Negócios

O novo negócio do criador do iFood quer chacoalhar o setor de crédito — e começa com R$ 2,5 bilhões

Negócio começa com rodada de R$ 35 milhões e já opera com uma estrutura de R$ 2,5 bilhões herdada da gestora Quatá, especializada em crédito estruturado

Patrick Sigrist, Beatriz Degani e Bernardo Mergar, da Iorq:  (Iorq/Divulgação)

Patrick Sigrist, Beatriz Degani e Bernardo Mergar, da Iorq: (Iorq/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 5 de agosto de 2025 às 08h00.

Patrick Sigrist carrega uma fama boa — mas que pode ser, no mínimo, desafiadora. Ele fundou o iFood e a Nomad, duas empresas que ajudaram a moldar o que hoje se espera de um app de delivery ou de um banco global para brasileiros. Dá para dizer, inclusive, que existe um mercado antes e depois dessas startups.

Agora, ele quer repetir a dose com a Iorq, uma empresa que promete “orquestrar” todo o processo de crédito — da concessão até a gestão de garantias — e que já nasce com 2,5 bilhões de reais sob gestão.

O detalhe curioso: a Iorq nasce da aquisição da Quatá Investimentos, gestora que foi justamente o berço da QI Tech, mais recente unicórnio brasileira e hoje uma das principais empresas de infraestrutura para — veja só — crédito no país.

“Hoje a gente é complementar. Inclusive, consumimos serviços da própria QI Tech”, afirma Sigrist. “Mas o nosso foco está em orquestrar o ciclo inteiro do crédito — não apenas em viabilizar a transação. Tem a parte de infraestrutura, mas tem, também, o crédito.”

Com ele no projeto estão a até então CEO e uma das fundadoras da Quatá, Beatriz Degani, e Bernardo Mergár.

Para além do lançamento, a empresa acaba de captar 35 milhões de reais em uma rodada liderada por Monashees, Upload Ventures, ONEVC e Norte. O objetivo é claro: escalar a tecnologia e avançar no modelo white-label, onde empresas operam crédito com a estrutura da Iorq por trás.

“A maior parte do dinheiro vai para a tecnologia. É ela que viabiliza tudo isso”, diz Sigrist. “A gente quer ser eficiente como uma fintech, mas com a robustez de uma gestora.”

Para 2025, a meta é crescer 50% na base de ativos, consolidar as duas frentes de atuação — crédito direto e infraestrutura white-label — e se preparar para uma nova rodada de captação até 2026.

Sigrist evita dizer que está criando uma nova categoria. Mas admite que o impacto pode ser semelhante ao que viu em outros momentos da carreira. “No futuro, vamos olhar para trás e pensar: como deixavam o crédito tão analógico?”, diz. “Acho que estamos no início de uma virada importante.”

Quem é Patrick Sigrist

Patrick Sigrist é um nome familiar para quem acompanha o ecossistema de inovação no Brasil. Ele é o fundador do iFood, plataforma que revolucionou o mercado de delivery no país, e da Nomad, fintech que viabiliza contas em dólar para brasileiros nos Estados Unidos. Em comum, duas empresas que criaram categorias e foram copiadas por concorrentes.

Sua trajetória também inclui participações em outras iniciativas relevantes, como o banco digital Neon e o fundo Yellow Ventures, voltado a startups em estágio inicial. Antes disso, ele se formou em Engenharia Florestal pela USP, fez mestrado nos Estados Unidos e passou pelo programa de venture capital da Universidade de Berkeley.

No caso da Iorq, o cenário é mais complexo. Sigrist não está apenas lançando uma startup. Ele está entrando em um setor altamente técnico, tradicionalmente dominado por bancos e com desafios específicos de regulação, risco e estrutura.

“É um novo desafio. Crédito é um mercado gigantesco, mas ainda muito pouco eficiente. Tem muita margem e pouca tecnologia”, afirma Sigrist.

A comparação com o iFood e a Nomad é inevitável. Mas o próprio empreendedor trata o novo projeto com outro peso. “Não é como criar um mercado do zero. O crédito já existe. O que a gente quer mudar é a forma como ele é operado”, diz.

