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Redatora
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 19h29.
O sucesso dos “supertênis” não impediu a Nike de investir em tecnologias ainda mais inovadoras para aprimorar o desempenho nos treinos. Em meio a um plano de recuperação financeira, a gigante esportiva aposta na fusão entre robótica e neurociência para impulsionar a performance — e o principal exemplo é o Project Amplify, seu primeiro tênis motorizado.
O protótipo é fruto de uma parceria entre a marca norte-americana e a Dephy, empresa reconhecida por seus calçados biônicos. Diferente dos modelos convencionais, o Project Amplify conta com um motor instalado na região do calcanhar, uma corrente de transmissão e baterias acopladas à panturrilha, integradas a um tênis com placa de carbono. O sistema sincroniza o impulso ao movimento natural do corpo, reduz o esforço físico e aprimora a eficiência da passada. Tudo isso é possível graças a algoritmos desenvolvidos pelo Nike Sport Research Lab.
A tecnologia, porém, é opcional. A parte motorizada pode ser removida, transformando o modelo em um tênis comum. “O Project Amplify é, essencialmente, sobre adicionar mais potência à sua passada de forma natural. A diversão está em perceber que você pode fazer mais do que imaginava — seja lá o que ‘mais’ signifique para você”, disse Michael Donaghu, vice-presidente de Create The Future, Emerging Sport and Innovation da Nike.
A novidade animou fãs da marca, mas ainda deve demorar para chegar ao mercado: o lançamento está previsto apenas para 2028. Até lá, a Nike continua a fase de testes com o modelo, que já acumula mais de 400 atletas e 2,4 milhões de passos registrados em nove versões do protótipo.
Além do tênis robótico, a Nike também aposta na neurociência e em tecidos inteligentes para expandir sua linha de produtos voltada à performance. A tecnologia Aero-FIT traz um sistema de resfriamento capaz de canalizar o dobro do fluxo de ar em comparação com outros materiais da marca, e é produzida integralmente a partir de resíduos têxteis reciclados.
Outros lançamentos previstos para 2026 incluem os modelos Nike Mind 001 mule e Mind 002 sneaker, desenvolvidos para melhorar o foco e o conforto dos atletas. O primeiro oferece praticidade e amortecimento para o pré e pós-treino, enquanto o segundo fixa o pé à palmilha, aumentando a sensação de estabilidade e controle. Já o Therma-FIT Air Milano combina a tecnologia Nike Air a jaquetas e moletons, permitindo ajustar o calor ao inflar ou esvaziar o ar nas câmaras internas das peças.
As novas apostas mostram que a Nike quer ir além dos tênis — e redefinir como o corpo e a tecnologia se conectam no esporte.
Em um mundo com cada vez mais corredores — a corrida foi o esporte mais praticado no último ano, segundo relatório da Strava —, a Nike busca se distanciar dos concorrentes com uma inovação que redefine o conceito de performance. Enquanto outras marcas apostam em espumas de carbono, tecnologia que revolucionou o running na década de 2010, a empresa avança com a proposta do tênis motorizado.
A Asics, por exemplo, investe em tecidos texturizados que melhoram o ajuste e a respirabilidade dos calçados, com cabedal flexível e modelos que ampliam a velocidade por meio de repulsão. Já a Adidas, rival direta da Nike, se destaca com a tecnologia BOOST, de amortecimento leve e responsivo, que oferece retorno de energia por meio de placas de carbono. Ainda que eficientes, essas inovações passam a parecer ultrapassadas diante do novo modelo da Nike, que pode forçar as concorrentes a desenvolverem versões semelhantes.
Essa corrida por inovação, no entanto, não se limita às empresas — também atinge os próprios atletas. Modelos motorizados, como o Project Amplify, podem impactar de forma significativa as provas de rua, gerando desigualdade entre competidores com diferentes recursos financeiros. A tendência também deve levar federações esportivas a rever regulamentos e definir se o uso desses calçados será permitido — como já ocorre com tênis que ultrapassam o limite de 40 mm de plataforma.
O tênis robótico marca o início de uma nova era no esporte, em que inovação, ciência e acessibilidade precisarão caminhar lado a lado para não deixar nenhum corredor para trás.