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O elo perdido: Por que as empresas brasileiras lutam para acompanhar o ritmo da nova Geração?

Em artigo, Alexandre Abreu, fundador da consultoria de RH TalentFlix, argumenta que as empresas vão precisar de novas ferramentas para lidar com jovens profissionais

Totalmente digitalizada, “Geração Z” é a que mais investiu e arriscou na pandemia (Thinkstock/Thinkstock)

Totalmente digitalizada, “Geração Z” é a que mais investiu e arriscou na pandemia (Thinkstock/Thinkstock)

Alexandre Abreu
Alexandre Abreu

Co-fundador e CEO da Talentflix

Publicado em 17 de junho de 2025 às 18h05.

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Há alguns anos, a gestão de pessoas era, em grande medida, um exercício de controle e previsibilidade. As regras do jogo eram claras, mas o tempo passou, o mundo mudou, e o mercado de trabalho brasileiro entrou em um novo e complexo território: o das incertezas geracionais.

Hoje, o desafio é mais profundo do que simplesmente gerir múltiplas gerações. Estamos diante de um dilema silencioso: como integrar a Geração Z em um modelo corporativo que ainda opera com lógicas do passado?

Essa nova geração, nascida entre 1997 e 2010, não busca apenas um bom salário. Pesquisas como a "Global Gen Z and Millennial Survey" da Deloitte mostram que, para eles, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é o principal fator na escolha de um empregador.

O mesmo estudo aponta que quase metade da Geração Z (46%) se sente estressada ou ansiosa no trabalho na maior parte do tempo. Eles trazem um novo olhar sobre a carreira, onde o trabalho precisa ter propósito, respeitar os limites da saúde mental e garantir autonomia.

Turnover nas alturas

Não é um capricho: cerca de 9 em cada 10 jovens da Geração Z consideram o senso de propósito importante para sua satisfação e bem-estar no trabalho.

Enquanto isso, muitas empresas brasileiras permanecem presas a estruturas rígidas. O resultado é um impasse silencioso, mas com custos concretos.

A dificuldade em atrair e reter esses talentos deixou de ser um desafio exclusivo do RH para se tornar uma questão estratégica central. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) indicam que o Brasil possui uma das maiores taxas de turnover do mundo.

Estudos de consultorias especializadas estimam que o custo para substituir um funcionário pode variar de 50% a mais de 200% do seu salário anual, dependendo do cargo.

Some-se a isso o custo do baixo engajamento que, segundo o Instituto Gallup, representa 9% do PIB global em perdas de produtividade.

A resistência das empresas, no entanto, é mais complexa do que parece. Não se trata apenas de teimosia. Pense no diretor que construiu sua carreira com base na presença no escritório. Ele foi treinado para controlar, planejar e entregar.

Pedir que ele agora lide com base na confiança e vulnerabilidade é pedir que desconstrua a própria identidade profissional que o levou ao sucesso.

O modelo híbrido, por exemplo, já é uma realidade para 86% das empresas no Brasil, segundo a consultoria JLL, mas a mentalidade de gestão muitas vezes não acompanhou essa mudança estrutural.

Mudar dói. Exige rever métricas, recompensas e, sobretudo, ter a coragem de sair da zona de conforto. Mas há um caminho possível, e ele começa quando a liderança deixa de ver a Geração Z como um problema e passa a enxergá-la como um convite à transformação.

Talvez nunca tenhamos tido uma chance tão rica de promover trocas verdadeiras entre quem construiu o mercado e quem vai reinventá-lo.

No fim, o maior risco para uma empresa hoje não é perder talentos. É perder a relevância. Integrar a nova geração não é sobre ceder, é sobre evoluir.

A organização que estiver disposta a escutar, adaptar e construir o futuro em conjunto com seus novos talentos estará sempre um passo à frente, pronta não apenas para sobreviver, mas para prosperar.

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