O que a Iorq quer fazer

A proposta central da Iorq é dar autonomia para que empresas operem crédito com suas próprias regras, riscos e objetivos.

Em vez de depender de bancos para oferecer capital a fornecedores, clientes ou parceiros, uma empresa pode usar a infraestrutura da Iorq para criar sua própria operação financeira.

Esse modelo se apoia na lógica do embedded finance, ou finanças embutidas — quando companhias que não são do setor financeiro passam a oferecer serviços como crédito ou pagamentos. É o que já fazem, por exemplo, grandes varejistas que oferecem cartões ou empréstimos dentro de suas plataformas.

“Hoje, quem tem capital e controle da relação com o cliente são as empresas. Faz sentido que elas possam operar o crédito também”, afirma Sigrist. “Nosso papel é dar a estrutura para isso acontecer.”

É algo semelhante ao que faz a QI Tech.

O diferencial, segundo Sigrist, é na orquestração completa do crédito. Isso inclui desde a tecnologia para originar uma operação até a análise de risco, estruturação de garantias, monitoramento e até o fornecimento do dinheiro (o chamado funding). As empresas escolhem o que querem usar — o pacote completo ou apenas partes da solução.

Esse modelo também permite que empresas criem produtos financeiros com sua própria marca — conhecidos como white-label. Na prática, é como se uma indústria pudesse virar um pequeno banco, mas sem toda a complexidade de construir uma estrutura do zero.

A empresa já nasce com 2,5 bilhões de reais

A origem da Iorq é incomum para uma startup. Em vez de começar do zero, Sigrist optou por adquirir a Quatá Investimentos, uma gestora com 16 anos de atuação no mercado de crédito estruturado. Foi a partir dessa aquisição que a Iorq ganhou corpo — e capital.

“Dar crédito é fácil. Difícil é saber se você está dando direito. Por isso, quisemos começar com uma base sólida”, diz Patrick.

A Quatá tem histórico robusto: mais de 15 bilhões de reais em crédito originado e reconhecimento no mercado pela disciplina de risco. Mais do que isso, ela tem um papel curioso na história recente do setor: foi dentro da Quatá que nasceu a QI Tech, uma das fintechs mais bem-sucedidas da nova leva e que virou unicórnio.

Hoje, as duas empresas estão separadas — mas a IORQ acaba entrando em um mercado onde a QI Tech já atua com força. A relação, por enquanto, é de cooperação. “A gente ainda consome serviços da QI Tech. É complementar. Eles são administradores, nós somos gestores”, afirma Sigrist.

A estrutura inicial inclui também um time experiente, com passagens por instituições como Itaú, Nubank, além de formação técnica em Stanford, Harvard e ITA. São cerca de 70 pessoas na operação, com sede na Faria Lima, em São Paulo.

Quem é o público-alvo

A Iorq mira inicialmente empresas com faturamento acima de 500 milhões de reais. São companhias que têm estrutura, fluxo recorrente e necessidades específicas de crédito — como antecipação de recebíveis, capital de giro ou financiamento de parceiros.

"Os bancos fogem das operações médias porque custa caro analisar, aprovar e monitorar. A gente consegue fazer isso com eficiência e escala”, diz Sigrist.

A médio prazo, a Iorq quer avançar para empresas menores, aproveitando a automação como ferramenta para reduzir o custo de operação. O desafio é equilibrar risco e escala, sem perder controle.

“Queremos transformar empresas em hubs financeiros. Para isso, é preciso mais do que uma API — é preciso conhecimento, processo e segurança”, resume Bernardo Mergar.

Acompanhe tudo sobre:Venture capitaliFoodStartupsCrédito

Mais de Negócios

Quais são os 10 maiores marketplaces do Brasil? Veja ranking

Quais são as 10 maiores empresas do varejo no Brasil? Veja quanto elas faturam

Eles começaram com uma nota fiscal de R$ 300. Hoje, faturam R$ 30 milhões com produtos para pets

Gigantes do varejo faturaram R$ 1,3 trilhão em 2024