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550 galinhas por pessoa: como a gripe aviária mudou os planos da 'capital do ovo'

Município, a 430 quilômetros de São Paulo, mudou data de sua principal festa anual

Bastos: município, o maior produtor de ovos do estado e um dos maiores do país, tem na avicultura 70% de sua base econômica. (BASTOS/Divulgação)

Bastos: município, o maior produtor de ovos do estado e um dos maiores do país, tem na avicultura 70% de sua base econômica. (BASTOS/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 29 de maio de 2025 às 17h09.

Bastos, município no interior de São Paulo, carrega o título de capital nacional do ovo. A cidade e seu entorno, que ficam a 430 quilômetros da capital, são responsáveis, anualmente, pela produção de 6,6 bilhões de unidades de ovo, cerca de 11,5% da produção total do estado, segundo dados da Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA).

É na cidade, que tem 11 milhões de galinhas — número maior que sua população de 20 mil habitantes — que acontece, há 64 anos, a Festa do Ovo.

O evento, que movimenta R$ 20 milhões em negócios, teve de mudar a sua data, pela primeira vez, em função de uma doença que pode pôr em risco toda a economia bastense: a gripe aviária.

A decisão foi anunciada na tarde desta quarta-feira, 28, pelos realizadores do evento — a Prefeitura de Bastos, a Associação Cultural Nikkey (Acenba) e o Sindicato Rural, entidade que representa os avicultores de Bastos e região. A festa, que seria em julho, acontecerá entre os dias 27 e 31 de agosto.

“Tomamos essa decisão em conjunto para favorecer a economia porque a cadeia produtiva da avicultura favorece, somente em Bastos, 3.000 trabalhos diretos e 10.000 indiretamente”, disse Kleber Lopes (PL), prefeito do município.

Desde o caso confirmado de gripe aviária em uma granja comercial, em Montenegro, no Rio Grande do Sul, Bastos está em alerta.

O município, o maior produtor de ovos do estado e um dos maiores do país, tem na avicultura 70% de sua base econômica, o que significa uma região largamente atrelada à produção de ovos, seja com empregos diretos e indiretos, seja com uma rede de produção de insumos, tecnologia e indústrias que atendem e dependem da avicultura regional.

“Foi uma decisão muito difícil de tomar, mas estamos pensando num bem maior. Nós estamos falando da economia do município, da preservação da atividade primária da nossa cidade”, disse Cristina Nagano, presidente do Sindicato Rural.

Na avaliação de Luizinho Caron, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves e médico-veterinário, os temores do setor são justificáveis, já que a doença pode se espalhar e pôr em risco toda a economia local.

Segundo o pesquisador, a gripe aviária de alta patogenicidade, causada pelo vírus Influenza A (H5 e H7), pode matar até 100% do plantel infectado em poucos dias e, muitas vezes, também dos animais em risco na vizinhança, para evitar a propagação.

Portanto, o controle é rigoroso e rápido, visando preservar o restante da produção e garantir a sanidade do setor. Um surto em granjas comerciais pode gerar abates sanitários em massa, como o que aconteceu nos Estados Unidos.

No caso de Bastos, a escolha de uma nova data para a Festa do Ovo levou em consideração que o novo período fica no intervalo entre os meses de maio e setembro, época que inclui os meses de migração das aves silvestres no Brasil, um dos principais vetores da gripe aviária.

“Transferir a Festa do Ovo para a última semana de agosto foi muito estratégico para que possamos acompanhar daqui para a frente o esfriamento dos casos da doença no país”, disse a presidente do sindicato.

Gripe aviária no Brasil

Último dado disponível do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), desta quinta-feira, 29, mostra que, até o momento, o país soma 170 focos de gripe aviária, sendo 166 detectados em aves silvestres, três em animais de subsistência e uma granja de produção comercial, também em Montenegro.

Segundo o Mapa, seis casos estão em investigação.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse, na última segunda-feira, 26, que o caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul está contido.

Segundo ele, não há dúvida de que o Brasil vai se declarar livre da doença nos próximos 22 dias, a partir da desinfecção total do estabelecimento.

Em sua última atualização, o Mapa informou que o Kuwait suspendeu as exportações de produtos avícolas do Brasil. Segundo a pasta, 24 países e a União Europeia suspenderam totalmente a compra da proteína brasileira e seus derivados desde a confirmação de gripe aviária no último dia 19.

O Mapa também informou que a Macedônia do Norte ampliou sua restrição do estado do Rio Grande do Sul para todo o Brasil. Por outro lado, a Namíbia flexibilizou sua medida, restringindo agora a importação apenas ao estado do Rio Grande do Sul.

O ministério ressalta que o consumo de carne de aves e de ovos não apresenta risco para a saúde.

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