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(Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 24 de novembro de 2024 às 06h49.
Se o Brasil tem uma área planta de 78 milhões de hectares, cerca de 2 milhões são cultivados com as sementes da Oilema, empresa de Carminha Gatto Missio, integrante do grupo Irmãos Gatto Agro e conhecida como “a rainha das sementes do Nordeste”. Para se ter uma ideia da dimensão, os insumos de Missio poderiam cobrir uma área equivalente a 2 milhões de campos de futebol.
Gaúcha de nascimento, mas baiana de coração, Missio vive em Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, um dos principais polos de produção de grãos e algodão do Brasil.
Formada em direito, Missio já trabalhou como costureira e artista plástica, mas hoje se dedica completamente ao universo da agricultura. Sua conexão com a região começou na década de 1980, embora tenha se mudado para Luís Eduardo Magalhães apenas em 2005, após concluir sua graduação em direito no Mato Grosso do Sul.
A família de origem italiana morava em Espumoso, no Rio Grande do Sul. Em 1985, parte dos familiares decidiu migrar para Luís Eduardo Magalhães em busca de terras maiores para a produção de grãos, com o objetivo de melhorar a situação financeira.
Naquela época, como relata Missio, a agricultura ainda era pouco explorada no oeste da Bahia. Mesmo sem grande conhecimento sobre o clima da região e os desafios do solo arenoso, tão diferente do solo gaúcho, a família apostou na mudança de estado e na adaptação.
“Nossa produção de sementes de grãos, como soja e sorgo, possui mais de 25 anos de existência oficial. Somos um grupo familiar composto por oito sócios fundadores — seis irmãos meus, além de mim e meu esposo. Hoje, a empresa está bastante profissionalizada e autônoma na sua gestão, mas nasceu de uma iniciativa familiar”, afirma Missio à EXAME.
Em Espumoso, Missio foi criada pelos pais junto com mais nove irmãos. Desde cedo, desejava continuar o trabalho da família, mas não tinha como se desenvolver na região. Durante as décadas de 1950 e 1960, período de sua infância, a única opção de ensino era a escola rural da comunidade.
Na vila do Arroio da Prata, um distrito do município onde cresceu, havia uma igreja, um pavilhão para encontros comunitários e uma escola onde uma professora lecionava para várias classes ao mesmo tempo, em uma única sala.
Embora tenha concluído o ensino fundamental nessa escola, Missio só terminou o ensino médio aos 45 anos, após fazer um supletivo de três meses. “Nunca tivemos a chance de obter um aprendizado técnico que atendesse aos nossos sonhos. Por isso, tivemos que aprender a superar desafios por conta própria”, diz.
Seu momento de "despertar" aconteceu em um sindicato de trabalhadores rurais, onde encontrou a direção que queria seguir. Foi durante um curso de gestão em propriedades rurais, voltado para agricultores de subsistência, que Missio deu início à sua transformação. “Foi ali que percebi que queria ir além e que estava pronta para sonhar grande”, afirma.
Nos anos 1980, quando começou um movimento para desenvolver a agricultura no oeste baiano, a família de Missio, liderada inicialmente pelo pai, mudou-se para a Bahia. Na época, a região era vista como estéril, o que representava um grande desafio.
“Não éramos grandes investidores; éramos pessoas simples, como minha família, enfrentando dificuldades financeiras, com muitos filhos e em uma situação econômica delicada”, conta Missio. E continua: “Felizmente, fomos muito bem acolhidos pelos baianos, que nos receberam com amor e carinho. Eles nos deram apoio”, afirma a empresária.
No final dos anos 1990, Carminha e seu marido se uniram em sociedade ao grupo agrícola formado pelos irmãos dela, criando uma nova empresa de sementes. A iniciativa nasceu da estrutura embrionária e organizada dos irmãos Gatto, mas ganhou impulso com a visão de Carminha e o entusiasmo e experiência de seu marido, Celito Missio.
Com o desenvolvimento da região, os negócios da família começaram a prosperar, representando uma grande virada. Antes mesmo da criação da Lei de Proteção de Cultivares, já existia uma troca ou comercialização informal de sementes, quase como um escambo, “que acabou se transformando em um negócio estruturado”, afirma Carminha.
A Lei de Proteção de Cultivares foi sancionada em 25 de abril de 1997, com o objetivo de reconhecer os esforços e resultados das pesquisas aplicadas ao agronegócio. Essa legislação estabelece uma modalidade de propriedade intelectual que permite aos melhoristas de semente protegerem as novas variedades vegetais desenvolvidas.
“A gente produz o cimento certificado, que é registrado no Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), tudo de acordo com as exigências da lei. Também produzimos soja, milho, feijão, um pouco de arroz e várias outras culturas que servem para alimentar os animais”, afirma ela.
O novo marco legal, estabelecido ainda naquele ano, determinou que novas modalidades desenvolvidas a partir de pesquisas só poderiam ser multiplicadas por agricultores inscritos no Ministério da Agricultura. que tudo, levar os liderados a essa compreensão.
A Sementes Oilema, apesar de atender todo o Brasil, concentra suas atividades na região do Matopiba, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Conhecida como a “última fronteira agrícola do país”, o Matopiba corresponde atualmente a 7,4 milhões de hectares.
A soja é o principal produto da empresa, que cultiva mais de 40 variedades do grão. Mas o objetivo de Missio é investir cada vez mais no cultivo de sorgo. Segundo ela, cerca de 2,5% da soja brasileira é produzida com sementes da Oilema.
Além disso, a empresa se destaca como uma das cinco produtoras de sementes mais respeitadas do Brasil e deve crescer entre 5% e 10% na safra 2024/25. Quase 70% das vendas são feitas diretamente para o agricultor.
“Nossa prioridade é clara: aumentar a produtividade para o consumidor final, garantindo que ele não precise ampliar suas áreas produtivas. O nosso grupo tem como diferencial o compromisso com a qualidade, algo pelo qual zelamos profundamente”, afirma Missio.
Os planos para o futuro incluem um processo de sucessão familiar, que já está em andamento. Para Missio, mesmo sendo herdeiros, os sucessores precisam estar preparados para gerir o negócio. Ela e os oito sócios apostam na formação profissional para garantir a sustentabilidade econômica e financeira da empresa.
“Para preparar nossos herdeiros, contamos com uma consultoria de uma universidade, professores renomados e uma parceria com uma universidade americana. Estamos focados em garantir que, independentemente de serem herdeiros, eles tenham o conhecimento necessário para conduzir os negócios de forma eficiente”, afirma Missio.
Além de empresária, Carminha Missio é também agricultora. Atualmente, exerce o cargo de vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb) e coordena o programa Faeb Mulheres.