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Acordo da soja de EUA e China afeta o Brasil? Só em 2026, dizem analistas

Analistas ouvidos pela EXAME dizem que cenário a curto prazo não muda para o grão brasileiro

Soja: De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 94 milhões de toneladas de soja, sendo 73 milhões destinadas à China (Freepik/Freepik)

Soja: De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 94 milhões de toneladas de soja, sendo 73 milhões destinadas à China (Freepik/Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 16h45.

O acordo entre os Estados Unidos e a China, anunciado nesta quinta-feira, 30, não muda o cenário para a soja brasileira até o final do ano, uma vez que o país asiático já reservou e estocou o grão até dezembro de 2025.

Por isso, as atenções do setor se voltam para a soja brasileira que está sendo plantada agora e começa a ser colhida em janeiro de 2026. Historicamente, a China compra o grão do Brasil entre fevereiro e agosto, enquanto dos EUA as compras chinesas ocorrem entre maio e dezembro.

Nesta quinta, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, anunciou que a China compraria 12 milhões de toneladas de soja americana até o final de 2025.

"Estamos nos aproximando de um período em que a exportação de soja pelo Brasil diminui devido à sazonalidade da produção. O escoamento é concentrado nos segundos e terceiros trimestres. A maioria da safra 2024/25 já foi escoada. Agora, devemos focar no ciclo 2025/26, que é a safra que os EUA estão colhendo neste momento, enquanto nós começamos a plantá-la no mês passado", explica a Datagro, consultoria agrícola.

De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 94 milhões de toneladas de soja, sendo 73 milhões destinadas à China. No mesmo período de 2024, os embarques somaram 89,5 milhões de toneladas, com 65,5 milhões indo para o país asiático.

Por outro lado, desde maio até a semana passada, a China não havia comprado soja dos EUA. No entanto, segundo a Reuters, o país retomou as importações do grão americano na quarta-feira, 29, com 180 mil toneladas adquiridas.

"Mesmo que os 12 milhões de toneladas prometidos no acordo sejam efetivamente embarcados, o somado ao que já foi exportado para a China neste ano (em torno de 6 milhões de toneladas) ficará bem abaixo do volume exportado em 2024, que foi de quase 27 milhões de toneladas", diz Joana Colussi, professora da Universidade de Purdue.

A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) projeta que o Brasil deve ultrapassar a marca de 102 milhões de toneladas de soja exportadas em outubro, aproximando-se do recorde de 110 milhões de toneladas projetado para 2025. Desse total, 80% deve ser embarcado para a China.

Historicamente, Brasil e Estados Unidos são os principais fornecedores de soja para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas de soja. Desse total, 71% vieram do Brasil e 21% dos EUA, mostram dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta quinta nas redes sociais que a China compraria "grandes volumes de soja americana imediatamente". Embora não tenha detalhado a quantidade, o anúncio faz parte de um acordo costurado entre ele e o líder chinês Xi Jinping sobre a guerra comercial.

"12 milhões de toneladas é um volume relevante, mas corresponde a quase metade, ou até um pouco menos, do que a China normalmente compra da safra americana. O grande ponto é até quando isso pode se sustentar", afirma Rafael Silveira, analista da Safras & Mercado.

Acordo entre EUA e China

Segundo Bessent, a China deve comprar 25 milhões de toneladas de soja dos EUA nos próximos três anos, o que, na prática, representa um retorno à normalidade nas exportações de soja americanas para o país asiático.

Para Marcos Jank, professor do Insper Agro, o setor agropecuário brasileiro precisa estar atento a esse movimento. Ele explica que, caso a China retire as tarifas de 34% sobre a soja dos EUA, o Brasil pode perder espaço no mercado chinês. Até 2017, antes da guerra comercial iniciada por Trump, a soja americana tinha tarifa zero.

"Se as tarifas forem reduzidas a zero, a competição será direta com o Brasil. No entanto, se for criado algum tipo de privilégio para a soja americana em detrimento da soja da América do Sul, o Brasil pode, de fato, perder mercado", afirma.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima que as exportações agrícolas dos EUA para a China somarão US$ 17 bilhões em 2025, uma queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% em comparação com 2022.

O Brasil deve bater um recorde de exportação de soja em 2025, com previsão de enviar 112 milhões de toneladas até janeiro de 2026, com a China, principal compradora, sendo o destino majoritário, diz a Datagro, consultoria agrícola.

De acordo com José Pimenta Junior, diretor de Comércio Internacional e Relações Governamentais na BMJ Associados, o cenário da safra 2025/26 dependerá, em grande parte, do tipo de acordo que, se houver, será firmado entre Trump e Xi Jinping. “Esse é o ponto principal: se realmente houver algum acordo”, diz.

"Nos últimos anos, devido à volatilidade nas relações com os Estados Unidos, a China passou a ter uma complementariedade produtiva muito mais forte com a América do Sul, especialmente com o Brasil e a Argentina. Isso não deve mudar", finaliza.

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