Anaheim, CA - 25 de junho: Uma Labubu em exposição na The Labu'Tique Shop em Anaheim, na quarta-feira, 25 de junho de 2025. Clientes locais e de fora da cidade vêm comprar tudo o que a Labubu oferece, incluindo diversas roupas e acessórios. (Foto de Mark Rightmire/MediaNews Group/Orange County Register via Getty Images) (MediaNews Group/Orange County Register via Getty Images / Colaborador/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06h35.
A Labubu, mais do que aumentar os lucros da Pop Mart, também tem desempenhado um papel geopolítico. A personagem se tornou uma embaixadora cultural inesperada da China, ajudando a transformar sua imagem de “fábrica de produtos baratos” em um país criador de marcas desejadas.
Criada pelo artista de Hong Kong, Kasing Lung, e popularizada pela Pop Mart, a boneca de aparência “feia-fofa” conquistou fãs de diferentes idades e virou acessório de moda em bolsas de Rihanna, Lisa (do Blackpink), Dua Lipa, Kim Kardashian e até do ex-jogador David Beckham.
As vendas internacionais da Pop Mart cresceram mais de 480% no início de 2025, com o mercado externo já representando 40% da receita total, segundo a CNBC. Hoje, a companhia mantém mais de 500 lojas na Ásia, Europa e América do Norte.
Esse alcance global não foi resultado de campanhas oficiais, mas de um movimento orgânico de celebridades e fãs em redes sociais.
Analistas disseram à CNBC que o momento decisivo ocorreu em 2024, quando Lisa apareceu com a Labubu em vídeos de compras e postagens no Instagram. “Lisa foi o ponto de virada. A partir dali, a Labubu deixou de ser um brinquedo de nicho e virou símbolo de status global”, afirmou Yaling Jiang, analista de consumo e fundadora da plataforma Aperture China.
Pouco depois, Rihanna exibiu a boneca presa a uma bolsa da Louis Vuitton, gesto que, segundo especialistas, “validou a Labubu como item aspiracional no mundo da moda de luxo”, disse Michelle Cheng, co-líder da equipe de pesquisa de consumo da Ásia no Goldman Sachs.
A adesão de nomes como Dua Lipa e Kim Kardashian ampliou a base de fãs adultos colecionadores, enquanto David Beckham atraiu novos públicos ligados ao esporte. “Quando figuras tão diferentes começam a aparecer com o mesmo produto, a mensagem para o consumidor é clara: trata-se de um símbolo cultural universal, não apenas de um brinquedo”, disse Cheng.
A onda de visibilidade fez com que algumas versões fossem revendidas por valores até 741% superiores ao preço original, em episódios que geraram filas, aglomerações e até restrições de vendas em cidades fora da China.
O sucesso também está ligado ao formato das blind boxes, embalagens-surpresa que exploram a expectativa do consumidor. “A psicologia do desconhecido transforma cada compra em uma experiência. O momento de abrir uma caixa virou conteúdo compartilhável, alimentando milhões de vídeos virais no TikTok e no Instagram”, observou Jiang.
Esse mecanismo não apenas impulsiona a recompra, mas também fortalece comunidades digitais, nas quais fãs trocam edições limitadas, produzem conteúdo próprio e até personalizam as bonecas. Para Jiang, “a Labubu não é mais só um brinquedo. Ela é identidade, pertencimento e estilo de vida, comparável a ícones globais como Hello Kitty ou Pokémon”.
O fenômeno da Pop Mart ilustra o movimento de transição da imagem chinesa de “Made in China” para “Desired from China”. Essa transformação acompanha a ascensão de outros produtos chineses, como o videogame Genshin Impact, que arrecadou US$ 2 bilhões em seu primeiro ano de mercado, e Black Myth Wukong, que vendeu 20 milhões de cópias em apenas um mês.
Esse conjunto de fatores ajudou a China a subir para a 2ª posição no Soft Power Index de 2025, superando o Reino Unido e atrás somente dos Estados Unidos. A consultoria Brand Finance aponta que o avanço está relacionado à força das novas marcas culturais, ao foco em sustentabilidade e à reabertura do país ao turismo após a pandemia.
A trajetória da Labubu é ainda mais relevante porque não foi planejada pelo Estado, ao contrário de estratégias governamentais como o “Cool Japan” ou a onda cultural sul-coreana conhecida como K-Wave. Seu impacto surgiu de maneira espontânea, sustentado pelo entusiasmo dos consumidores e pelas redes digitais, o que garante autenticidade e aproximação cultural, segundo os analistas do mercado.
Para especialistas, esse pode ser o caminho mais promissor para a China consolidar seu poder de influência: menos iniciativas de cima para baixo e mais confiança no mercado.