Negócios

O ressurgimento do Yahoo

Desde a contratação de Marissa Mayer como CEO, a multinacional deu uma guinada, ultrapassou o Google em visitas e atingiu 800 milhões de usuários únicos


	Yahoo: prestes a completar duas décadas de existência, a empresa parece ter recobrado as forças que perdeu nos últimos tempos
 (Divulgação)

Yahoo: prestes a completar duas décadas de existência, a empresa parece ter recobrado as forças que perdeu nos últimos tempos (Divulgação)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 18 de outubro de 2013 às 11h00.

São Paulo - Redesenho do logotipo e da página inicial do site. Novos formatos e modelos de anúncios. Vinte startups compradas em um ano. Nos últimos tempos, o Yahoo não para. Prestes a completar duas décadas de existência, a empresa parece ter recobrado as forças que perdeu nos últimos tempos. O Yahoo quer voltar ao jogo – e mostrar que existe vida além do Facebook.

Em pouco tempo, a multinacional passou de um nome desgastado no mercado de tecnologia a um player revitalizado, capaz de ultrapassar o Google em número de visitas únicas, em julho de 2013, nos Estados Unidos. Os números provam uma realidade de grande carga simbólica: o Google foi um dos principais responsáveis pela perda de fôlego do Yahoo no início dos anos 2000. Depois de dois anos de queda, a audiência do site cresceu e, pela primeira vez, atingiu a marca global de 800 milhões de usuários.

Mas qual é o motivo de um retorno tão intenso? Para a perplexidade dos analistas, não há dados consistentes que justifiquem os picos de visitas aos sites da organização desde o fim do ano passado. Nem mesmo a tão noticiada aquisição do Tumblr pela empresa, em maio de 2013, poderia explicar o crescimento: os estudos realizados não contam as visitas ao microblog como parte do tráfego nos domínios do Yahoo. Assim, as razões continuam obscuras.

Na dúvida, podem culpar Marissa Mayer. Ex-colaboradora do Google, a incansável executiva de 38 anos assumiu a presidência do Yahoo em julho de 2012 e, desde então, não para de efetuar mudanças radicais na estrutura de gestão da empresa. Abraçando um desafio que à época repelia a maior parte dos executivos, ela providenciou a cura de antigos males que abatiam o negócio e o distanciavam cada vez mais da inovação e da competitividade.

O primeiro passo de Marissa foi tentar renovar a imagem da marca. Percebido por muitos como antigo e ultrapassado, o Yahoo perdia tanto na quantidade de usuários quanto na qualidade dos candidatos a trabalhar na empresa. Para mudar o cenário, a jovem CEO apostou em ações de branding e aquisições estratégicas como a do Tumblr, rede social popular entre adolescentes.

O velho Yahoo, nascido em 1994 como o jurássico site “Jerry’s Guide to the World Wide Web”, não existe mais – e Marissa quer deixar isso bem claro. Até o logotipo da empresa, nunca alterado desde a sua fundação, foi descartado e substituído.


Outra estratégia importante posta em prática nessa nova fase do Yahoo tem sido a aquisição frequente de startups. Foram vinte, desde outubro de 2012. Além do Tumblr, destacam-se as compras do Summly, aplicativo que sumariza notícias criado por um adolescente de 17 anos, e da startup de área móvel Stamped.

Ao atrair jovens empresas, o Yahoo não pensa apenas em agregar seus produtos e soluções ao portfólio da empresa. Marissa quer as pessoas, as mentes por trás dos empreendimentos que adquire. Muitos talentos se tornaram colaboradores do Yahoo após venderem à multinacional os negócios que criaram. Para o Yahoo, foi a chance de arejar seus quadros de funcionários e incrementar seu time de desenvolvedores.

Além das formas de contratação e aquisição de talentos, as políticas internas da empresa também sofreram alterações importantes. Uma das mais polêmicas e notórias foi a extinção do home office: a presidente exigiu que os funcionários que trabalhavam remotamente voltassem a comparecer presencialmente à sede da empresa em Sunnyvale, na Califórnia. Entre outros objetivos, Marissa queria ampliar a integração e otimizar as decisões tomadas em equipe. Ainda que aparentemente impopular, a medida vingou – e não manchou a imagem da líder. No segundo trimestre de 2013, Marissa era aprovada por 84% dos funcionários – a melhor avaliação de todos os CEOs do Yahoo em 5 anos.

As muitas realizações notáveis da jovem executiva podem ser o ingrediente secreto por trás da nova fase do Yahoo. No entanto, se os resultados atingidos até agora são grandes, maiores ainda serão os desafios a seguir. As conquistas em termos de reputação e imagem são inegáveis, mas muito pode ser esperado em ganhos financeiros. O Yahoo tem crescido muito menos do que o resto da indústria, e a sua principal fonte de lucro, os anúncios multimídia, continua caindo. Na semana passada, a empresa divulgou uma ligeira queda de receitas e um lucro 91% menor no terceiro trimestre de 2013.


Sem dúvida, o Yahoo precisa recuperar o prestígio no mercado publicitário e transformar a sua crescente base usuária em dinheiro. Em 2013, a participação do Yahoo no negócio de anúncios do tipo display deve cair para 7,7% (ante 8,6% no ano passado), enquanto Google e Facebook aumentarão suas fatias para 41,1% (ante 40.9%) e 7,1% (ante 5,9%), respectivamente.

Marissa quer virar o jogo se reaproximando dos publicitários. Durante muito tempo, o setor a viu como uma pessoa que não se importava com publicidade, tendo escolhido dar atenção apenas ao desenvolvimento de novos produtos. Agora, a líder promove uma série de encontros com executivos de agências e montou uma estratégia para criar oportunidades de negócio junto a eles.

Muito ainda pode – e precisa – ser feito. O ponto positivo é que não falta energia para a tarefa. Marissa dorme de 4 a 6 horas por noite, decidiu ficar apenas algumas semanas de licença-maternidade quando teve seu primeiro filho e já declarou que suas prioridades na vida são “Deus, a família e o Yahoo – nessa ordem”. A batalha continua – e seus desdobramentos poderão mudar o destino dos investimentos em marketing e publicidade nos próximos anos.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas de internetEmpresas americanasInternetempresas-de-tecnologiaGoogleTecnologia da informaçãoYahoo

Mais de Negócios

Enciclopédia Barsa: o que aconteceu com o ‘Google de papel’ que marcou gerações

Floripa é um destino global de nômades digitais — e já tem até 'concierge' para gringos

Por que essa empresa brasileira vê potencial para crescer na Flórida?

Quais são as 10 maiores empresas do Rio Grande do Sul? Veja quanto elas faturam