Jeison Scheid, da Odara: “Em maio do ano passado, a gente não conseguiu fazer um alfajor sequer. Agora, batemos o recorde. Foi um marco simbólico para o time inteiro” (Marilia Dias / Odara Alfajores/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de junho de 2025 às 11h12.
Última atualização em 15 de junho de 2025 às 16h16.
Em países como Argentina e Uruguai, alfajor é mais que um doce: é um ritual. Está na lancheira, na pausa do café, no balcão de qualquer kiosco.
No Brasil, a cultura começa a pegar nas últimas duas décadas, principalmente com a entrada da Havanna, uma das maiores da Argentina, no mercado brasileiro. E ganhou força com uma marca bem brasileira, principalmente no Sul e Sudeste: a Odara Alfajores.
A marca nasceu há 12 anos de forma improvisada, quando o gaúcho Jeison Scheid, então morando em Santa Catarina, começou a vender alfajores feitos na panela na beira da praia da Ferrugem, no litoral sul catarinense.
Hoje, a empresa, que começou na cozinha de casa abastece mais de 10.000 pontos de venda pelo país, tem linha industrial de 15.000 unidades por hora e mira faturamento de 30 milhões de reais em 2025.
Agora, a Odara comemora um feito e tanto: em maio deste ano, bateu 1 milhão de unidades produzidas em um único mês — o maior volume da história da marca. E o que torna isso ainda mais simbólico é o contexto. Exatamente um ano antes, a fábrica da empresa, em Porto Alegre, havia sido completamente alagada pelas enchentes que paralisaram o Rio Grande do Sul.
“Em maio do ano passado, a gente não conseguiu fazer um alfajor sequer. Agora, batemos o recorde. Foi um marco simbólico para o time inteiro”, afirma Tiago Kaplan, diretor financeiro e sócio da Odara.
O próximo passo é ampliar a capacidade industrial, reforçar a presença no Sudeste e abrir uma nova frente com o doce de leite que recheia os alfajores. A empresa também avalia a criação de um terceiro turno para dar conta da demanda crescente.
A Odara surgiu em 2013, quando Jeison largou a rotina de Porto Alegre e decidiu viver à beira-mar. Começou produzindo artesanalmente, 80 unidades por dia, e vendendo diretamente aos turistas na praia. O nome veio do sânscrito, uma língua morta da região do Nepal e da Índia. “Odara” significa paz e tranquilidade. Exatamente o que ele buscava naquele momento.
“Ele chegou a pensar que faria alfajor só para argentinos que frequentam as praias de Santa Catarina, mas logo viu que o brasileiro também adorava", afirma Kaplan. "Aí voltou para Porto Alegre e montou a primeira fábrica, ainda pequena, mas já com foco em distribuição.
Os produtos começaram a ser vendidos em pontos de venda por Porto Alegre, e aos poucos foram ganhando novos mercados.
A virada começou em 2022, quando Kaplan entrou na sociedade ao lado de Jeison e Kauê Bohrer, para reforçar as áreas de finanças e gestão de pessoas.
Com a profissionalização, veio também o plano de posicionar a Odara como referência nacional no segmento. A marca ainda é mais forte no Sul, mas São Paulo já é seu principal mercado.
A enchente de 2024 atingiu em cheio a fábrica da Odara, no bairro Sarandi, em Porto Alegre. A água chegou a 2,3 metros, destruindo maquinário e estoques.
A empresa ficou dois meses sem produzir e chegou a faturar zero no período.
“No início, a gente só queria ajudar quem estava em abrigos, inclusive nossos funcionários”, diz Kaplan.
A virada começou no dia 17 de maio, quando conseguiram entrar de barco na fábrica. A decisão foi ousada: abrir uma pré-venda no e-commerce mesmo sem ter produto pronto, com promessa de entrega meses depois. A campanha arrecadou mais de 600.000 reais, dinheiro suficiente para pagar duas folhas de pagamento.
“A gente apostou na confiança do consumidor. E funcionou. Teve gente que comprou sem saber se iríamos conseguir entregar”, afirma.
A recuperação foi feita aos poucos, sala por sala, com a equipe limpando os espaços e retomando a operação de forma gradual. Em julho, a produção voltou parcial. Em agosto, já estavam com o portfólio completo.
Um dos grandes impulsos da marca em 2025 foi a colab com a Nestlé. Em maio, a Odara lançou dois sabores especiais (Galak&Negresco e Prestígio) em parceria com a gigante suíça. As embalagens passaram até por aprovação na matriz da Nestlé, na Suíça, antes do lançamento. Os produtos já estão entre os mais vendidos do e-commerce da marca.
Outra aposta da empresa é o doce de leite que recheia seus alfajores, agora também vendido em potes de 410 gramas para o varejo e em baldes de 4,8 quilos para o mercado de food service.
A marca conta atualmente com 9 SKUs, entre os clássicos (meio amargo, branco, dark e mini), crocantes (avelã, paçoca e leite em pó) e os novos sabores licenciados da Nestlé.
Com o crescimento das vendas,especialmente em São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo, a Odara já opera com 80% da capacidade e estuda adotar um terceiro turno.
Além disso, uma máquina dosadora argentina, considerada peça-chave na produção, foi recentemente restaurada. O equipamento havia sido comprado por 150 mil dólares e exigiu mais 300 mil reais para ser recuperado.
“Ela volta agora em junho ou julho. É um símbolo da nossa superação. Com ela, a gente melhora produtividade e eficiência”, afirma Scheid.
Apesar do bom momento, a empresa descarta internacionalizar a operação por enquanto.
“Já recebemos sondagens de distribuidores na Argentina e Uruguai, mas o Brasil ainda tem muito espaço. Nosso foco é seguir crescendo aqui”, diz Kaplan.
A meta para 2025 é ambiciosa: alcançar, pela primeira vez, 30 milhões de reais em faturamento — um crescimento de 45% sobre os 21 milhões de 2024.
“A gente acredita que o alfajor ainda tem muito espaço para crescer no Brasil. Estamos ajudando a criar esse mercado”, afirma.