Repórter
Publicado em 13 de julho de 2025 às 16h25.
Última atualização em 13 de julho de 2025 às 16h26.
A plataforma do Google se consolidou como a concorrente mais direta e perigosa da Netflix. Hoje, os dois serviços concentram juntos 20% do tempo de consumo de TV. Os dados são um recorte dos Estados Unidos, feito pela prestigiada Nielsen, e mostram uma clara vantagem para o YouTube: 12,5% contra 7,5% da Netflix. Em 2022, essa diferença era de apenas meio ponto percentual. Agora são cinco. Essa mudança de cenário reflete uma nova fase na guerra do streaming.
Antes, as plataformas brigavam para aumentar o número de assinantes. Agora, o objetivo é prolongar ao máximo o tempo que os usuários passam conectados — e nesse critério, YouTube e Netflix estão bem à frente dos demais. Disney, com todos os seus serviços somados (Disney+, Hulu e ESPN+), responde por 5% do tempo de TV nos EUA. A diferença de estratégias entre as duas gigantes é clara. A Netflix investe bilhões para produzir ou licenciar filmes, séries, documentários e realities.
Ela banca os custos e geralmente mantém os direitos das produções. Já o YouTube funciona como uma plataforma aberta: qualquer pessoa pode enviar vídeos, bancando os custos iniciais, mas recebe uma parte da receita gerada pelos anúncios. Em geral, esses criadores mantêm os direitos sobre o próprio conteúdo.
Enquanto a Netflix se orgulha de seu catálogo cuidadosamente selecionado, o YouTube virou sinônimo de variedade absoluta, com vídeos de gatos, música, podcasts e tutoriais de todos os tipos. Em qualquer momento do dia, cerca de 7 milhões de americanos estão assistindo ao YouTube na TV, contra 4,7 milhões que assistem à Netflix. No horário nobre, a diferença diminui, mas o YouTube ainda lidera com 11,1 milhões contra 10,7 milhões.
Essa competição cada vez mais declarada mudou até o discurso dos executivos. Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, chamou o YouTube de “liga de base” para criadores, sugerindo que a plataforma do Google serve para experimentar ideias antes que elas virem produções com investimento pesado. “Existe uma diferença entre gastar tempo e matar tempo”, disse Sarandos, defendendo a Netflix como a escolha de quem quer prestar atenção de verdade no que assiste.
Neal Mohan, CEO do YouTube, rebateu de forma diplomática, afirmando que os usuários é que decidem como gastar o tempo. Em um evento recente na França, ele ironizou ao falar sobre o que andava assistindo: “Era um documentário sobre o Brett Favre... no Netflix. Não sei se estava matando tempo ali.”
Essas farpas públicas ilustram como a rivalidade se intensificou. A Netflix começou a licenciar conteúdos de criadores populares do YouTube, como o programa infantil “Ms. Rachel”, que migrou com sucesso para o serviço de streaming. Também há negociações com canais conhecidos como Mark Rober, Dude Perfect e Gracie’s Corner.
Os números explicam o nervosismo. Em 2024, a Netflix faturou US$ 39 bilhões, com mais de 300 milhões de assinantes e mais de US$ 10 bilhões de lucro operacional. O YouTube, por sua vez, teve receita de US$ 54 bilhões — atrás apenas da Disney — com lucro operacional estimado em quase US$ 8 bilhões. E analistas acreditam que o YouTube deve ultrapassar a Disney em receita ainda este ano.
Além do alcance gigantesco, o YouTube tem uma vantagem competitiva importante: dados. Com bilhões de uploads diários, a plataforma consegue oferecer recomendações altamente personalizadas, algo que até os melhores algoritmos da Netflix não conseguem replicar com o mesmo nível de precisão. Jason Kilar, ex-CEO da Hulu e da WarnerMedia, resumiu a diferença: “Quando você abre o YouTube, recebe uma curadoria muito mais cirúrgica de conteúdo do que qualquer streamer tradicional consegue oferecer.”
Os dois serviços competem não apenas entre si, mas também contra outras forças no entretenimento digital. No celular, enfrentam a popularidade explosiva do TikTok e os reels do Instagram. E embora a Netflix continue avançando sobre os rivais de Hollywood, analistas veem no YouTube um potencial maior de crescimento, especialmente entre os mais jovens e os fãs de vídeos curtos.
Hoje, os dois gigantes simbolizam modelos opostos: a Netflix como um ecossistema fechado, que controla cada detalhe do catálogo, e o YouTube como um palco aberto para qualquer criador. Mas ambos perseguem o mesmo objetivo: conquistar e manter a atenção do público por mais tempo — porque, no fim, a audiência é o novo rei.