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O prato não mudou, mas o faturamento sim: a virada doce do L’Entrecôte de Paris para os R$72 milhões

Com prato único desde 2009, rede aposta em sobremesas para elevar o ticket médio, acelerar a expansão e crescer 14 milhões em 2025.

Glaucia Fernandes, diretora de marketing e franquias: “Com uma sobremesa bem feita, a experiência muda” (Divulgação/Divulgação)

Glaucia Fernandes, diretora de marketing e franquias: “Com uma sobremesa bem feita, a experiência muda” (Divulgação/Divulgação)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 12 de maio de 2025 às 06h06.

Última atualização em 12 de maio de 2025 às 11h30.

Existem três formas de aumentar a receita de uma rede de restaurantes: ticket médio, novos clientes e novas unidades. Desde o ano passado, o L’Entrecôte de Paris decidiu focar em uma das pontas da refeição: a sobremesa. Pode parecer um detalhe, mas virou uma alavanca estratégica para impulsionar a expansão da marca.

A virada foi orquestrada por Glaucia Fernandes, diretora de marketing e franquias. A ideia é simples: manter o entrecôte com fritas como prato principal e inovar na sobremesa para elevar o ticket médio. “Desenvolvemos novas sobremesas com uma chef pâtissière para agradar aos paladares mais exigentes e criar memórias especiais”, diz.

A conta tem fechado. Em 2024, o faturamento foi de 58 milhões de reais. Para este ano, a meta é alcançar 72 milhões — um salto puxado por duas frentes: a alta de 16% no ticket médio e a abertura de cinco novas unidades. A marca, que integra o Grupo SMZTO — dono de outras redes como Oakberry, Terça da Serra e Peça Rara — opera hoje 34 unidades, sendo 14 com salão e 20 no formato dark kitchen.

A nova linha de sobremesas foi criada pela chef Carla Barbato, formada em confeitaria em Paris. Desde abril, quatro receitas entraram no cardápio fixo: éclair de pistache, choux de mirtilo com limão siciliano, petit gâteau e pavlova com frutas amarelas.

Pavlova com frutas amarelas do L'Entrecôte de Paris

Pavlova com frutas amarelas do L'Entrecôte de Paris (L'Entrecôte de Paris /Divulgação)

Os preços variam entre 32,90 reais e 39,90 reais. Duas dessas opções também estão disponíveis via delivery. “Com uma sobremesa bem feita, a experiência muda”, afirma Glaucia.

O prato continua o mesmo, mas a estratégia muda

Fundado em 2015, o L’Entrecôte de Paris foi pioneiro no Brasil ao adotar o conceito de prato único: uma fórmula popular em bistrôs franceses, mas rara no mercado nacional. A proposta é direta — entrecôte fatiado, servido com molho exclusivo e batatas fritas crocantes, sem variações no prato principal. O molho secreto, que passa por 36 horas de preparo e envolve mais de 21 ingredientes, é o símbolo da marca.

A simplicidade do menu é, ao mesmo tempo, sua força e seu desafio. “A gente vive essa tensão entre manter o conceito original e adaptar para o mercado atual”, diz Glaucia. O consumidor brasileiro está habituado a variedade. Convencê-lo a gastar mais em uma refeição com poucas opções exige uma entrega precisa em todos os detalhes: entrada, sobremesa, serviço, ambiente.

Expansão com modelo mais enxuto

L’Entrecôte de Paris do Shopping ABC

L’Entrecôte de Paris do Shopping ABC (Divulgação/Divulgação)

Para saltar de R$ 58 milhões para R$ 72 milhões, a rede também aposta no formato Bistrô Petit, que oferece a mesma experiência com uma operação mais enxuta e investimento menor. São salões compactos, com até 100 metros quadrados, ambiente intimista e capacidade para cerca de 50 pessoas. O investimento inicial gira em torno de 1 milhão de reais, com retorno previsto entre 24 e 36 meses. Cada unidade fatura, em média, 450 mil reais por mês.

É esse modelo que deve liderar a expansão da marca em 2025, com previsão de 6 novas unidades no Brasil — em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis — e 3 na Europa, onde a rede já opera duas franquias. “É um formato que combina atratividade para o investidor e eficiência operacional”, afirma Glaucia.

A marca entrou para o franchising em 2012. Hoje, são 32 unidades franqueadas no Brasil e 2 no exterior. Para se tornar franqueado, o investimento inicial inclui 100 mil reais de taxa de franquia, além de 5% de royalties e 1% de propaganda. O contrato tem validade de cinco anos e a margem líquida das operações varia entre 10% e 15%.

O crescimento, porém, não é automático. A empresa é seletiva ao escolher novos pontos. O modelo depende de um público disposto a pagar por uma refeição com menos escolhas e mais foco na experiência. “É preciso ter o perfil certo. O franqueado ideal é alguém que se envolva na operação, valorize os detalhes e entenda o conceito”, diz Glaucia.

Delivery e expansão nacional

Além dos bistrôs físicos, a rede também opera 20 unidades no formato dark kitchen. São cozinhas focadas exclusivamente no delivery, com estrutura mais simples e localização estratégica. A ideia é expandir principalmente em cidades médias, onde o custo de aluguel é menor e a demanda por refeições prontas cresce com velocidade.

A operação padronizada permite escalar com controle: menos ingredientes, treinamento simples e experiência consistente. Mesmo com um cardápio compacto, a rede busca criar valor em cada etapa do serviço.

O L’Entrecôte de Paris quer crescer sem mudar seu DNA. A inovação vem nos ajustes: uma nova sobremesa, uma apresentação melhor, um ambiente mais acolhedor. Nada revolucionário, mas suficiente para manter a marca relevante — e rentável.

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