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COP26: um dos destaques será a adoção de tecnologias sustentáveis no campo (Wenderson Araujo/CNA/Divulgação)
Um setor comprometido com as metas nacionais e o esforço global para reduzir as emissões de carbono – essa é a imagem que a agropecuária brasileira quer passar para o mundo na COP26, a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece no Reino Unido.
Para isso, no início de outubro, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que participa da delegação brasileira no encontro global, entregou ao governo o posicionamento do setor (veja resumo abaixo) frente às negociações do Acordo de Paris, ponto central da COP deste ano.
Em uma cerimônia virtual acompanhada de debate, o documento foi entregue pelo presidente da instituição, João Martins, ao ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, ao secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, e ao chefe da Área de Mudança do Clima do Itamaraty, André Maciel.
Grande parte do compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris está relacionado ao agronegócio e ao uso da terra, que juntos respondem por mais da metade do volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país, conforme informou a CNA. Por isso a importância da atividade agropecuária para o cumprimento das metas do país.
Na COP26, o setor pretende deixar claro que está pronto para fazer sua parte nesse desafio, além de divulgar para os demais países as suas ações de sucesso na redução de GEE.
“Nossos produtores rurais querem abrir suas porteiras para que o mundo conheça a sustentabilidade dos nossos sistemas produtivos. Queremos compartilhar nossos bons exemplos e qualificar a discussão sobre segurança alimentar com base na ciência, pois foi ela que nos permitiu chegar até aqui. E, certamente, será ela que continuará norteando os nossos passos, em busca da neutralidade das emissões”, declarou o presidente da CNA.
Para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que fez parte da cerimônia, o Brasil terá um papel-chave nas soluções para enfrentar a crise climática e a COP26 será uma oportunidade para evidenciar os compromissos do agro nacional com o tema, como um segmento com ampla capacidade de promover a descarbonização.
Um dos pontos que o governo deve destacar na conferência é a adoção de tecnologias sustentáveis no campo. Esse é um grande diferencial do agro brasileiro para adaptação e enfrentamento das mudanças climáticas, como ressaltou Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroícone, também presente no evento da CNA.
Nesse sentido, a iniciativa mais importante é, certamente, o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária 2020/2030 (Plano ABC+), que define os objetivos estratégicos para uma agricultura de baixa emissão de carbono e a produção sustentável no país até 2030.
Trata-se do maior plano de fomento a tecnologias sustentáveis de produção do mundo, de acordo com a Embrapa, com seis técnicas em seu escopo: floresta plantada, recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, manejo de dejetos animais, integração lavoura-pecuária-floresta.
O programa é uma atualização do Plano ABC, executado entre 2010 e 2020, que teve resultados bastante positivos e se tornou referência internacional de política pública para o setor agropecuário. Entre 2010 e 2018, 52 milhões de hectares foram alcançados, evitando a emissão de 170 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
“A agropecuária brasileira é parte da solução para o enfrentamento do aquecimento global. O ABC+ reflete uma década de aprimoramento de uma política que mostrou a importância de fomentar investimentos em tecnologias e práticas para os sistemas produtivos”, comentou Lima.
Para esta década, o ABC+ prevê alcançar 72,68 milhões de hectares com potencial de mitigação de mais de 1,1 milhão de CO2.
O ministro Joaquim Leite também falou sobre as áreas de floresta nativa mantidas pelos produtores rurais, que têm papel decisivo na preservação ambiental.
A agricultura sustentável não é só o processo de produção, mas também o volume de serviços ambientais que os produtores rurais executam protegendo suas áreas de mata nativa. É uma atividade que muitas vezes passa despercebida, mas que deve ser mostrada claramente na COP26”, comentou.
Dados da Embrapa Territorial dizem que cerca de 220 milhões de hectares das áreas preservadas do Brasil se encontram dentro de propriedades rurais, o equivalente a um quarto do território nacional.
Em média, 48% da propriedade são destinados à conservação da vegetação nativa, fazendo do agricultor brasileiro o único no mundo a utilizar apenas metade de suas terras. A outra metade é preservada, sem qualquer tipo de subsídio ou compensação. O valor do patrimônio fundiário imobilizado chega à casa dos 3,1 trilhões de reais.
“O Brasil espera que o esforço e o investimento dos brasileiros e, especialmente dos produtores rurais, que destinam percentuais significativos de suas propriedades privadas à preservação ambiental, sejam reconhecidos pelo mundo como um ativo ambiental importante e incorporado à qualidade e às características de todos os produtos agrícolas no território brasileiro”, finaliza o documento oficial da CNA.