Pop

Do trailer ao cinema: esse modelo inédito de distribuição quer aumentar a bilheteria no Brasil

Hurst Capital faz parceria com Retrato Filmes para lançamento de estrutura de co-investimento voltada à distribuição de filmes brasileiro com potencial internacional

Cinema nacional: nova maneira de investir em distribuição (Freepik)

Cinema nacional: nova maneira de investir em distribuição (Freepik)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 06h02.

Tudo sobreCinema
Saiba mais

Depois do sucesso de "Ainda Estou Aqui", o Brasil iniciou uma retomada na bilheteria do cinema nacional. Foram mais de 125 milhões de ingressos vendidos no ano passado, que geraram receita de R$ 2,5 bilhões, segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Mas o valor ainda é abaixo do arrecadado antes da pandemia — e poderia ser maior se as produções brasileiras e internacionais independentes tivessem uma melhor distribuição.

A dificuldade é, sobretudo, financeira. Entre outros pontos, há pouco espaço (e capital) para entrar nas salas e veicular os filmes pelo tempo necessário para gerar lucro. E o investimento é fundamental para o bom desempenho de bilheteria: a distribuição concentra o maior retorno financeiro da cadeia audiovisual, uma vez que conecta os filmes prontos ao público final nas salas de cinema, TVs e plataformas de streaming.

Existem alternativas que visam resolver a falta de recursos financeiros para essa etapa. Uma delas, desenvolvida pela Hurst Capital em parceria com a distribuidora Retrato Filmes, e anunciada com exclusividade à EXAME, é a aposta em uma nova lógica de investimento, com foco no desempenho comercial de filmes já finalizados e com alto potencial de receita.

“Investir em cinema deixou de ser utopia artística. Agora, é uma decisão de mercado. O audiovisual abre caminho para quem busca rentabilidade com propósito e uma boa história para contar”, explica Arthur Farache, CEO da Hurst Capital.

Cinema com distribuição em investimento lucrativo

A iniciativa consiste em uma estrutura inovadora de co-investimento voltada à distribuição de obras com reconhecimento internacional. A parceria já garantiu os direitos de exibição de três filmes da competição oficial do Festival de Cannes 2025: "Sirat", "Woman and Child" e "Two Prosecutors", além do espanhol "Sorda", premiado no Festival de Berlim. Os títulos serão lançados comercialmente no Brasil entre o fim de 2025 e início de 2026, com recebíveis distribuídos ao longo da exploração comercial.

“Distribuir bem é mais do que colocar um filme em cartaz. É construir uma audiência, criar relevância e gerar receita com inteligência. E isso pode ser tão lucrativo quanto estratégico”, afirma Laura Rossi, head de Investimentos em Audiovisual da MUV Capital, divisão da Hurst especializada em entretenimento.

Com aportes a partir de R$ 10 mil, o modelo oferece aos investidores participação proporcional no resultado das obras, o que dilui o risco por meio de um portfólio diversificado e com títulos já licenciados. A estrutura prevê retorno estimado de 23% ao ano, com prazo de oito meses, respaldada por contratos com exibidores e streamings já em negociação.

O projeto já chega com resultados evidentes. Produções da Retrato Filmes, nova distribuidora fundada por especialistas com mais de 30 anos de experiência na distribuição de filmes, geraram R$ 20 milhões em receita em 2024.

“A parceria com a Muv Capital potencializa um movimento que já vínhamos construindo com muito cuidado: apostar em filmes que nos representam como curadores e que têm potência real de diálogo com o público. Nosso catálogo tem produções e coproduções brasileiras que nos enchem de orgulho, e agora ganha um braço internacional que reforça esse compromisso com obras relevantes, provocadoras e de alta qualidade”, afirma Felipe Lopes, cofundador da Retrato Filmes.

Iniciativas públicas de fomento ao audiovisual brasileiro

A iniciativa surge também como resposta à ausência da atualização nas políticas públicas de fomento à distribuição. E o crescimento do setor audiovisual, combinado à transformação digital e à expansão dos canais de exibição, abriu espaço para uma nova geração de investidores culturais.

“O capital privado está assumindo um papel essencial na sobrevivência e renovação do setor audiovisual. Não se trata apenas de viabilizar filmes, mas de fazer com que eles sejam vistos", afirma Farache. “Ao participar da distribuição de filmes, o investidor não atua mais apenas como espectador ou patrocinador, mas como agente ativo no sucesso de uma obra com direito a retorno financeiro proporcional ao seu desempenho”, acrescenta.

Até o momento, o Brasil conta com poucas políticas públicas que fomentam a distribuição dos conteúdos audiovisuais. As mais representativas para essa etapa são a cota de tela, que obriga as salas de cinema a exibir uma porcentagem mínima de filmes brasileiros, e editais para financiamento e distribuição, como o Andai da Ancine, com investimento mínimo de cerca de R$ 250 mil por projeto.

Ainda que sejam essenciais, os valores negociados inicialmente das políticas são, em geral, baixos para garantir uma boa distribuição pelo Brasil. Conforme apurou a EXAME, os gastos somente com essa etapa em território nacional para "O Agente Secreto", novo filme de Kleber Mendonça Filho que recebeu quatro prêmios no Festival de Cannes de 2025, giram em torno de R$ 2 a 3 milhões.

Acompanhe tudo sobre:CinemaFilmesFilmes brasileirosStreamingFundos de investimentoCultura

Mais de Pop

Plágio na música: caso Adele x Toninho Geraes e outras 20 disputas famosas

Geração Z e o consumo de álcool: mudança temporária ou nova realidade?

Qual é a novela com a maior audiência da história da Globo? E não é 'Avenida Brasil'

Dia 15 de agosto é feriado? Veja as cidades que terão descanso para os trabalhadores