deste ano, a China importou 530 mil sacas de café, um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2024.
Já a Austrália comprou 223 mil sacas, registrando um crescimento de 1% em comparação com o primeiro semestre do ano passado.
Um interlocutor que participa das negociações entre o governo e o setor produtivo afirmou que "não há com quem conversar nos EUA". Até o momento, segundo a mesma fonte, a gestão de Trump não designou um interlocutor para tratar da medida.
De acordo com técnicos do governo, o próximo passo é aguardar a publicação da ordem executiva de Trump ou até 1º de agosto, quando o presidente americano afirmou que a sobretaxa deverá entrar em vigor.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), agendou uma coletiva para a tarde desta quarta-feira, 24, para falar sobre a comitiva do governo e de parlamentares que viajarão aos EUA, para negociar com o governo de Donald Trump.