Rafael Tinoco e Fabrício Valadão, fundadores da Arvo (Arvo/Divulgação)
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 23h59.
A Arvo, uma startup que usa inteligência artificial para analisar custos , acaba de levantar R$ 106 milhões em rodada Série A — um dos maiores aportes de 2025.
Por trás da rodada estão grandes fundos de investimentos. A Kaszek é um dos maiores de venture capital na América Latina, com mais de US$ 2 bilhões investidos e histórico de apoiar empresas como Nubank, Wellhub (antigo Gympass) e Alice. A última captou R$ 127 milhões no início de 2025.
O Base10 Partners, por sua vez, é um fundo sediado no Vale do Silício, com US$ 1,5 bilhão investidos globalmente e portfólio de gigantes como Brex (plataforma financeira fundada por brasileiros), Figma (plataforma de design) e Notion (plataforma de agenda e organização).
Para redimir, ao menos em partes, os prejuízos financeiros causados a operadoras de saúde que lidam com uma quantidade imensa de transações no dia a dia, a Arvo criou um algoritmo dotado de inteligência artificial que avalia um conjunto de dados relacionado aos pagamentos feitos a prestadores de saúde de redes credenciadas, evitando fraudes, erros e desperdício de recursos em alguns procedimentos médicos.
“A inteligência artificial checa essa cobrança, analisa e audita, para garantir que o serviço que foi prestado está em linha do que foi autorizado”, diz Valadão.
“Pensa que nessa conta pode ter, hipoteticamente, um item que custa mais de 1.000 reais, mas olhando o serviço prestado, ele não era pertinente, até poderia colocar o atendimento do paciente em risco”, completa Tinoco.
“A Arvo olha o serviço que foi prestado, analisa a composição desse atendimento, com base em toda experiência acumulada nas transações que já processamos até aqui, comparando com o que é esperado, complementando com conhecimento técnico de saúde. E indica se esse custo deveria estar lá ou não”.
O propósito, além de evitar gastos e cobranças indevidas, é o de melhorar o relacionamento entre esses prestadores e planos de saúde, já que operadoras são capazes de otimizar a gestão de contas médicas, reembolsos e autorizações, tornando os processos mais ágeis e assertivos, reduzindo desperdícios, fraudes e erros.
A Arvo atua na ponta, analisando os pagamentos feitos por planos de saúde que vão para os prestadores de serviço após a conclusão de cada atendimento ou procedimento médico.
Em outra frente, a startup também avalia os indicadores de pagamento e identifica irregularidades ainda durante a autorização prévia feita pelos convênios.
O negócio vem dos esforços dos empreendedores Fabrício Valadão, ex-executivo de saúde com passagens pela multinacional Aon e pela consultoria Bain & Company, onde atendia empresas do setor de saúde — e Rafael Tinoco, executivo de tecnologia e saúde com passagens por companhias como Amil, Gympass e Alice.
Em comum, os dois compartilhavam a visão de que boa parte dos problemas de acesso à saúde no país poderia ser resolvido com tecnologia, já que a consequência direta dos processos de gestão de contas, feitos de forma manual, gera o encarecimento dos serviços de saúde.
Ao invés de criar uma rede com custos mais baixos e voltados às classes C e D, eles decidiram colocar soluções de tecnologia à disposição das grandes operadoras, de uma só vez, para que elas tenham menos custos e não cobrem tanto.
“O setor de saúde é um dos poucos que ainda não passaram por uma transformação digital, ao contrário de mercados como o financeiro, por exemplo”, diz Tinoco. “O sistema que existe hoje ainda nos dá muito espaço para crescer e criar novas soluções”.
Até hoje, a Arvo já analisou mais de R$ 130 bilhões em pagamentos. A empresa quer aumentar mais a precisão dos algoritmos, garantindo que cada pagamento seja analisado com 90% ou mais de precisão.
Segundo a startup, a Arvo quadruplicou o faturamento e base de clientes nos últimos 12 meses. A tecnologia levou a aumento médio de 25% na produtividade das áreas de auditoria e contas médicas, em apenas 6 meses de operação.
Agora, com o aporte, a Arvo pretende criar "os próximos passos" do processo de pagamento. A ideia é focar na otimização da relação entre operadoras de saúde e prestadoras de serviço.
“Todos os anos, erros e ineficiências drenam mais de R$ 40 bilhões do setor — recursos que poderiam financiar centenas de milhares de consultas e internações. Essa conquista reforça que estamos no caminho certo”, diz Fabrício Valadão, CEO da Arvo.