Bob Wollheim, sócio e VP da CI&T: “IA não pode ser um objetivo por si só. O objetivo é transformar o negócio. IA é o meio” (Bob Wollheim/Divulgação)
Repórter
Publicado em 22 de novembro de 2025 às 10h22.
A missão de Bob Wollheim nos Estados Unidos começa por um paradoxo: a CI&T, multinacional brasileira com quase 8 mil funcionários e presença em mais de 25 países, é reconhecida pela excelência em transformação digital e em soluções de inteligência artificial, mas ainda é pouco conhecida fora do círculo de clientes.
“Somos o best kept secret. Agora precisamos que as pessoas certas saibam desse segredo”, diz Wollheim, sócio e VP da operação norte-americana.
Nascido no Rio Grande do Sul e criado em São Paulo, Bob construiu uma trajetória marcada pela diversidade de experiências. Foi empreendedor, investidor-anjo, executivo e criador de projetos paralelos — e reúne tudo isso em uma carreira que ele mesmo define como não linear.
“Eu nunca caibo em uma caixinha — e também nunca tive uma caixinha para mim”, afirma.
Para ele, essa multiplicidade se tornou um diferencial em um momento em que criatividade, adaptabilidade e visão ampla valem tanto quanto especialização técnica. “Transitar entre caminhos me mantém com a cabeça fresh.”
Antes de chegar à CI&T, Bob acumulava décadas de empreendedorismo. Em 2019, recebeu o convite do fundador, César Gonçalves, para apoiar um movimento decisivo na história da empresa: a preparação do IPO na Bolsa de Nova Iorque. Ele não imaginava que faria parte de algo inédito — um processo de abertura de capital realizado quase inteiramente de forma remota, em plena pandemia.
“Fazer um IPO no meio da pandemia foi completamente inédito. Espero que ninguém precise fazer isso de novo”, lembra.
O IPO foi concluído em 2021 e, naquele mesmo ano, Bob mudou-se para os Estados Unidos para liderar a expansão da marca. O choque inicial foi grande.
“Quando me mudei, virei nada. Ninguém me chamava para nada. É realmente começar do zero”, diz.
Para se posicionar em um ambiente altamente competitivo, decidiu escrever um livro em inglês sobre liderança e AI — um gesto pensado para abrir portas e facilitar conexões. “Eu precisava materializar, na língua das pessoas, que tinha um olhar de negócios.”
Hoje, Bob lidera a estratégia de inteligência artificial da CI&T nos Estados Unidos. Embora o tema esteja no centro das conversas corporativas, ele alerta para a armadilha de tratá-lo como moda.
“IA não pode ser um objetivo por si só. O objetivo é transformar o negócio. IA é o meio,” diz.
Para ele, o maior erro dos líderes é a pressa por implementar qualquer iniciativa apenas para parecer inovador. A consequência é um mercado onde 95% dos projetos não escalam ou não geram valor real.
A resposta da CI&T foi desenvolver o Flow, um AI Management System que integra tecnologia, processos, risco, governança e mudança de comportamento. É uma abordagem estruturante, que organiza a adoção da IA e ajuda empresas a entenderem que transformação real envolve pessoas, cultura, compliance e estratégia — não apenas modelos e ferramentas.
“Pensamos IA de forma sistêmica. Por isso estamos entre os 5% de projetos que realmente funcionam”, afirma.
Um dos casos que simbolizam essa abordagem é o da Domino’s. A gigante global de pizzas encontrou a CI&T em um relatório da Forrester e convidou a empresa brasileira para uma concorrência com vários players. Depois de conversar com clientes da CI&T, decidiu apostar na consultoria. O projeto cresceu, ganhou tração e se tornou uma das entregas mais relevantes da frente internacional.
“Tem muito ‘Domino’s’ por aí que se beneficiaria da nossa capacidade de resolver problemas”, afirma Bob.
Apesar de crescer acima de alguns de seus pares no mercado americano, a CI&T ainda enfrenta o desafio de ser pouco conhecida fora do ecossistema de inovação. Por isso, Bob descreve sua missão atual como um movimento de transformação de percepção — não de identidade.
A empresa segue sendo o “best kept secret”, mas agora com a ambição de se tornar o “best known secret” entre as lideranças que decidem investimentos digitais e comandos de IA.
Mesmo atuando fora do país, Bob mantém um olhar atento ao ecossistema de tecnologia brasileiro. Ele liderou a primeira edição do ranking de inteligência artificial da CI&T, que reuniu cases de grandes empresas nacionais — incluindo iniciativas de companhias como a Globo. Para ele, o prêmio é uma prova de que o Brasil não está atrás na corrida da IA, especialmente no mundo enterprise.
“Tem muita coisa interessante acontecendo com IA no Brasil. Não existe motivo para complexo de vira-lata.”
O executivo defende que líderes brasileiros possuem uma capacidade rara de atuar em ambientes de alta complexidade.
“Líderes brasileiros são muito capacitados para momentos de ruptura. A gente foi treinado no tsunami”, afirma, reforçando que essa vivência é um ativo na era da inteligência artificial.
Para os próximos anos, Bob prevê um crescimento robusto. Ele não revela números por ser executivo de uma empresa de capital aberto, mas é claro sobre o horizonte. A CI&T quer ampliar sua atuação global e consolidar-se como a parceira de grandes companhias em transformações profundas impulsionadas pela IA.
“Queremos ser reconhecidos como a empresa que leva grandes companhias a saltos quânticos com IA. Não é simples — mas estamos prontos,” diz o executivo.
Aos 53 anos, depois de unir empreendedorismo, startups, consultoria e agora liderança internacional, Bob resume sua visão de carreira como uma jornada feita de reinvenções. Para ele, carreiras e empresas compartilham a mesma regra: nenhuma cresce com previsibilidade.
“Carreira boa é a que te dá perspectiva — e perspectiva só existe quando você se permite sair da sua própria caixinha.”