Tecnologia

CEO da DE-CIX defende aliança atlântica para fazer a IA salvar vidas

Ivo Ivanov propõe parceria entre América Latina, Europa e África para ampliar acesso digital e permitir desde cirurgias remotas até o uso de robôs em emergências médicas

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 29 de outubro de 2025 às 08h41.

Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 08h49.

LISBOA | “Não construímos infraestrutura digital por construir. Construímos para servir empresas, usuários e salvar vidas”, afirmou o búlgaro Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX, ao descrever a missão — muitas vezes invisível — da operadora alemã de pontos de troca de tráfego (Internet Exchange, ou IX) na sustentação da economia digital. Com atuação global, a empresa tem ampliado sua presença no Brasil, onde já opera hubs estratégicos em São Paulo e no Rio de Janeiro, e busca agora adaptar suas redes para suportar as novas exigências impostas pela inteligência artificial generativa

Durante o Atlantic Convergence, evento da empresa que acontece nesta quarta-feira, 29, Ivanov propôs o aprofundamento das parcerias tecnológicas entre América Latina, Europa e África para promover investimentos em cabos submarinos, centros de dados e plataformas de interconexão digital. O objetivo, segundo ele, é transformar Portugal em um ponto de entrada resiliente, sustentável e neutro para conectar continentes e suportar aplicações críticas de IA, como a medicina à distância.

Parceria atlântica é chave para IA ter impacto real e global, diz CEO da DE-CIX

O executivo defendeu a criação de uma nova camada de colaboração, chamada AI Exchange — ou AIX —, uma comunidade virtual que integra diferentes pontos da cadeia de inteligência artificial, do treinamento à inferência de modelos. Essa abordagem busca aproximar o processamento de dados de onde ele é mais necessário, especialmente em casos em que cada milissegundo conta.

Ivanov destacou o papel da infraestrutura digital no suporte à saúde de forma direta: “Estamos falando de ambulâncias conectadas em tempo real, com robôs cirúrgicos operados por especialistas a quilômetros de distância. Isso não é ficção científica. Já acontece”, afirmou.

Em um dos exemplos citados, uma cirurgia remota bem-sucedida foi realizada por um médico em Miami em um paciente em Angola, com apoio de redes redundantes e interconexões confiáveis.

Ivanov apresentou ainda o conceito de controle adaptativo por IA em robôs cirúrgicos. Nessa modalidade, a máquina não apenas executa os comandos do médico, mas os otimiza em tempo real, podendo inclusive oferecer retorno tátil, permitindo que o cirurgião sinta a resistência do tecido e ajuste o procedimento remotamente.

Desigualdade digital e urgência de expansão

Em sua análise, Ivanov alertou para a discrepância no acesso a serviços de saúde globalmente. “Cerca de 50% da população mundial não tem acesso essencial à saúde, e 40% não consegue chegar a um hospital em até uma hora”, destacou. A falta de infraestrutura digital nesses locais compromete o potencial de impacto da IA.

O desafio é acentuado quando se observa a distribuição de grandes centros de dados, os chamados hyperscalers. Enquanto os Estados Unidos concentram centenas dessas unidades, a América Latina conta com apenas dez, e o continente africano, apenas um. “A computação está centralizada, mas os dados estão por toda parte. Precisamos levar os dados ao poder computacional de forma segura e eficiente”, explicou.

A proposta da DE-CIX é apoiar essa descentralização por meio da interligação de pequenos e médios data centers regionais, criando uma comunidade virtual capaz de oferecer GPU as a service — infraestrutura de processamento gráfico sob demanda, essencial para aplicações de IA.

Ao propor a integração atlântica, Ivanov posiciona Portugal como elo logístico e simbólico entre continentes. A infraestrutura de cabos submarinos e os investimentos em conectividade neutra e sustentável no país tornam Lisboa um ponto natural de articulação entre Europa, África e América Latina.

Para ele, a responsabilidade do setor vai além da inovação técnica: “Cada segundo que passamos navegando no Google hoje já envolve inteligência artificial. Isso está em nossos bolsos, em nossas casas, nas estradas. A questão agora é garantir que essa tecnologia beneficie todos”, concluiu.

O jornalista viajou a convite da DE-CIX.

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