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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 9 de julho de 2024 às 06h04.
Última atualização em 9 de julho de 2024 às 07h09.
O agronegócio brasileiro tem sido fundamental para os saldos comerciais positivos do país nas últimas três décadas. É que revela um estudo liderado por Rogério Edivaldo Freitas, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A pesquisa abrange um período de 34 anos, de 1989 a 2022, e demonstra que a exportação de produtos agropecuários apresentaram superávit no saldo comercial em todos os anos analisados.
A partir de 2008, durante a crise financeira global, o Brasil enfrentou um saldo não agropecuário constantemente deficitário, ao passo que os superávits comerciais foram impulsionados pelos produtos agropecuários.
Em 2022, esses produtos responderam por 42% das receitas obtidas pelas exportações brasileiras em dólares. Em contraste, essa proporção era próxima de 25% em 1989.
O estudo identificou mudanças significativas nos principais produtos exportados ao longo dos anos.
Entre 1989 e 1994, resíduos de indústrias alimentares, café e mates, preparações de hortícolas, sementes e oleaginosos, e tabaco e seus manufaturados dominavam, correspondendo a 65% das exportações do agro.
Já de 2014 a 2022, sementes e oleaginosos, carnes e miudezas, açúcares e confeitaria, resíduos de indústrias alimentares e cereais assumiram a liderança, respondendo por 75% dos embarques nesse período.
Além disso, a pesquisa observou uma diminuição significativa nos gastos com importações de alimentos ao longo do tempo. Em 1989, esses gastos representavam em média 12% das importações totais do Brasil, percentual que caiu para cerca de 5% em 2022.
Outro aspecto relevante nesta discussão são os principais importadores dos produtos alimentícios brasileiros. De acordo com dados de 2018 do Brasil, China, União Europeia, Estados Unidos da América, Japão, Irã, Arábia Saudita, Rússia, Hong Kong, Coreia do Sul e Indonésia estão entre os principais compradores do agronegócio brasileiro.
Por outro lado, como mostra a Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2020, os principais importadores de produtos alimentícios incluem União Europeia, Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido, Canadá, Coreia do Sul, Rússia, Hong Kong e México.
Os dados destacam o alinhamento das exportações agropecuárias brasileiras com os países que representam a maior parte da demanda global. Vários fatores influenciam a busca do mercado internacional pelos produtos agropecuários nacionais, incluindo os diferenciais de preço que refletem a relação entre os preços externos e internos dos bens produzidos pelos agricultores e pecuaristas.
Quanto ao futuro, o estudo projeta que produtos como algodão, soja, milho, carnes (suína, bovina e de frango) e frutas, especialmente manga, serão os mais dinâmicos em termos de capacidade exportadora do Brasil nesta década.
No entanto, ele também alerta para a possibilidade de redução da área cultivada para culturas como mandioca, café, arroz, laranja e feijão, embora ganhos de produtividade possam compensar parte dessa diminuição.
No caso do algodão, o Brasil ultrapassou, pela primeira vez, os Estados Unidos como o maior exportador mundial do produto, atingindo uma meta originalmente planejada para 2030. O feito foi alcançado antes do término da safra 2023/2024.
De acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), nesta temporada, estima-se que o Brasil colha aproximadamente 3,7 milhões de toneladas de algodão em pluma e que os embarques atinjam cerca de 2,6 milhões de toneladas.
O estudo ainda destaca regiões estratégicas para as exportações agropecuárias brasileiras, como o Sudeste Asiático, com destaque para a China, além de outras áreas como México, União Europeia, Índia, Oriente Médio, África e América do Sul, cada uma com demandas específicas por produtos brasileiros do setor agropecuário.