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Agro representa apenas 7% das fusões e aquisições no Brasil, mas mostra espaço para crescer

Embora fatores como insegurança jurídica e reforma tributária travem as negociações, profissionalização das empresas rurais atrai investidores nacionais para M&A

PwC: segmento antes da porteira lidera os M&As, sendo responsável por 66,07% das operações. (Divulgação/Divulgação)

PwC: segmento antes da porteira lidera os M&As, sendo responsável por 66,07% das operações. (Divulgação/Divulgação)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 10 de outubro de 2023 às 18h04.

Três anos consecutivos de boas margens à agropecuária contribuíram para que o mercado de fusões e aquisições no agronegócio superasse os patamares do período anterior à pandemia. De janeiro a agosto de 2023, foram 53 M&As — sigla em inglês para Mergers and Acquisitions. Desde 2015, a média para o período é de 30 operações por ano. Ainda assim, o agro está longe de ser uma parcela considerável das movimentações no país, representando 7% das aquisições no Brasil neste ano.

De acordo com Leonardo Dell'Oso, líder da área de fusões e aquisições na PwC, a justificativa principal para este cenário é o perfil das empresas rurais, que ainda estão juridicamente classificadas como pessoa física. O embate entre CPF e CNPJ que tanto persegue a evolução do agronegócio, a exemplo de segmentos como crédito e regularização fundiária, também recai sobre a compra de controle societário entre empresas.

Leia também: Burocracia e alta taxa de juros dificultam gestão da pequena propriedade rural

Segundo levantamento da PwC, o segmento antes da porteira --  tudo que é necessário à produção agrícola, como máquinas e sementes -- lidera os M&As, sendo responsável por 66,07% das operações. Em seguida, as outras movimentações se referem a empresas de tecnologias (16,07%), consumo (5,36%) e químicos (3,57%).

O executivo prefere olhar o copo meio cheio e enxerga que fatores como os recordes de produção e o financiamento privado devem contribuir para este número crescer. Além disso, ele observa o movimento de profissionalização dos negócios rurais. "Essa transferência de modelo de gestão para enquadrar as fazendas como empresas jurídicas deve impulsionar o movimento de aquisições no país", diz Dell'Oso.

Entraves ao investidor estrangeiro

Três fatores travam a entrada de companhias internacionais para M&As no Brasil, ainda segundo Leonardo Dell'Oso, parter da PwC. Insegurança jurídica, alta carga de impostos e complexidade fundiária. Além disso, quem vê de fora, pode "se assustar" com questões como, por exemplo, a atual discussão da reforma tributária.

"Assusta ao investidor saber que ele pode entrar em um negócio relacionado a determinada terra, e depois aquilo ser contestado. Pela lei brasileira, o estrangeiro não pode ser dono da terra aqui, mas pode operar uma parcela minoritária de uma empresa com muitos hectares. Discussões como o marco temporal e a regularização fundiária afastam quem procura investir", diz.

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Por outro lado, ele ressalta que a participação das multinacionais vem sendo substituída pela atuação das companhias nacionais. "Isso sinaliza a robustez do agronegócio, que quer crescer dentro do país e mostra que não depende de capital estrangeiro, embora o investimento externo também seja importante."

Dell'Oso prefere não projetar o número de M&As no agro no ano que vem. Ao considerar todos os setores para fusão e aquisição, o ano deve fechar com 1.200 operações. Para 2024, a expectativa é de chegar a 1.500.

"Feat com a estratégia"

A Serasa Experian tem sido uma destas empresas brasileiras que aquece o mercado de M&A no cenário nacional. Atuando no agronegócio há somente dois anos, a partir de um investimento de R$ 40 milhões, a empresa busca ferramentas que facilitem a jornada do produtor rural na tomada de crédito e na gestão de risco do negócio.

Entre janeiro de 2021 e maio de 2023, a Serasa adquiriu as empresas Brain Ag e Agrosatélite, além de investir na agfintech Traive. Entre elas, a Brain cresceu 50 vezes entre 2020 e 2023, segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa. Ele não revela o volume transacionado, mas afirma que a aceleração do negócio em três anos surpreendeu. Isso porque, houve "feat com a estratégia" da companhia, tanto na busca pela facilitação ao crédito quanto pela gestão de risco.

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Um dos requisitos avaliados pela Serasa é a competência do time, que precisa entender a realidade do agricultor e saber as necessidades no campo. "Avaliamos agtechs que tenham esse time de campo, porque, muitas vezes, nós não vamos conseguir essa penetração. Por isso, nos interessa quem pense soluções para facilitar a contratação de crédito, diminuir entraves daquele que não tem CNPJ, mitigar os riscos de uma safra", diz.

Como exemplo, Pimenta cita o segmento de seguro rural, cuja contratação ainda é baixa no país. Na visão dele, quanto mais acessível forem as ferramentas de monitoramento climático para gestão de risco, mais produtores conseguirão contratar e o preço se tornará mais acessível. "E havendo seguro rural, isso também facilita para a contratação de crédito", afirma o head da Serasa.

À caminho do DREX

Drex, projeto de moeda digital de Banco Central (CBDC), também está no horizonte da Serasa para a construção do pipeline de agro. A ideia de propiciar acesso seguro e democrático por meio da digitalização das transações agrícolas atrai Marcelo Pimenta, que vê o mecanismo tendo aderência incluse por produtores de pequeno e médio porte. 

"O Drex pode democratizar o crédito e se popularizar assim como foi com o PIX. Imagine, nesse formato de smart contract, podemos diminuir burocracias e tornar o crédito mais acessível ao campo, inclusive para comprar a prazo", diz.

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