Negócios

'O preço do açaí vai subir e vamos perder mercado', diz CEO da Frooty sobre tarifaço de Trump

Com imposto de 50% sobre o açaí, a Frooty prevê alta de preços nos EUA, risco de perda de mercado e impacto em comunidades da Amazônia

Fábio Carvalho, CEO da Frooty: "Os EUA não são substituíveis no curto prazo" (Frooty/Divulgação)

Fábio Carvalho, CEO da Frooty: "Os EUA não são substituíveis no curto prazo" (Frooty/Divulgação)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15h45.

Última atualização em 14 de agosto de 2025 às 17h12.

Líder no mercado brasileiro de açaí, a Frooty planeja faturar R$ 500 milhões em 2025. Dois terços desse valor vêm do Brasil, onde a marca tem mais de 40% de participação no varejo e presença em cerca de 20 mil pontos de venda. O restante vem de exportações para 21 países — e, desse total, cerca de 40% vão para os Estados Unidos.

Essa fatia expressiva está sob ameaça. Durante visitas frequentes ao mercado americano, onde a companhia atende cerca de 100 clientes e fatura US$ 25 milhões ao ano, o CEO Fábio Carvalho se deparou com um novo obstáculo: o tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros. A medida atinge tanto a polpa de açaí quanto os produtos acabados. O resultado: açaí mais caro nos Estados Unidos.

“Estamos falando de um produto saudável e encontrado apenas no Brasil. Com a taxação, não há como absorver o custo; teremos de repassar o aumento ao consumidor americano”, diz o CEO Fábio Carvalho.

De acordo com o executivo, a medida deve encarecer em 30% a 35% o preço final, o que tende a reduzir o volume de consumo.

Fábrica no Estados Unidos

O impacto é especialmente sensível porque, para a Frooty, o mercado americano é estratégico. A relação com os Estados Unidos se intensificou em 2023, quando a companhia adquiriu a Makai, segunda maior marca de food service de açaí no país.

Hoje, cerca da metade do açaí vendido pela Frooty nos EUA é processada na Makai, enquanto a outra metade chega pronta do Brasil. O movimento fortaleceu a rede de distribuição e elevou o peso das exportações no faturamento total: de 6% em 2019 para 40% atualmente.

A aquisição também ampliou a capacidade de atender redes nacionais de alimentação nos EUA e diversificou o portfólio, que além do açaí inclui sorbets de frutas como pitaya, coco com spirulina e cacau. “Os Estados Unidos são o maior mercado importador de açaí do mundo e representam uma vitrine global para a categoria”, afirma o executivo. "Os Estados Unidos não são substituíveis no curto prazo".

Açaí mais barato no Brasil?

Apesar do cenário desafiador, a Frooty aposta em resiliência. Com três fábricas — duas no Amazonas e outra em Minas Gerais — e capacidade para processar 100 toneladas de açaí por dia, a companhia opera uma cadeia de produção verticalizada, o que lhe permite maior controle sobre qualidade, prazos e custos, além de garantir rastreabilidade completa do produto.

Outro diferencial é o programa de compra sustentável que envolve cerca de 700 comunidades no Amazonas e no Pará. O modelo assegura renda aos produtores e preserva práticas de manejo sustentável, fortalecendo a relação da marca com as origens do açaí.

Com o tarifaço, Carvalho teme pelas comunidades locais. "Se a taxação não for revisada, isso pode impactar o trabalho das comunidades ribeirinhas", alerta o executivo. "Boa parte da produção é exportada, o que pode levar a desemprego na Região Norte".

Sobre a queda de preço do açaí no Brasil, o executivo acredita que não deve apresentar grandes mudanças. "Em tese cairia, mas o açaí depende de uma cadeia extrativista sensível, é difícil dizer.

No mercado doméstico, a Frooty mantém o foco no varejo. A marca está presente desde pequenas padarias até grandes redes supermercadistas. Em 2024, cresceu mais de 15%, apoiada na ampliação de canais e na expansão de produtos prontos para consumo.

Diante do tarifaço, a estratégia nos Estados Unidos será manter presença, mesmo com a expectativa de retração no consumo. “Estamos revisando formatos de produto, posicionamento de preço e canais para minimizar perdas. O objetivo é continuar relevantes no mercado americano e preservar os relacionamentos comerciais enquanto aguardamos as negociações do governo”, diz Carvalho.

O desafio agora é equilibrar crescimento e rentabilidade em um cenário de margens pressionadas, sem abrir mão do maior mercado importador de açaí do mundo.

Acompanhe tudo sobre:VarejoExportações

Mais de Negócios

Ele criou 1º aspirador de pó sem saco do mundo e fez fortuna de US$ 15 bi: ‘Diziam que eu era louco’

Aos 28 anos, ela criou uma consultoria milionária que impulsiona startups lideradas por mulheres

A volta por cima da Subway no Brasil: após crise e recuperação judicial, vendas crescem 30%

'Com tarifaço dos EUA, é inviável continuar exportando', diz empresário do setor de pescados