Marisa Maiô: fenômeno da internet, apresentadora de IA se torna influenciadora (Reprodução/ Canal do Rao)
Repórter de POP
Publicado em 7 de junho de 2025 às 15h52.
Última atualização em 7 de junho de 2025 às 15h53.
"Agora a IA foi longe demais". Esse é um dos comentários mais frequentes nos vídeos de Marisa Maiô, apresentadora de um programa de auditório que se tornou um fenômeno nas redes sociais. Se você não a conhece, não se preocupe: ela não é de verdade.
Com a ascensão do modelo Veo3 do Google, ferramenta que cria vídeos ultrarrealistas com inteligência artificial, centenas de conteúdos humorísticos tomaram as redes sociais com figuras bíblicas, históricas ou apenas pessoas "normais" que não existem. Marisa Maiô é uma delas. E até publicidade já "fechou".
Neste sábado, 7, a apresentadora de IA "assinou" seu primeiro merchandising com o Magazine Luiza, em uma campanha feita para o Dia dos Namorados. O vídeo faz piadas com relacionamentos amorosos e, ao final, destaca o sortimento de produtos oferecidos pelo Magalu para presentear no próximo dia 12.
Com o "Programa Marisa Maiô", que simula um auditório e se baseia em talk shows já reconhecidos dos brasileiros — "Casos de Família" e "Programa do Ratinho", do SBT, "A Hora da Venenosa", da Record, ou "Programa do Faustão", na época do TV Globo —, Marisa viralizou nas redes sociais. Já são mais de 3 milhões de visualizações em vídeos publicados no Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok.
O conteúdo mostra recortes de quadros, ao longo do programa, com cenas humorísticas que seriam irreais em programas já existentes e com apresentadores de verdade. Mas no caso de Marisa, como é tudo feito por IA, os comentários e dinâmicas ultrapassam os limites do absurdo e criam, com isso, vídeos engraçados que já estão repercutindo em todos os cantos da internet.
Em um deles, a apresentadora faz uma pergunta para uma médica sobre o que é necessário para parar de ter espinhas, e a resposta é direta: "É só parar de ter", ao que Marisa responde "obrigada, gente! Essa foi a inútil da médica". A reação da plateia, que também é simulada pela IA, leva a conversa a um novo nível de comédia, com gargalhadas e palmas perfeitamente reproduzidas.
Por trás do 'meme', o idealizador do programa e da personagem é Raony Phillips, já reconhecido pelos vídeos virais feitos para internet. É dele a famosa websérie "Girls in The House", criada no jogo The Sims Studio, em 2015, que teve cinco temporadas. Os episódios estão disponíveis nas redes do influenciador e no YouTube.
Na prática, Marisa é uma mistura de carisma e deboche, e seu estilo irreverente de entrevistar "especialistas" e responder aos dramas dos convidados cativou o público. A criatividade para mesclar a ferramenta de IA aos programas que tidos como "patrimônios" brasileiros, como "Casos de Família", são "o puro suco do Brasil", descrevem vários dos usuários no Instagram e TikTok.
Mas faz pensar: até onde vai chegar a inteligência artificial e quais as consequências que ela representa para o mercado de marketing e audiovisual do Brasil?
Além de Marisa, outros conteúdos de IA têm se tornado virais nas redes. Fica fácil se confundir.
Nas últimas semanas, viralizou um vídeo que mostrava uma mulher discutindo com uma comissária de bordo por ser impedida de levar seu "canguru de apoio emocional" a bordo. O animal figurava no meio das duas, com os olhos brilhando, enquanto segurava a passagem de avião. Virou notícia nos jornais, abriu um caloroso debate sobre a possibilidade ou não de ter esses animais dentro de aviões. O vídeo, claro, foi gerado por IA.
Os "vlogs" de figuras marcantes na História ou bíblicas também se tornaram um hit no TikTok, mas são, em geral, mais conscientes. A ideia é apresentar uma informação histórica em um formato diferente, mais próximo do que as novas gerações encontram nas redes sociais, para criar um vínculo mais íntimo.
Fora da bolha dos "memes" no TikTok, já existem entidades públicas fazendo uso da IA em canais oficiais. É o caso de uma recente propaganda da prefeitura de Ulianópolis, município do Pará, para divulgação do circuito cultural da cidade: o vídeo todo é falso, e foi publicado nas redes sociais da prefeitura sem aviso ao usuário.
Na indústria do cinema do streaming, a IA também está ameaçando empregos. Em um mundo no qual é possível gerar automaticamente cenário, trilha sonora, efeitos especiais e um ator treinado à maneira de quem o cria, já com figurino e com baixo orçamento, fazer parte da indústria criativa original fica mais complicado.
Não significa que a mudança será de uma hora para outra. Chovem comentários nas redes sobre como as pessoas geradas por IA em vídeo tem o "olhar vazio", e o movimento parece mais robótico. Mas antes — e isso nem é há tanto tempo assim — era ainda mais difícil recriar cenas completas que, hoje, já são confundidas por muita gente. Resta ver uma maneira de usá-la de forma ética e como aliada, não inimiga.
Apesar dos vídeos ultrarrealistas, há maneiras de identificar que um vídeo é real ou fake.
Pele muito perfeita, olhar "vazio" ou desalinhado, desconexão entre áudio e vídeo, sombras incoerentes e movimentos "borrados" são sinais de que aquele conteúdo pode ter sido feito por inteligência artificial. Há outros detalhes que também ajudam na identificação, como objetos que "somem" de cena ou mudam de forma, número de dedos nas mãos ou pés, simetria excessiva e cores muito vibrantes e saturadas além do normal.
Algumas redes sociais e sites também avisam ao usuário se aquele vídeo é real ou feito por IA. É o caso do TikTok, que foi uma das redes pioneiras entre as demais do setor para criar uma ferramenta de inteligência artificial capaz de reconhecer produções que fazem uso da ferramenta. O aviso fica disponível na parte debaixo do vídeo para o usuário, com a seguinte mensagem: "conteúdo gerado por IA" ou "rotulado pelo criador como gerado por IA".
O mesmo vale para as ferramentas que as criam. O Veo, por exemplo, deixa uma marca d'água discreta no canto inferior direito da tela.