Avião da JSX: jatos Embraer da frota têm assentos espaçosos, wi-fi via Starlink, drinques de cortesia e zero fila para embarque (JSX/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de maio de 2025 às 08h12.
Última atualização em 25 de maio de 2025 às 10h10.
Pegar a ponte aérea entre São Paulo e Rio, num voo de 45 minutos, frequentemente consome mais de duas horas do tempo do passageiro.
A conta é simples: trânsito até o aeroporto, check-in, raio-X, fila de embarque. O tempo no ar vira o menor dos problemas.
Para quem pode pagar mais — bem mais — há jatinhos e táxis aéreos. Mas essa realidade é de uma fatia minúscula dos brasileiros.
Nos Estados Unidos, uma empresa chacoalha o setor de aéreas ao rever o conceito de como pegar avião.
Fundada em 2016, a JSX redesenhou a experiência de voar com uma pergunta provocadora: será que ainda precisamos de aeroportos como conhecemos hoje?
A resposta veio na forma de uma operação que mistura os mundos dos voos comerciais e da aviação executiva. A JSX voa a partir de pequenos terminais fora dos grandes hubs, como o Love Field, em Dallas, e o aeroporto de Burbank, na Califórnia. Nada nem perto do JFK de Nova York ou do Aeroporto de Atlanta, o mais movimentado do mundo.
Mais: vende a experiência de um voo sem filas, sem TSA (a agência de segurança dos transportes dos EUA) e com check-in feito 20 minutos antes da decolagem.
"Por que precisamos de um edifício enorme entre seu carro e o avião?", disse Alex Wilcox, CEO da JSX, em entrevista recente à revista norte-americana Inc.
A JSX cresce em um espaço cinzento da regulação americana. A empresa opera como um charter público com aeronaves de até 30 lugares — uma brecha que permite regras menos rígidas do que as aplicadas às grandes aéreas.
Isso atraiu não apenas passageiros insatisfeitos com o caos dos aeroportos, mas também o olhar atento da FAA (equivalente à Anac nos EUA), que ameaça apertar a regulação sobre esse tipo de voo. O futuro da empresa depende diretamente dessa disputa.
A proposta da JSX é simples: oferecer um voo que parece executivo, mas com preço abaixo da aviação privada.
Os jatos da brasileira Embraer da frota têm assentos espaçosos, wi-fi via Starlink, drinques de cortesia e zero fila para embarque. Tudo acontece fora dos terminais tradicionais. Em vez de JFK, voos partem de Westchester, nos arredores de Nova York. Em vez de Denver International, usam o Rocky Mountain Metropolitan. “O tempo médio de deslocamento de avião só piora há décadas. É o oposto do que a gente imaginava para o futuro”, afirma Wilcox.
A operação é pequena em escala, mas significativa em impacto. Em 2024, a JSX realizou 36.000 voos. A frota soma 46 aeronaves e cobre 25 mercados, com foco em rotas curtas e pouco atendidas pelas grandes companhias. Em comum, os destinos compartilham um perfil: cidades ricas, terminais menores e consumidores dispostos a pagar mais por conforto.
Leia: Recorde de vendas e lucro bilionário: até onde vai a super Embraer?
A JSX não divulga receita, mas estimativas indicam faturamento na casa das centenas de milhões de dólares.
Parte disso vem da capacidade de operar fora das exigências mais duras do setor comercial. Como as aeronaves têm menos de 30 assentos, não precisam seguir as mesmas regras de tripulação, manutenção ou segurança impostas aos aviões maiores.
A flexibilidade irritou gigantes como American Airlines e Southwest. A associação dos pilotos (ALPA) acusa a JSX de colocar em risco a segurança ao "driblar" a regulação.
“A diferença entre uma cerca de oito ou dez metros não faz diferença para ninguém, exceto talvez para um cara mau que não tem uma escada maior”, rebate Wilcox. Entre os defensores, estão nomes de peso: JetBlue, United e Qatar Airways são investidores na empresa.
Mesmo sob pressão, a JSX acumula uma base de usuários fiéis. Quando a FAA abriu consulta pública para discutir mudanças na regulamentação, mais de 70.000 comentários foram registrados, a maioria em apoio à companhia. “É o maior número de comentários da história da agência”, diz Wilcox.
Por trás da operação está a visão de um CEO que vive aviação desde jovem. Wilcox foi o primeiro funcionário da JetBlue, trabalhou com Richard Branson na Virgin Atlantic e fundou a JetSuite antes de lançar a JSX.
Mas o futuro da JSX depende de mais do que fãs. Caso a FAA decida apertar as regras, a empresa pode ser forçada a se comportar como uma aérea tradicional — com toda a burocracia e custo que isso implica. Wilcox promete resistir e, se necessário, levar a disputa à Justiça.